Reafirmar que foi crime, organizar as famílias e exigir os direitos
Os ônibus vão chegando. Trazem uma juventude animada, crianças agitadas e felizes, mães, pais, avós, homens e mulheres trabalhadores e trabalhadoras dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, […]
Publicado 05/09/2016
Os ônibus vão chegando. Trazem uma juventude animada, crianças agitadas e felizes, mães, pais, avós, homens e mulheres trabalhadores e trabalhadoras dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Bahia e das diversas regiões de Minas Gerais e do Espírito Santo onde o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) está organizado, especialmente dos municípios atingidos pela lama da Samarco.
Desde que chegam, todos permanecem chocados diante da destruição total, da visão do que parece o resultado de uma bomba lançada em tempos de guerra. As casas, a Igreja, as ruas, os brinquedos, as fotos e tudo mais o que se pode imaginar misturados a uma lama petrificada que gera uma poeira que incomoda e adoece. As mais de 500 pessoas que estão em Paracatu de Baixo nestes dias 3 e 4 de setembro experimentam a dor dos moradores desta pequena comunidade da cidade de Mariana arrasada pelo crime da Samarco.
Escolhemos este lugar por representar um registro histórico do resultado de um modelo de mineração insano e assassino que somente deixa destruição para esta e as futuras gerações. È um momento importante para trocas de experiências, do reconhecimento da identidade comum entre os atingidos, da necessidade de unificar e fortalecer a luta de todas as famílias, afirma Letícia Faria, membro da coordenação estadual do MAB.
A certeza de que foi crime e a luta unificada pela garantia dos direitos
Para os atingidos reunidos em Mariana, não há dúvida de que o que aconteceu no dia 5 novembro de 2015 foi um crime, a soma da negligência do Estado brasileiro profundamente solidário com empresas corruptas e irresponsáveis: Vale, BHP Billiton e Samarco que colocam o lucro acima da vida.
Essas empresas são parte daqueles que comandam a forma como o capitalismo se comporta, que detêm o poder político e econômico e por isto produzem diariamente tragédias criminosas, comenta Joceli Andrioli, da coordenação nacional do MAB.
Durante o encontro, além de reafirmar esta certeza, os atingidos discutem como as mineradoras manipulam com seu poder político para garantir um acordão que excluiu completamente a participação das famílias atingidas criando uma Fundação sob o seu comando para realizar a reparação.
A transformação dos direitos dos atingidos em mercadoria é um resultado desta manipulação e a imposição de ações paliativas para resolver a vida dos atingidos é uma continuidade deste crime, comenta Joceli.
A conclusão é que é necessário unificar a luta e organização na Bacia. Somente a pressão popular fará com que os governos e as empresas respeitem as famílias e efetivem ações de longo prazo que dê dignidade aos homens e mulheres, aos jovens, as crianças e aos idosos atingidos, conclui.
O Encontro das Lideranças continua suas atividades neste domingo (04) com uma Grande Marcha em direção a Bento Rodrigues que irá denunciar a negação dos direitos dos atingidos com o projeto do dique S4 que pretende alagar a comunidade e destruir um sítio histórico e cultural muito importante para a região, além de destruir memória histórica do crime.
Também é uma preparação para o Encontro do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) que será realizado entre 3 e 5 de novembro de 2016 em Mariana para denunciar um ano de impunidade da SamarcoValeBHP.