Está oficialmente aberta a exposição “Arpilleiras: bordando a resistência”, no congresso nacional, em Brasília

Nesta quarta-feira (11), um ato político-cultural abriu oficialmente a exposição “Arpilleras: bordando a resistência”, no plenário “Freitas Nobre” do anexo IV da Câmara dos Deputados, em Brasília – DF. por […]

Nesta quarta-feira (11), um ato político-cultural abriu oficialmente a exposição “Arpilleras: bordando a resistência”, no plenário “Freitas Nobre” do anexo IV da Câmara dos Deputados, em Brasília – DF.

por Leonardo Fernandes, do Coletivo de Comunicação do MAB

A exposição tem por objetivo denunciar o crime das empresas mineradoras Samarco, BHP Billitton e Vale, a partir do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana e do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, que atingiu a extensão das bacias do Rio Doce e do Rio Paraopeba, chegando ao São Francisco. Nessa edição, 14 peças do acervo do MAB são expostas e trazem de maneira artística, criativa e contundente, os testemunhos das violações sofridas.

No ato de abertura participaram a jurista e procuradora dos direitos do cidadão, do Ministério Público Federal (MPF), Débora Duprat, a Reverenda Tatiana Ribeiro, representando a Igreja Episcopal Anglicana de Brasília e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, Rosângela Piovesani, do Movimento de Mulheres Camponesas – MMC, além da representante do MAB, Tchenna Maso, e da deputada federal Érika Kokay (PT), que apoiou a realização da mostra.

A deputada federal que viabilizou o espaço para a exposição no Congresso, Érika Kokay (PT/DF) deu início do ato saudando os mais de 40 atingidos e atingidas da bacia do rio Paraopeba que foram a Brasília acompanhar o começo da exposição.

“Bem-vindos e bem-vindas a esta casa… Queria começar dizendo que a gente borda as resistências de várias formas. As mãos que vão bordando os fios e desenhando a nossa realidade, e contando a nossa história… Esse aqui é um ato de resistência, pois a luta do MAB está entre as grandes e mais bonitas lutas do povo brasileiro. Por isso é uma satisfação muito grande a parceria com esse movimento”.

Tchenna Maso, do Coletivo de Mulheres do MAB explica que por trás da beleza de uma arpillera, existe todo um processo de formação e identificação das mulheres em coletivo para denunciar a situação vivida nos seus territórios.

“A gente entende que as arpilleiras são uma metodologia de educação popular feminista latino-americana, porque elas vêm do movimento político do Chile para denunciar os crimes da ditadura. Só que a gente utilizou isso de maneira coletiva. Então o ato de bordar é o ato de dar visibilidade a esses sujeitos políticos. E quando as mulheres se visualizam uma arpilleira, visualizam também todos esses problemas estruturais da sociedade, desde o tema da energia ao rompimento de barragem. A arpillera acaba sendo um testemunho vivo de uma série de violações de modelo energético brasileiro, extremamente desigual”, disse.

Maso também destacou a ousadia e coragem das mulheres atingidas de ocuparem com arte os corredores da Câmara dos Deputados, um espaço que sempre esteve negado às lutadoras populares e defensoras dos direitos humanos. 

“Para nós é um jeito sutil de chegar, de colocar a beleza desse projeto diante dos parlamentares, muitos deles que têm negado debater as pautas do MAB, como a Política Nacional dos Atingidos por Barragens ou o modelo energético popular. Esses parlamentares vão ter que conviver por pelo menos 15 dias com essa exposição. E mesmo que eles não vejam, os servidores da cada estão vendo e conhecendo um pouco mais da realidade das mulheres atingidas”, concluiu.

A representante do MMC, Rosângela Piovesani saudou o trabalho das mulheres atingidas na construção da mostra. “Essa exposição é fruto de uma luta muito grande, e de um resgate, através do bordado, da memória das lutadoras e lutadores do povo. E é fundamental que essa exposição venha até o Congresso, um lugar árido e insensível. E é uma forma de denunciar o que as empresas fazem nos nossos territórios e dizer que vamos reagir”.

A reverenda Tatiana Ribeiro fez uma fala embargada pela emoção de acessar as histórias de luta das mulheres atingidas a partir da exposição em Brasília. E fez um chamado à verdadeira fé.

“O que vem primeiro na minha mente é o perdão. Porque com certeza não é esse [o modelo energético e de mineração] que Deus quer para os seus filhos. Por isso, o meu respeito pela luta de cada uma de vocês. Quando vocês lutam, todas as pessoas são beneficiadas por essa luta. E nós precisamos contar as nossas histórias, para que elas inspirem outras pessoas a lutar, para que outras vidas não sejam caladas, para que os direitos não sejam negados. O meu profundo respeito à história de cada uma de vocês”.

A procuradora Débora Duprat, relembrou sua história com as populações atingidas por barragens na defesa da dignidade humana e da vida. “Eu conheci o MAB na beira de um rio. E mais uma vez, é a história de um rio que me traz aqui. As muitas histórias bordadas nessas arpilleras contam as histórias de luta e resistência das atingidas por barragens e por isso tão importante essa exposição”.

Contexto

As “arpilleras” são uma técnica de contação de histórias a partir da arte do bordado. Foi inventada pelas mulheres chilenas para contar as histórias de dor e luta durante o período da ditadura militar no Chile.

No Brasil, o Movimento de Atingidos por Barragens – MAB – vem fazendo um trabalho de formação de mulheres e produção de arpilleras para contar suas histórias de luta e fazer a denúncia sobre a violação dos seus direitos. Somente em Minas Gerais, mais de 600 mulheres estão envolvidas no processo de criação das arpilleras, e mais de 50 peças já foram produzidas no estado.

A mostra está em exposição desde a segunda-feira (9), e vai até o dia 20 de março, com visitação gratuita das 9h às 17h.

 

 

Fotos: Leonardo Fernandes/MAB

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