Atingidos trocam experiências na luta contra transnacionais

Junto a outras 1500 organizações e movimentos de todo o mundo, atingidos e atingidas por barragens participam do Fórum Social Mundial 2018, que ocorre em Salvador entre os dias 13 […]

Junto a outras 1500 organizações e movimentos de todo o mundo, atingidos e atingidas por barragens participam do Fórum Social Mundial 2018, que ocorre em Salvador entre os dias 13 e 17 de março. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organiza quatro atividades durante o Fórum, com debate sobre as hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, na Amazônia, e os casos de luta em defesa da água na Bacia do Rio Doce (MG) e em Correntina (BA).

Foi realizada nessa terça-feira a primeira oficina do MAB no FSM 2018, às 14h no Campus Canela, da UFBA, em Salvador. Em diálogo com o tema do evento, “Resistir é Criar, Resistir é Transformar”, representantes de quatro diferentes países trocaram experiência de luta e resistência contra transnacionais e seus grandes projetos hidrelétricos.

Milhares participam da marcha de abertura do Fórum pelas ruas de Salvador

“Estamos sofrendo um conjunto de golpes imposto por transnacionais que buscam escapar de suas crises, mas sabemos que não é possível. O atual modelo de organização da sociedade, esse modelo econômico está fadado ao fracasso já que o Capitalismo faz sugar ao máximo os recursos para obter o maior lucro possível. E estes recursos são findáveis”, denuncia Joceli Andrioli, do MAB.

Ele explica que no Brasil atuam principalmente transnacionais de diversas origens, buscando lucro para seus sócios e acionistas às custas das terras e população. Há pouco mais de dois anos, o caso da lama da Samarco, como ficou conhecido, espantou todo o mundo, após ter sua barragens de rejeitos rompida e contaminado toda a Bacio do Rio Doce, em Minas Gerais, além de causar um passivo social irreparável. A Samarco é uma mineradora controlada pela Vale S.A., multinacional, e a anglo-australiana BHP Billiton.

Outro caso denunciado pelo MAB é a construção e operação da Barragem de Belo Monte, de propriedade da Norte Energia. Elisa Estronioli, militante do MAB na região, denuncia os impactos destas violações para a população que está na ponta desse modelo econômico.

O município de Altamira é atualmente considerado o mais violento de todo o país, legado da barragem, segundo Elisa. “São quase 50 mil atingidos vivendo em bairro planejados pela empresa sem estrutura nenhuma do Estado. As mães estão vendo seus filhos morrerem sem explicação, enquanto isso a barragem gera energia e lucro que chega até os acionistas mas não para os atingidos”, desabafa.

Elisa explica que a nova onda de privatizações no Brasil, com o governo golpista de Michel Temer, aponta um futuro ainda mais sombrio para os atingidos, que no futuro contarão menos com a participação do Estado nos grandes empreendimentos, sendo relegados ao embate direto com as transacionais. “O capital está se reestruturando criando novas estratégias e vai voltar com ainda mais violência”, prevê.

A privatização já é realidade no México, segundo Rosalinda Hidalgo, do Movimiento de Afectados por Represas (MAR). Ela afirma que se criou uma falsa crise energética no país, com a falência da principal empresa estatal de energia, para justificar a privatização do setores elétrico e petroleiro. Atualmente, o país recebe um número infindável de projetos de gasoduto de petróleo e gás natural que causam violações sociais e ambientais por onde passam.

Após grande movimentação popular contra estas ações, a ofensiva contra as lutas foi grande. “Apesar de toda a violência, os movimentos finalmente recomeçam a se organizar, principalmente com a luta dos professores contra a reforma da educação. Diferentes movimentos em defesa das águas e terra já caminham para se unir aos professores e logo devemos ter uma luta forte e com diferentes vozes no México”, confia a militante.

O ativista francês Simon Palyout afirma que é preciso fazer a denúncia pública dos casos de violação de Direitos Humanos praticados por estas transacionais também em seus países de origem. Ele acredita que o discurso de responsabilidade social e ambiental costumeiramente usada por estas empresas é derrubado a partir destas denúncias, chegando à possibilidade de perda da popularidade e até mesmo de investidores.

Cerca de dez organizações se reúnem em um Grupo de Trabalho que têm apresentado experiências vitoriosas na realização destas denúncias. Com profissionais especializados, eles cumprem o papel de fiscalizar, denunciar publicamente e quando preciso processar as transacionais.

Simon conta ainda que em seu país, foi criada em 2016 um lei sobre dever de vigilância das transnacionais, como plano de prevenção de possíveis atos de violações. “Conseguimos apontar casos concretos como uso de trabalho escravo e outros. Essa lei é como uma luz de esperança, mas só podemos fazer isso juntos, todo o continente e todo o mundo”, anima-se.

Izaro de Arenaza, da organização do País Basco “Ecologistas em Marcha”, destacou que na Europa há pouca disponibilidade de recursos estratégicos, o que intensifica a busca das empresas por tais recursos nos países do hemisfério sul. “Se vê claramente que onde há gás natural na Europa há conflitos”. Ele falou com preocupação do ascenso da extrema-direita no continente, mas ressaltou a crescente municipalização dos serviços de água e energia e a produção de energia renoável como boas experiências.

A militante do MAB Andrea Neiva reforça. “Em todos os países estão aqui ouvimos os mesmos casos, os mesmo problemas e violações, e vemos ainda as mesmas empresas transacionais. Está claro que temos que fazer a luta e resistência juntos, somente unidos em todo o mundo conseguimos garantir nossos direitos”. Para Andrea, é fundamental entendermos que qualquer tecnologia de energia, mesmo as sustentáveis, vai causar as mesmas violações se o controle seguir nas mãos destas transacionais, por isso afirma que é preciso lutar pela apropriação dessa energia nas mãos dos trabalhadores.

O FSM conta ainda com representares de organizações e entidades de países como Canadá, Marrocos, Finlândia, França, Alemanha, Tunísia, Guiné, Senegal, assim como também de países sul-americanos e representações nacionais. Estão confirmadas as participações do ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do Brasil, Fernando Lugo, do Paraguai, e José Mujica, do Uruguai.

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