Atingidos propõem medidas emergenciais e estruturantes após temporal de granizo em Erechim (RS)

Organizações do campo e MAB se reuniram com o Executivo municipal, para exigir que as ações contemplem tanto agricultores quanto moradores urbanos que perderam suas casas e bens

Entidades da agricultura familiar e MAB estão em diálogo com a Prefeitura para garantir apoio às famílias atingidas no campo e na cidade. Foto: Edson Rosa

Representantes de entidades da agricultura familiar e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) estiveram reunidos com o prefeito de Erechim, Paulo Pólis, nesta quarta-feira (04), para debater medidas emergenciais e estruturantes frente aos graves prejuízos causados pela tempestade de granizo que atingiu o município no fim de novembro. O encontro reforçou a urgência de políticas públicas que garantam condições de reconstrução para agricultores e também para as famílias atingidas no meio urbano.

Os danos registrados no interior do município vão desde a destruição de casas, galpões e instalações produtivas, até o comprometimento de lavouras e sistemas essenciais de geração de renda das famílias agricultoras. Durante a reunião, as entidades apontaram a necessidade de um programa emergencial específico, que vá além da ajuda humanitária momentânea, e assegure a continuidade da produção de alimentos.

O prefeito afirmou que a administração está focada na resposta emergencial neste primeiro período, mas reconheceu a importância de já planejar ações voltadas para o pós-reconstrução, especialmente ligadas à moradia e à recuperação da atividade econômica no campo e na cidade. “De momento, a energia total está na ação emergencial, mas o objetivo é poder trabalhar também em projetos pós-reconstrução, na habitação popular e nas demandas que o evento climático revelou”, afirmou Pólis.

Tatiane Paulino, da Coordenação do MAB, chamou atenção para que os impactos urbanos também precisam ser priorizados.

“Ressaltamos também a necessidade de criar um auxílio para as populações urbanas aos moldes do Auxilio Reconstrução, para apoiar famílias em suas perdas, como móveis, eletrodomésticos e até na mão-de-obra de reforma de suas moradias. Assim como pensar uma política pública de moradia aos moldes do Minha Casa Minha Vida – Faixa 1”.

Para o MAB, o desastre evidenciou que, tanto no campo quanto na cidade, o direito à moradia digna e à segurança não pode ser negado. A solidariedade e a organização dos atingidos têm mostrado que a reconstrução precisa ser coletiva e planejada com participação popular.

A comissão que representa os agricultores apresentou a proposta de criação de um auxílio emergencial às famílias do meio rural afetadas, bem como apoio nas negociações com os governos Estadual e Federal. A comissão e a Prefeitura alinharam a construção de um documento oficial que será encaminhado a ambos os governos, solicitando a instituição de um programa emergencial, no qual o município deverá aportar contrapartida. Ao Governo do Estado, será solicitado o acionamento de recursos do Fundo do Plano Rio Grande (FUNRIGS), fundo estadual criado para reconstrução após eventos climáticos, do qual a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (FETRAF-RS) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) fazem parte.

O vereador Clairton Balen (PT) também participou do diálogo, reforçando que as famílias agricultoras devem ser atendidas com urgência para garantir a continuidade da produção de alimentos, afirmando que “são elas que produzem os alimentos que chegam à mesa das famílias da cidade, e precisamos garantir condições para que continuem produzindo. Além das casas, os agricultores perderam instalações, lavouras e estruturas fundamentais para manter sua atividade.”

Já Alcemir Bagnara, do Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto Uruguai (SUTRAF-AU), destacou que a agricultura familiar não pode ficar invisível neste processo, apontando que os programas disponíveis hoje são insuficientes diante da dimensão dos danos.

O MAB segue atuando na linha de frente junto às comunidades atingidas no campo e na cidade, defendendo que o poder público responda às necessidades reais do povo. As entidades e a Prefeitura permanecerão em diálogo para consolidar levantamentos e garantir recursos que assegurem a retomada da produção no campo, a reconstrução das moradias e a proteção das famílias trabalhadoras de Erechim.

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