Atingidos se mobilizam em todo o Brasil em defesa da Amazônia

Neste 05 de setembro, diversas ações foram realizadas pelo MAB em defesa da Amazônia, denunciando o modelo econômico predador que desrespeita territórios, biomas e povos tradicionais e ameaça a soberania popular

Em todo o Brasil, atingidos saíram às ruas para lutar em defesa da Amazônia e da soberania popular. Foto: Klézi Martins / MAB

Chegamos em mais um 05 de setembro com a certeza cada vez mais unânime de que não é possível dissociar a crise climática do modelo energético e de desenvolvimento imposto ao Brasil. Os mesmos interesses que destroem a Amazônia são os que privatizam a água e a energia, garantindo lucros exorbitantes para poucos, enquanto ameaçam a soberania dos povos sobre seus territórios.

Neste Dia da Amazônia, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) compreende que a luta pela proteção ambiental é inseparável da luta por um projeto popular de nação, onde os bens naturais e energéticos estejam a serviço do povo brasileiro, e não sob o controle do mercado e de especuladores internacionais. Iury Paulino, da Coordenação Nacional do MAB, explica que não é possível levar adiante uma discussão sobre soberania sem considerar a Amazônia, seus povos e o território.

“A defesa da Amazônia é a defesa da vida e da soberania do Brasil. A Amazônia tem um papel extremamente importante em todos os aspectos para o país, mas também um papel simbólico que representa a resistência dos nossos povos. Por isso, pensar soberania e não pensar em território protegido, demarcação de terras indígena e de comunidades tradicionais, é pensar a soberania de forma incompleta, que não serve ao povo brasileiro ”, analisa Paulino.

Em todo o território brasileiro, atingidos e atingidas por barragens e por eventos extremos, pautaram a preservação da Amazônia e a defesa da soberania nacional e popular. Em Brasília, ainda na quinta-feira (04), a tarde iniciou com Sessão Solene em Homenagem ao Dia da Amazônia no Plenário da Câmara dos Deputados, que para Elisa Estronioli, integrante da coordenação nacional do MAB, “teve a dimensão simbólica em que o plenário daquela casa, palco de tantos retrocessos e ataques à democracia, foi ocupado pelos povos da Amazônia”.

Na capital federal, o ato seguiu ocupando a Esplanada dos Ministérios, para reafirmar que “sem a Amazônia não há soberania” e alertar para o fim imediato da exploração predatória e da violência contra os povos tradicionais, além da urgência no reconhecimento e proteção dos territórios.

Nos territórios amazônicos, defesa da pauta e conscientização

No Dia da Amazônia, denunciamos que a maior floresta tropical do mundo segue sendo vítima de um projeto de morte e espoliação comandado pelo grande capital. Enquanto corporações nacionais e internacionais avançam sobre nossos territórios, incentivadas por um modelo extrativista que privilegia o lucro acima da vida, testemunhamos a destruição acelerada da biodiversidade. Essa devastação não é um acidente, mas um cálculo econômico que ignora o fato de que a floresta em pé é fundamental para a regulação do clima em todo o planeta. A mesma lógica que promove queimadas, desmatamento e contaminação das águas, é a responsável por intensificar a crise climática, gerando secas históricas, enchentes devastadoras e eventos extremos que atingem – primeiro e com mais força – as populações mais vulneráveis.

“A Amazônia tem um papel central na regulação do clima e das chuvas em todo o território brasileiro e outras partes da América do Sul, através da dinâmica dos rios voadores. Com o avanço da devastação, aliado às mudanças climáticas, a floresta vai perdendo esse papel e se tornando mais seca. As mudanças climáticas também causam isso: foi o que vimos no ano passado, com os rios virando imensos desertos de areia e os incêndios se espalhando pelas matas. Com isso, os povos da floresta sofrem, mas sofre também todo o povo brasileiro, em especial aqueles mais vulneráveis a desastres como as enchentes, mas também com a ameaça à escassez de alimentos, por exemplo”, pontua Elisa Estronioli.

Audiência pública em Porto Velho (RO) reuniu atingidos para exigir reparação urgente. Foto: Pablo Henrique / MAB

Em Porto Velho (RO), o dia começou cedo com a Audiência Pública no Sindicato dos Urbanitários do Estado de Rondônia (SINDUR). Com a presença do Defensor Público Federal da Defensoria Pública da União (DPU/RO), Thiago Mioto, o encontro discutiu a recomendação pública de disponibilização de água potável e cestas de alimentos para as comunidades atingidas pela seca de 2024. A recomendação culminou na Ação Civil Pública (ACP) movida contra o município, estado e união, visando uma série de medidas para estruturação das comunidades. E mesmo após quase 1 ano, e várias petições protocoladas, os prazos ainda não foram cumpridos.

Durante a audiência, o MAB ainda iniciou a discussão sobre a Concessão do Rio Madeira, processo instaurado com a seca, que tem como objetivo a privatização para passagem de grandes embarcações como as balsas de grãos de soja, com contrato inicial de 12 anos de concessão.

A atividade também contou com a Urna do Plebiscito Popular para votos: Pelo fim da escala 6×1, taxação dos super ricos, redução da jornada de trabalho sem reduzir salários e por soberania nacional!

Em Belém, ação do MAB distribuiu mudas à comunidade para alertar sobre a preservação ambiental. Foto: Jordana Ayres / MAB

No Pará, o MAB realizou em Belém uma ação de visibilidade no bairro do Guamá, em frente ao portão 1 da Universidade Federal do Pará (UFPA). A atividade distribuiu à comunidade mudas de árvores nativas, como um gesto simbólico e prático de cuidado com a floresta, de afirmação da vida e de resistência popular diante das ameaças que os povos amazônidas enfrentam cotidianamente. Ao dialogar com estudantes, trabalhadores e moradores, o MAB reforçou que plantar é também um ato político: semear esperança, defender os rios e lembrar que a Amazônia não está à venda. Essa ação buscou despertar a consciência coletiva de que a luta em defesa da floresta passa, necessariamente, pela luta em defesa de seus povos, seus territórios e seus modos de vida.

O Brasil inteiro em defesa da Amazônia

Também na quinta-feira (04), em Coronel Vivida (PR), aconteceu a Jornada de Lutas em Defesa da Amazônia e por Direitos, com 250 pessoas, entre atingidos por barragens, entidades, organizações parceiras e representantes do Governo Federal.

A atividade celebrou uma parceria entre MAB, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), para fortalecer a produção de alimentos junto às famílias atingidas por barragens nos três estados da Região Sul. A ação fortalece a unidade da classe trabalhadora e avança concretamente na conquistas por direitos e dignidade à agricultura familiar.

Em outros estados por todo o país foram realizadas ações para marcar o Dia da Amazônia, como em Araçuaí e São Joaquim de Bicas, ambos em Minas Gerais, Macapá (AP) e em Manaus (AM).

Reafirmamos, neste dia 05 e nas proximidades do 07 de setembro, que defender a Amazônia é lutar pela soberania nacional e popular. Soberania nacional é o direito de decidir, coletivamente, o destino de nossos bens comuns, rompendo com a submissão aos mercados globais predatórios. Soberania popular é garantir que as comunidades tradicionais, indígenas, ribeirinhas e camponesas – que historicamente protegem a floresta – tenham o poder de decidir sobre seus territórios. 

Nas vésperas da COP 30, em Belém, anunciamos que seguiremos de setembro a novembro em luta, rumo à Cúpula dos Povos e ao IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática. Nestes dias de lutas, nos somamos na resistência por um Brasil soberano, justo e livre, onde o povo tenha o controle de seus territórios e de seu futuro.

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