Samarco ignora garimpeiros e pescadores atingidos em Rio Doce
Para gerar divisão na comunidade, a empresa escolhe alguns atingidos para receber o auxílio financeiro e pede para que eles não contem sequer para os vizinhos. A outros entrega cesta […]
Publicado 12/08/2016
Para gerar divisão na comunidade, a empresa escolhe alguns atingidos para receber o auxílio financeiro e pede para que eles não contem sequer para os vizinhos. A outros entrega cesta básicas, uma ação degradante e absurda.
Na noite da última quarta-feira (10) garimpeiros e pescadores atingidos pela Samarco nas cidades de Rio Doce realizaram uma assembleia geral organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
São homens e mulheres trabalhadoras que já foram atingidos pelo Consórcio Candonga, na época uma parceria da mineradora Vale e da siderúrgica Novelis, parte do Grupo Aditya Birla, um gigantesco conglomerado multinacional indiano. A Hidrelétrica Risoleta Neves foi inaugurada em agosto de 2005 e deixou um rastro de destruição ambiental e violação de direitos.
Entre eles, o desaparecimento de João Caetano dos Santos, conhecido na região como “Gabundo”. O agricultor de 57 anos desapareceu na madrugada do dia 9 de fevereiro de 2003 dentro do canteiro de obras da barragem. Empresas e autoridades nunca apresentaram explicações satisfatórias sobre o caso e o inquérito policial foi arquivado.
Além disto, Candonga tem o registro da expulsão dos moradores de Soberbo, comunidade alagada pela obra. No dia 03 de maio de 2004, quatorze famílias que resistiam sair de suas casas enquanto não recebessem seus direitos foram expulsas em uma gigantesca operação militar que mobilizou cerca de 200 policiais.
Naquela época, a Vale negou nossos direitos, empobrecendo o povo garimpeiro e pescador, mas ainda deixou o rio. Agora, não temos sequer o rio. A barragem está vazia e suja e nem conseguimos chegar perto daquelas águas, conta Djanira Cardoso, 66 anos, militante do MAB na região.
Com o rompimento, atividades básicas de subsistência foram praticamente extintas e centenas de famílias na pequena cidade de Rio Doce estão sem fonte de trabalho e renda. A Samarco se recusa a reconhecer as famílias e, para gerar divisão na comunidade, escolhe alguns atingidos para receber o auxílio financeiro e pede para que eles não contem sequer para os vizinhos. A outros entrega cesta básicas, uma ação degradante e absurda. Mas, a maioria, simplesmente ignora.
A Samarco Mineração S.A, que é um apelido para a Vale nesta região, tem uma ação nefasta e irresponsável. Por que não entregar o cartão para todos diminuindo um problema social grave que ela piorou e ajudando a economia de uma cidade em crise tão profunda como Rio Doce?, questiona Thiago Alves, membro da coordenação do MAB em Minas Gerais.
O Ministério Público Federal (MPF) já foi acionado e a comunidade está se organizando para garantir pela sua própria força o pagamento do cartão e de outros direitos negados. A assembleia em Rio Doce fez parte do Mutirão de Trabalho de Base que o MAB está fazendo em toda a bacia do Rio Doce entre 7 e 13 de agosto com o objetivo de unificar a luta e a organização em todas as cidades atingidas.