MAB participa do 3º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara

Encontro realizado em Recife, mobilizou juventudes e comunidades de todas as regiões do país na luta pela justiça social e por uma organização econômica que valorize os cuidados com a natureza

Economistas, lideranças sociais, pastorais e comunitárias de diversas regiões do Brasil participaram do encontro. Foto: Marcus Tullius

De 11 a 14 de setembro, Recife foi ponto de encontro de mais de 300 participantes durante 3º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara (ENEFC), realizado na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O evento – que parte de um movimento global do Papa Francisco para fortalecer o cuidado com o meio ambiente – reuniu jovens economistas, lideranças sociais, pastorais e comunitárias de diversas regiões do Brasil, que refletiram sobre alternativas econômicas capazes de responder às urgências sociais e ambientais do presente. Inspirados pelo chamado do Papa Francisco a “organizar a esperança”, o tema motivador do encontro foi “A economia pode ser justa para todas as vidas, já!”.

O arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Jaime Spengler, cumprindo agenda em Roma, enviou uma saudação aos presentes no encontro com votos de bom trabalho e coragem.

“Redes, comunidades, homens e mulheres que sonham com uma realidade, uma sociedade inspirada pelos valores de Francisco e Clara. Não tenhamos medo de juntos elaborar, discutir, aprofundar, rezar para que, talvez, as próximas gerações possam ter dias melhores”, ressaltou Jaime.

A assessora da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB, Alessandra Miranda, participou de todo o evento e saudou os presentes na mesa de abertura. Em uma videomensagem, a secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé, irmã Alessandra Smerili, felicitou a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (ABEFC) pela realização do evento, salientando a pertinência do tema escolhido.

“Falar de economia hoje, no mundo em que vivemos, significa enfrentar uma realidade complexa, marcada por fortes desequilíbrios, injustiças e crises. Mas também significa reconhecer que já existem caminhos alternativos, experiências que abrem brechas de esperança, visões capazes de orientar a mudança”, afirmou a Irmã Alessandra.

Programação marcada por místicas, oficinas e participação popular

A programação foi construída de forma plural e participativa, combinando espaços de reflexão acadêmica com experiências de espiritualidade e cultura popular. O encontro contou com momentos de mística, rodas de conversa, oficinas temáticas nos territórios e atividades artísticas que mobilizaram os participantes em torno de três eixos principais: ecologia integral, economia solidária e incidência social.

Dentre os convidados para os painéis, estiveram os ministros de Estado Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança Climática) e Luciana Santos (Ciência Tecnologia e Inovação). Reconhecido nacionalmente pelo seu trabalho com a população em situação de rua, o padre Júlio Lancellotti, da Arquidiocese de São Paulo, participou do encontro e compartilhou a sua experiência.

Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, a teóloga argentina Emilce Cuda, participou virtualmente do evento e destacou, junto com o Frei Giampero Gambaro, representante da Economy of Francesco, o legado do Papa Francisco na América Latina e os momentos iniciais do pontificado do Papa Leão XIV.

Em clima de peregrinação, os participantes foram à Igreja das Fronteiras, onde viveu Dom Helder Câmara, entre 1968 e 1999, para a celebração da Eucaristia, presidida pelo bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), Dom Adriano Ciocca. Ao final, uma caminhada pelas ruas da capital pernambucana marcou o compromisso de seguir construindo novas formas de economia.

“Foi uma atividade que reuniu muitas iniciativas importantes que mobilizam comunidades e movimentos e motivam não apenas a Igreja Católica, mas também o restante da sociedade a refletir sobre as palavras do Papa Franscisco, que denunciou o atual modelo de sociedade e nos convocou a construir outra economia, que para o MAB é uma sociedade sem exploração de classes, sem racismos e sem o patriarcado”, comenta Thiago Alves integrante da coordenação nacional do MAB.

Água e outros elementos da criação são relembrados na celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. Na imagem, Thiago Alves segura um jarro de água durante celebração. Foto: Marcus Tullius.

Carta de Recife: indignação e esperança

O encerramento do encontro foi marcado pelo lançamento da “Carta de Recife”, um manifesto do compromisso coletivo com uma economia que seja “justa para todas as vidas, já!”.

O documento denuncia a crise climática, o extrativismo predatório e a concentração de riquezas, lembrando ainda o agravamento das desigualdades e o enfraquecimento da democracia diante da lógica do mercado. “Queremos continuar a resgatar a centralidade da transformação do sistema econômico e, em diálogo latino-americano, tecer pontes para uma ampla rede de encontros, diálogos e convergências. Que em cada comunidade se costurem laços e se desenvolvam processos de conscientização. No contexto do Jubileu da Esperança, reafirmamos nosso compromisso com o descanso da terra e o fim das dívidas econômicas, sociais e ecológicas”, destaca o texto.

A Carta resgata o convite de Francisco à construção de pactos comunitários e reafirma duas ideias-força: indignação, que impede a acomodação diante das injustiças, e esperança, que move a semear novas práticas de solidariedade e cooperação.

Entre as reivindicações, estão a luta pelo fim da escala 6×1, a justiça tributária em favor dos mais pobres, a universalização dos direitos à terra, teto e trabalho, além da defesa de uma transição justa de modelo econômico. O texto convoca todas as pessoas a participarem da construção de uma economia “com alma”, centrada na vida e na dignidade humana.

A carta pode ser lida na integra aqui.

Criação do Grupo de Trabalho na Unicap

Ao final do encontro, o integrante da secretaria da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, Eduardo Brasileiro, apresentou aos presentes a Portaria nº 147/2025 da Unicap, por meio da qual é criado o Grupo de Trabalho (GT) para a proposição da Cátedra de Economia de Francisco e Clara.

O documento assinado pelo reitor, padre Pedro Rubens Ferreira de Oliveira – padre jesuíta – nomeia os membros do GT, composto por docentes e colaboradores externos, e define a missão de elaborar uma proposta conceitual e metodológica da Cátedra, propor um plano de atividades de pesquisa, extensão e incidência social, além de identificar parcerias nacionais e internacionais.

De acordo com a portaria, a iniciativa está em sintonia com a missão humanista e jesuíta da instituição: “A criação da Cátedra reforça nosso compromisso com a justiça socioambiental, o diálogo entre fé, ciência e cultura e a formação integral da pessoa humana”.

A economia de Francisco e Clara

A Economia de Francisco é um movimento mundial convocado pelo papa Francisco em 2019, que reúne jovens economistas, trabalhadores e lideranças sociais para pensar e praticar uma nova economia. Inspirado na vida simples de São Francisco de Assis, o chamado busca alternativas ao modelo econômico dominante, marcado pela exclusão e pela exploração da natureza. A proposta é construir uma economia que tenha a vida no centro, seja solidária, sustentável e capaz de promover justiça social e ecológica em escala global.

A Articulação Brasileira abraçou a convocação feita pelo Papa Francisco e uniu Clara a este apelo de uma nova economia, considerando a expressiva participação das mulheres nas comunidades e nos territórios, buscando na força feminina o exemplo para a transformação e a construção de uma economia justa.

Conheça mais sobre a Economia de Francisco e Clara em informações economiadefranciscoeclara.com.br e informações pelo e-mail [email protected].

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