No PR, reintegração de posse na UHE Baixo Iguaçu termina com atingidos presos e feridos
Durante reitegração de posse, Batalhão de Choque da PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha Informações do Brasil de Fato PR No fim da tarde desta quinta-feira […]
Publicado 09/09/2016
Durante reitegração de posse, Batalhão de Choque da PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha
Informações do Brasil de Fato PR
No fim da tarde desta quinta-feira (8), o Batalhão de Choque da Polícia Militar do Paraná prendeu e feriu famílias atingidas por barragens no município de Capanema, Sudoeste do estado, durante a execução de uma reintegração de posse. Cerca de 150 famílias ocupavam a entrada do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu desde segunda-feira (5), que estava com as obras paralisadas desde então. A reintegração foi emitida pela juíza da Vara da Fazenda Pública, Roseana Assumpção, no mesmo dia da ocupação.
Os 80 policiais presentes na operação lançaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha sobre os ocupantes, apesar de haver idosos e crianças no local. Segundo informações do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), há pessoas feridas por balas de borracha e algumas foram hospitalizadas. Não há confirmação do número de feridos.
Três agricultores foram presos e levados para o 21º Batalhão da Polícia Militar de Capanema. De acordo com o advogado das famílias, Nilceu Natalino Cavalheiro, os três são acusados de desobediência, mas devem ser soltos ainda nesta noite. Eles assinaram um Termo Circunstanciado e precisaram comparecer em juízo.
“A minha mãe torceu o pé e passou mal, eu voltei para ajudar e me prenderam”, relata um dos presos, Vilmar Locatelli. Ele estava acampado desde segunda-feira com a esposa e os três filhos – de 2, 7 e 16 anos – desde segunda-feira, que não estavam no local no momento do despejo porque haviam retornado ao sítio onde moram para alimentar a criação e ordenhar vacas. “Nós só estamos tentando garantir o nosso direito. Até agora nós não temos áreas de reassentamento, nem termo de acordo, não tem nada”, desabafa o agricultor que, junto com a família, participa da resistência desde o início das obras da barragem, há três anos e meio.
Reivindicação
O integrante da coordenação MAB, Rodrigo Zancanaro, explica que a ocupação das obras teve por objetivo cobrar o avanço das negociações com a empresa NeoEnergia, responsável pela construção da Usina, e com o governo do estado. Segundo Zancanaro, a empresa não compareceu às últimas três reuniões de negociação com as famílias. Cerca de 60% da obra está construída e até agora não tem nada de concreto do que vai ser das famílias depois do alagamento da área. o governo do estado que cedeu o licenciamento também não se posiciona”, denuncia.
Os agricultores cobram definição de local de reassentamento, indicação do valor que será pago pelas suas terras, e apresentação de Plano de Desenvolvimento e Plano Urbanístico para os afetados que vivem em área mais próxima à cidade. Ao todo, 1025 famílias serão atingidas diretamente pela obra.
Em maio deste ano, a PM chegou a prender 12 atingidos por barragens que ocupavam o conteiro de obras, com as mesmas pautas.
O grupo responsável pela obra, ironicamente denominado Consórcio Geração Céu Azul, é formado pela Companhia Paranaense de Energia (Copel) e, majoritariamente, pela corporação Neoenergia, do Fundo de Previdência do Banco do Brasil (Previ), do Banco do Brasil e da multinacional espanhola Iberdrola. E as obras de construção da usina são de responsabilidade da Oderbrecht. Mas o desrespeito e a violência usados contra os moradores são gerados na mesma fonte.
A multinacional é uma das cinco maiores companhias elétricas do mundo, com presença em 40 países, principalmente Reino Unido, Estados Unidos, Brasil e México. Em 2010, produziu 154.073 GWh de eletricidade em escala mundial, o que representa cerca de 30% da produção nacional de eletricidade no mesmo ano, de 509.200 GWh. A partir dos anos 90, a empresa intensificou a internacionalização dos seus negócios, principalmente na América Latina, onde comprou diversas estatais.
No Brasil, a multinacional chegou em 1997, quando adquiriu, junto com o Previ, o Consórcio Guaraniana, no nordeste do país. Passada uma década e meia, domina a distribuição deenergia elétrica a 11 milhões e meio de pessoas, através da Coelba (Bahia), Cosern (Rio Grande do Norte), Celpe (Pernambuco) e Elektro (São Paulo), antigas estatais. Cerca de dois terços das distribuidoras de energia são hoje privatizadas no país.
O preço da energia elétrica no Brasil aumentou cerca de 400%, desde o início das privatizações. Embora nossa matriz energética (cerca 80%) esteja baseada na hidroeletricidade, a forma mais barata de gerar energia, o consumidor brasileiro paga uma das dez tarifas de eletricidade mais caras do mundo embora, no exterior, a energia seja predominantemente originária de termelétricas e usinas nucleares, com elevado custo de produção.