Exposição de Arpilleras fica em cartaz no MASP até o próximo dia 03 de agosto

Exposição “Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos” reúne 34 obras de atingidas de todas as regiões do país

Obras da mostra denunciam violações de direitos sofridas pelas mulheres do MAB. Foto: Pedro Salvador / MAB

Ainda dá tempo de visitar a mostra do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB ) no MASP, uma das maiores instituições de arte da América Latina. Até o próximo dia 03 de agosto, é possível conferir a exposição inteiramente dedicada às Arpilleras do Coletivo de Mulheres do Movimento, que está em cartaz desde o mês de abril. Ao todo, 34 obras integram a mostra que faz parte de uma série de exposições relacionadas às “Histórias da Ecologia”, tema central do MASP em 2025. A iniciativa reúne exposições, cursos, palestras e oficinas que exploram a crise climática e a relação entre o ser humano e o meio ambiente por meio da arte.

Durante o período da exposição no MASP, também foram realizadas oficinas para compartilhar as técnicas utilizadas pelas mulheres na produção das obras e sensibilizar o público sobre as causas e lutas do Movimento.

Sobre as Arpilleras

Arpillera é o nome em espanhol para uma linguagem têxtil que surgiu no Chile, no final dos anos 1960. Durante o regime ditatorial de Augusto Pinochet, essa prática se tornou uma forma de denunciar as violações dos direitos humanos, além de configurar uma importante expressão cultural politicamente engajada e de protagonismo feminino.

Em espanhol, “arpillera” significa “juta”, o nome da fibra têxtil que recebe os bordados que narram histórias de vida, luta e resistência das autoras e seus contextos. A produção chilena inspirou diversas mulheres e movimentos sociais ao redor do mundo.

Arpillera Tratores Famintos (BA). Foto: Comunicação MAB

No Brasil, essa forma de expressão inspirou o Coletivo de Mulheres do MAB, que luta pelos direitos das pessoas atingidas, reivindica um Projeto Energético Popular e uma transformação social estrutural. Os trabalhos expostos no MAB foram produzidos entre 2013 e 2024, por mulheres que se reúnem em oficinas organizadas pelo MAB, em todo o território nacional. Através dessa expressão artística e política, as mulheres costuram e bordam denúncias sobre as violações dos Direitos Humanos relacionadas à operação de barragens, que incluem deslocamento forçado, destruição de modos de vida, degradação ambiental, precarização econômica e grandes danos dos empreendimentos à saúde coletiva. As mulheres também tratam de impactos relacionados às mudanças climáticas, como resultado de um modelo econômico predatório.

“Usamos a arte para expressar nossas reivindicações e retratar realidades marcadas pela opressão e exploração no modelo capitalista, patriarcal, e agravadas pelas mudanças climáticas e pelo modelo energético”, afirma Daiane Höhn, que integra a coordenação do MAB. Ela explica que a luta das mulheres sempre foi central no Movimento.

“Em 2013, introduzimos a produção de Arpilleras como parte do nosso trabalho com as mulheres. Essas peças, feitas por mulheres de 20 estados, simbolizam resistência e organização popular. A arte têxtil não é apenas arte; é nossa voz. E por isso, a produção é sempre coletiva, refletindo nossa organização nacional e popular”, afirma.

Para a curadora do MASP, Isabella Rjeille, essa autoria coletiva, fruto da organização popular, traduz a grande força das obras. “As oficinas de arpillaria são capazes de reunir e organizar politicamente e socialmente mulheres de diversas partes do Brasil, proporcionando um espaço seguro para que elas possam compartilhar e elaborar suas experiências, além de fornecer materiais para que elas possam narrar suas próprias histórias. As Arpilleras também atravessam barreiras e levam movimentos sociais para outros espaços, como um museu, por exemplo, ampliando discussões e envolvendo novos públicos”, afirma.

Catálogo 

Foto: Vitori Jumapili / MAB
Foto: Vitori Jumapili / MAB

Na ocasião da abertura da mostra, foi publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, composto por imagens e ensaios de autores fundamentais para o estudo da obra e luta do MAB. A publicação tem organização de Isabella Rjeille, curadora do MASP, e Glaucea Helena de Britto, curadora assistente do MASP, e textos de Roberta Bacic, Monise Vieira Busquets e Carolina Caycedo. Além de uma entrevista com Daiane Höhn, Esther Vital e Louise Löbler. O catálogo conta com a reprodução de 47 Arpilleras produzidas pelo coletivo e textos que contextualizam cada peça.

Serviço

Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos
Curadoria: Glaucea Helena de Britto e Isabella Rjeille.
Período: 11/04 a 03/08/2025
Local: Mezanino, 1º subsolo, Edifício Lina Bo Bardi MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo (SP).

Horários: 
Terça (grátis): das 10h às 22h (entrada até as 21h).
Quarta e quinta: das 10h às 18h (entrada até às 17h).
Sexta: das 10h às 22h (entrada até as 21h, com gratuidade a partir das 18h – 22h).
Sábado: das 10h às 22h (entrada até às 21h).
Domingo: das 10h às 18h (entrada até as 17h).
SEGUNDA: fechado.

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