MAB participa do 3º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara
Encontro realizado em Recife, mobilizou juventudes e comunidades de todas as regiões do país na luta pela justiça social e por uma organização econômica que valorize os cuidados com a natureza
Publicado 23/09/2025 - Actualizado 23/09/2025

De 11 a 14 de setembro, Recife foi ponto de encontro de mais de 300 participantes durante 3º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara (ENEFC), realizado na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O evento – que parte de um movimento global do Papa Francisco para fortalecer o cuidado com o meio ambiente – reuniu jovens economistas, lideranças sociais, pastorais e comunitárias de diversas regiões do Brasil, que refletiram sobre alternativas econômicas capazes de responder às urgências sociais e ambientais do presente. Inspirados pelo chamado do Papa Francisco a “organizar a esperança”, o tema motivador do encontro foi “A economia pode ser justa para todas as vidas, já!”.
O arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Jaime Spengler, cumprindo agenda em Roma, enviou uma saudação aos presentes no encontro com votos de bom trabalho e coragem.
“Redes, comunidades, homens e mulheres que sonham com uma realidade, uma sociedade inspirada pelos valores de Francisco e Clara. Não tenhamos medo de juntos elaborar, discutir, aprofundar, rezar para que, talvez, as próximas gerações possam ter dias melhores”, ressaltou Jaime.
A assessora da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB, Alessandra Miranda, participou de todo o evento e saudou os presentes na mesa de abertura. Em uma videomensagem, a secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé, irmã Alessandra Smerili, felicitou a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (ABEFC) pela realização do evento, salientando a pertinência do tema escolhido.
“Falar de economia hoje, no mundo em que vivemos, significa enfrentar uma realidade complexa, marcada por fortes desequilíbrios, injustiças e crises. Mas também significa reconhecer que já existem caminhos alternativos, experiências que abrem brechas de esperança, visões capazes de orientar a mudança”, afirmou a Irmã Alessandra.
Programação marcada por místicas, oficinas e participação popular
A programação foi construída de forma plural e participativa, combinando espaços de reflexão acadêmica com experiências de espiritualidade e cultura popular. O encontro contou com momentos de mística, rodas de conversa, oficinas temáticas nos territórios e atividades artísticas que mobilizaram os participantes em torno de três eixos principais: ecologia integral, economia solidária e incidência social.
Dentre os convidados para os painéis, estiveram os ministros de Estado Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança Climática) e Luciana Santos (Ciência Tecnologia e Inovação). Reconhecido nacionalmente pelo seu trabalho com a população em situação de rua, o padre Júlio Lancellotti, da Arquidiocese de São Paulo, participou do encontro e compartilhou a sua experiência.
Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, a teóloga argentina Emilce Cuda, participou virtualmente do evento e destacou, junto com o Frei Giampero Gambaro, representante da Economy of Francesco, o legado do Papa Francisco na América Latina e os momentos iniciais do pontificado do Papa Leão XIV.
Em clima de peregrinação, os participantes foram à Igreja das Fronteiras, onde viveu Dom Helder Câmara, entre 1968 e 1999, para a celebração da Eucaristia, presidida pelo bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), Dom Adriano Ciocca. Ao final, uma caminhada pelas ruas da capital pernambucana marcou o compromisso de seguir construindo novas formas de economia.
“Foi uma atividade que reuniu muitas iniciativas importantes que mobilizam comunidades e movimentos e motivam não apenas a Igreja Católica, mas também o restante da sociedade a refletir sobre as palavras do Papa Franscisco, que denunciou o atual modelo de sociedade e nos convocou a construir outra economia, que para o MAB é uma sociedade sem exploração de classes, sem racismos e sem o patriarcado”, comenta Thiago Alves integrante da coordenação nacional do MAB.

Carta de Recife: indignação e esperança
O encerramento do encontro foi marcado pelo lançamento da “Carta de Recife”, um manifesto do compromisso coletivo com uma economia que seja “justa para todas as vidas, já!”.
O documento denuncia a crise climática, o extrativismo predatório e a concentração de riquezas, lembrando ainda o agravamento das desigualdades e o enfraquecimento da democracia diante da lógica do mercado. “Queremos continuar a resgatar a centralidade da transformação do sistema econômico e, em diálogo latino-americano, tecer pontes para uma ampla rede de encontros, diálogos e convergências. Que em cada comunidade se costurem laços e se desenvolvam processos de conscientização. No contexto do Jubileu da Esperança, reafirmamos nosso compromisso com o descanso da terra e o fim das dívidas econômicas, sociais e ecológicas”, destaca o texto.
A Carta resgata o convite de Francisco à construção de pactos comunitários e reafirma duas ideias-força: indignação, que impede a acomodação diante das injustiças, e esperança, que move a semear novas práticas de solidariedade e cooperação.
Entre as reivindicações, estão a luta pelo fim da escala 6×1, a justiça tributária em favor dos mais pobres, a universalização dos direitos à terra, teto e trabalho, além da defesa de uma transição justa de modelo econômico. O texto convoca todas as pessoas a participarem da construção de uma economia “com alma”, centrada na vida e na dignidade humana.
A carta pode ser lida na integra aqui.
Criação do Grupo de Trabalho na Unicap
Ao final do encontro, o integrante da secretaria da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, Eduardo Brasileiro, apresentou aos presentes a Portaria nº 147/2025 da Unicap, por meio da qual é criado o Grupo de Trabalho (GT) para a proposição da Cátedra de Economia de Francisco e Clara.
O documento assinado pelo reitor, padre Pedro Rubens Ferreira de Oliveira – padre jesuíta – nomeia os membros do GT, composto por docentes e colaboradores externos, e define a missão de elaborar uma proposta conceitual e metodológica da Cátedra, propor um plano de atividades de pesquisa, extensão e incidência social, além de identificar parcerias nacionais e internacionais.
De acordo com a portaria, a iniciativa está em sintonia com a missão humanista e jesuíta da instituição: “A criação da Cátedra reforça nosso compromisso com a justiça socioambiental, o diálogo entre fé, ciência e cultura e a formação integral da pessoa humana”.
A economia de Francisco e Clara
A Economia de Francisco é um movimento mundial convocado pelo papa Francisco em 2019, que reúne jovens economistas, trabalhadores e lideranças sociais para pensar e praticar uma nova economia. Inspirado na vida simples de São Francisco de Assis, o chamado busca alternativas ao modelo econômico dominante, marcado pela exclusão e pela exploração da natureza. A proposta é construir uma economia que tenha a vida no centro, seja solidária, sustentável e capaz de promover justiça social e ecológica em escala global.
A Articulação Brasileira abraçou a convocação feita pelo Papa Francisco e uniu Clara a este apelo de uma nova economia, considerando a expressiva participação das mulheres nas comunidades e nos territórios, buscando na força feminina o exemplo para a transformação e a construção de uma economia justa.
Conheça mais sobre a Economia de Francisco e Clara em informações economiadefranciscoeclara.com.br e informações pelo e-mail [email protected].
