“Acabar com a Lei da Partilha é tirar dinheiro da saúde e educação”

Por: Davi Macedo/Sindipetro PR/SC A importância de manter o petróleo como patrimônio estratégico nacional foi tema de debate na tarde desta segunda-feira (08), no Salão Nobre da Faculdade de Direito […]

Por: Davi Macedo/Sindipetro PR/SC

A importância de manter o petróleo como patrimônio estratégico nacional foi tema de debate na tarde desta segunda-feira (08), no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFPR. A atividade faz parte da programação do Circo da Democracia, um fórum que acontece em Curitiba desde o dia 05 até 15 de agosto e conta com a participação de mais de 100 instituições e entidades da sociedade civil organizada.

O debate acontece em uma conjuntura desfavorável com relação aos interesses nacionalistas, uma vez que a Petrobrás acelerou seu plano de venda de ativos e desinvestimentos no governo interino e golpista de Michel Temer e já negociou US$ 4,5 bilhões em patrimônios da estatal no mercado.

Para o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Zé Maria Rangel, com o golpe de estado e a nomeação de Pedro Parente para a Presidência da Petrobrás, a estatal retornou à rota da privatização e sucateamento, muito similar ao que aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso. “Em 2002 a Petrobrás estava em estado terminal. Quem não se lembra do afundamento da plataforma P-36, dos vazamentos na Bacia de Guanabara e no Rio Barigui? Este era o cenário da Petrobrás naquela época, uma fábrica de más notícias que desgastava sua imagem perante a opinião pública para privatizá-la. Para efeitos de comparação, em 2002 a Petrobrás correspondia por 2% do PIB. Chegamos a 2013 na marca de 13%. Todos os dias a empresa investia R$ 300 milhões em pesquisa de novas tecnologias. A Petrobrás tinha o audacioso plano de ser a quinta maior empresa de energia no mundo”.

Zé Maria ainda falou sobre a descoberta do pré-sal. “A Shell fez perfurações no Campo de Libra, na área do pré-sal, mas foi até determinada profundidade e abandonou as pesquisas. A Petrobrás acreditou e encontrou a megareserva do pré-sal. Quando isso aconteeu estávamos à beira de uma nova rodada de licitações de áreas de petróleo. Lula mandou barrar para rediscutir o marco regulatório e criou a Lei da Partilha, na qual a Petrobrás deve ser operadora exclusiva com pelo menos 30% na produção dos campos e ainda com parte dos recursos destinados à educação e saúde”, afirmou.

Sobre a proposta (PL 4567/2016) em trâmite no Congresso Nacional para acabar com a Lei da Partilha, Zé Maria foi enfático. “Falei na cara do entreguista José Serra que acabar com a Lei da Partilha é tirar dinheiro da saúde e da educação. Por destinar recursos a setores tão importantes, temos construído grandes alianças com os movimentos sociais e os educadores brasileiros, pontas firmes nesta luta por soberania nacional”.

“O pré-sal contém de 200 bilhões a 300 bilhões de barris de petróleo. Em uma conta de padaria, 30% de 200 bilhões são 66 bilhões de barris. O único presidente de empresa petrolífera que não quer 66 bilhões de barris de petróleo em reservas é Pedro Parente. Não conheço nenhum outro. Se não fizermos uma campanha aos moldes do que foi a do petróleo é nosso, o recurso vai voar daqui e nós mais uma vez vamos ficar chupando dedo”, concluiu Zé Maria.

A briga que compramos

O fato de o Brasil ter descoberto o pré-sal e, através da Lei da Partilha, colocar uma empresa estatal na operação dos campos, destinar recursos para áreas sociais como saúde e educação, desenvolver tecnologia e produzir os equipamentos para a exploração em território nacional provocou os interesses estrangeiros, sobretudo dos Estados Unidos. Essa foi a avaliação da petroleira Cibele Vieira, secretária de formação da Confederação Nacional dos Químicos (CNQ/CUT). “Tudo isso, somado ao fato de o país ingressar nos BRICS e discutir uma nova moeda para a comercialização de petróleo, colocou o país no olho do furacão. E ainda tem gente que acredita que não houve golpe no Brasil. Estamos passando pelo tamanho da briga que compramos”, afirmou.

A experiência da Fafen-PR

A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) é o exemplo que desmonta a falácia da eficiência do setor privado. A afirmação é do trabalhador da unidade e diretor de saúde e segurança da FUP, Gerson Castellano. A indústria foi construída em 1981, começou a produzir em 1982 e foi privatizada em 1993. “Nós passamos por um processo muito interessante e educativo. Onze anos após ser colocada em funcionamento, a Fafen foi  privatizada. Houve um movimento de muita resistência, mas não foi suficiente para evitar a venda. Porém, aquele processo de luta colocou regras para a privatização e impediu que outras unidades similares, como a da Bahia e de Sergipe, fossem negociadas”.

De acordo com Castellano, os efeitos da privatização da Fafen-PR foram devastadores. “Sob a gestão privada, a unidade foi totalmente precarizada. Metade dos trabalhadores foram demitidos, aumentaram os riscos de acidentes, práticas antissindicais rotineiramente que chegaram a ser levadas até a OIT. Nesses 20 anos de gestão privada, a oferta de fertilizantes nitrogenados no Brasil não foi aumentada em 1 grama sequer. O Brasil ficou refém das multinacionais de fertilizantes para a agricultura. Hoje o Brasil ainda importa 70% dos fertilizantes nitrogenados para a agricultura e indústrias petrolífera e farmacêutica”, analisou.

Ocupar e resistir

“Não vamos permitir que esse governo interino e golpista acabe com a Petrobrás. Se for preciso, vamos ocupar e resistir”. As palavras foram do presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina, Mário Dal Zot. Sobre o processo de privatização, Mário foi taxativo. “Venda de ativos neste momento da conjuntura mundial do setor petróleo é uma tremenda de uma burrice. Se não for burrice, é safadeza. E eu fico com a segunda opção em se tratando desse governo golpista”.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 08/08/2016

Gestação