Plataforma denuncia privatização e apresenta caminhos para soberania energética no Brasil
Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia apresenta carta-manifesto que denuncia os impactos da financeirização do setor e aponta caminhos para uma transição energética popular e soberana
Publicado 29/10/2025

Nesta segunda-feira (27), a Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia tornou pública uma carta-manifesto em defesa de uma transição energética justa, soberana e popular. O documento, lançado em meio à escalada da crise climática e ao aprofundamento das contradições do modelo capitalista, apresenta uma análise crítica sobre o atual sistema energético e seus impactos sobre trabalhadores, povos atingidos e populações periféricas.
A carta denuncia a privatização da energia como um ataque direto à soberania nacional e aos direitos populares, aponta a financeirização do setor como mecanismo de furto da riqueza coletiva e questiona as chamadas “soluções de mercado” para a crise climática, defendendo que energia não pode ser tratada como mercadoria, mas como bem comum da humanidade.
Ao reafirmar compromissos de luta junto ao povo brasileiro e aos povos do mundo, a Plataforma propõe um caminho baseado na soberania, na distribuição da riqueza e no controle popular, reforçando a necessidade de organização coletiva para enfrentar as forças econômicas e políticas que sustentam a crise climática e social.
“Precisamos fazer uma luta contra à ordem. Nesse momento, estamos entrando na linha estratégica do que pensamos. A tática imediata será uma consequência disso”, disse Luiz Dalla Costa, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Confira a carta na íntegra.
O lançamento da carta aconteceu durante o Seminário Nacional “Realidades e Perspectivas da Transição Energética na Ótica dos Trabalhadores e Trabalhadoras”, organizado pela Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia no Sindicato dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro Unificado).
A diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Vieira, chamou atenção para a forma e a consistência das participações dos petroleiros na transição justa e popular. Para ela, “a categoria precisa estar cada vez mais próxima das comunidades locais; essas sim verdadeiras atingidas pelas obras”, defendendo seus direitos e modos de vida.

O encontro reuniu trabalhadores, atingidos por barragens, sindicalistas, pesquisadores e lideranças populares. A primeira mesa de debate tratou da transição energética justa, da participação social e de um projeto nacional, com exposições de Sérgio Gabrielli, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP).
O ex-presidente da Petrobrás afirmou que ainda há uma grande confusão sobre o que é poluição e o que pode gerar efeitos nocivos ao clima. “É importante diferenciar: poluição é uma coisa, impacto climático é outra. O que de fato altera o clima são gases como o metano e o dióxido de carbono”, disse.
Ele lembrou que o mundo, em função dos contextos geopolíticos, está aumentando a queima de carvão, e que isso deverá ser enfrentado porque pode fornecer outras fontes energéticas. “No período pós-pandemia, a fonte de energia que mais cresceu no mundo foi o carvão. Isso não é apenas um dado econômico, mas um fenômeno geopolítico, marcado pela guerra na Ucrânia e pela redução da oferta de gás russo para a Europa, que até então se colocava como capital da transição energética verde. Esse cenário gerou um quadro de insegurança energética.”
A segunda mesa foi dedicada à apresentação do documento da Plataforma, com fala de Dalla Costa, seguida de debate em plenária. O evento foi encerrado com a definição de ações para o próximo período, consolidando a carta como instrumento político de luta por uma transição energética justa, soberana e popular.
