Arpilleras estreia no Rio de Janeiro
Documentário retrata a história de mulheres atingidas por barragens que se utilizam de uma técnica de bordado para contar suas experiências de dor e resistência Me desculpem as palavras, não […]
Publicado 30/08/2017
Documentário retrata a história de mulheres atingidas por barragens que se utilizam de uma técnica de bordado para contar suas experiências de dor e resistência
Me desculpem as palavras, não sei falar no microfone. Essa é a primeira vez que eu entro em um cinema. Em sua primeira ida a uma sala de exibição, Simone Silva já pôde assistir a um filme protagonizado por si mesma. A atingida pelo rompimento da barragem da Samarco esteve ao lado da cearense Marina Calisto, impactada pela barragem do Castanhão, na pré-estreia do longa-metragem Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência.
Ambas discurssaram no encerramento da sessão que reuniu centenas de convidados nesta terça-feira (29), no Cine Odeon Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, localizado no Centro do Rio de Janeiro (RJ). É um dia histórico para todas as mulheres atingidas por barragens do Brasil, responsáveis por um longo processo coletivo que culminou nesta obra, afirmou Marina.
Elas recordaram o início do trabalho do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), produtor do filme, com as arpilleras. Em 2013, a organização resgatou essa técnica de bordado que ficou mundialmente conhecida após a ditadura militar chilena, quando as mulheres bordaram denúncias contra a repressão e os desaparecimentos políticos. Desde então, foram mais de 200 oficinas auto-organizadas por atingidas em diversos estados brasileiros.
A partir da experiência de nossas irmãs chilenas, que subverteram o papel da costura e a transformou numa ferramenta poderosa de denúncia, nós conseguimos transformar as arpilleras numa metodologia de trabalho de base feminista e popular, contou Marina.
A partir dessa estreia, o MAB pretende levar o filme para outras regiões do Brasil, com sessões em cinemas e nas comunidades atingidas. Em São Paulo, o lançamento está previsto para ocorrer em outubro no Cine Belas Artes.
Sinopse
Financiado por meio da plataforma de financiamento coletivo Catarse no ano de 2015, o filme Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência entelaça a história individual e coletiva de dez mulheres espalhadas pelas cinco regiões do Brasil.
A partir da experiência de cada personagem, a narrativa aborda a problemática da hidrelétrica de Belo Monte, que atingiu aproximadamente 40 mil pessoas em Altamira (PA); a barragem de rejeitos de Fundão, que se rompeu em novembro de 2015 e causou a morte de 19 pessoas em Mariana (MG); a barragem do Castanhão, que canaliza água para a região metropolitana de Fortaleza (CE); a hidrelétrica de Itá (RS), idealizada no período da ditadura militar; e as hidrelétricas de Cana Brava e Serra da Mesa, localizadas em Goiás.
O fio condutor do documentário fica por conta do bordado. Ao longo do filme, as personagens bordam uma arpillera com o contorno do mapa do Brasil, que as une de Norte á Sul do país, criando um mosaico multifacetado de histórias de luta e resistência que se completam. São mulheres que perderam suas casas e memórias alagadas pelos lagos das barragens, mas não desistiram de lutar e se organizar.