MAB realiza formação política com participação de atingidos e representantes do Governo Federal
A III Etapa de Formação de Coordenadores Regionais do MAB/ Médio Rio Doce reuniu atingidos de 11 cidades e realizou atividades junto a representantes do Governo Federal
Publicado 09/09/2025 - Actualizado 16/09/2025

Cerca de 120 pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), se reuniram em Governador Valadares entre os dias 29 e 31 de agosto para participar da III Etapa de Formação de Coordenadores Regionais do Médio Rio Doce. O encontro foi organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), por meio da Escola de Formação Toninho Iussef, e aconteceu na Paróquia Sagrada Família. A atividade reuniu atingidos do Alto e Médio Rio Doce, representantes do Governo Federal, dos legislativos federal, estadual e municipal, além de vereadores, lideranças sociais e integrantes das Assessorias Técnicas Independentes (ATIs) Aedas, Adai e Cáritas Valadares.
Seminário com o Governo Federal
Um dos pontos centrais da programação foi o seminário “Do rio ao mar: é tempo de avançar por reparação integral e soberania popular”. A atividade contou com a presença de representantes do Governo Federal: Elisa Costa e Marcos Nunes (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA), Marcelo Fragoso (Secretaria-Geral da Presidência da República), Julia Restori (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Ana Luísa (Ministério da Educação) e Daniel Sucupira (Ministério da Saúde).

Na ocasião, os atingidos e atingidas organizados no MAB apresentaram uma carta-proposta com demandas de políticas públicas e projetos comunitários a serem incorporados na Repactuação do Rio Doce – o Novo Acordo Rio Doce -, que está sendo negociado pelo governo Lula para reparar os danos sociais, ambientais e econômicos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana.
Entre as demandas, Nilda, de Aimorés (MG), destacou a importância de projetos voltados para a juventude.
“Os jovens querem participar dos projetos, temos iniciativas de futebol, futevôlei e skate, além da biblioteca comunitária Fonte de Sabedoria. Queremos trabalhar teatro, literatura e educação, trazendo as crianças para dentro da biblioteca”, relatou.
Já Renata Rodrigues, do distrito de Ilha do Rio Doce (Caratinga/MG), ressaltou a necessidade de garantir a participação dos atingidos nos espaços de decisão do Novo Acordo: “Não basta decidir sem nos ouvir, porque as decisões impactam diretamente nossa vida e nosso futuro”.
O representante da Secretaria-Geral da Presidência, Marcelo Fragoso, reconheceu a relevância dessa participação e destacou a criação do Conselho Federal de Participação, que deve ser instalado em setembro e terá reuniões ainda neste ano. Segundo ele, o espaço será fundamental para que os atingidos tenham voz direta no processo de reparação.
Fragoso também apresentou informações sobre o Fundo de Participação Social, que contará com R$ 5,7 bilhões, distribuídos em ciclos de quatro anos. Além de cerca de R$ 330 milhões já disponíveis no BNDES para o primeiro ciclo do Novo Acordo.
“Esse fundo deve ser compreendido como um instrumento de reparação percebido pela comunidade. Não basta construir um posto de saúde se ele não for entendido como parte da reparação. Por isso, estamos estruturando um processo contínuo de orçamento participativo, com consulta, decisão, fiscalização e acompanhamento junto aos atingidos”, explicou.
Durante o seminário, atingidos do Extremo Sul da Bahia também reivindicaram reconhecimento como parte da área atingida e medidas de reparação para a região, duramente impactada pela contaminação dos rejeitos da mineração. Em cidades como Nova Viçosa, Mucuri e Caravelas, a pesca – principal atividade econômica local – vem sofrendo fortes impactos desde o rompimento da barragem. O MAB já iniciou trabalhos de base na região e reforça a luta para que as comunidades sejam incluídas no Novo Acordo do Rio Doce.
Formação política e organização popular
Além do seminário, os participantes se dedicaram ao estudo do livro O que é Revolução, de Florestan Fernandes. A proposta foi refletir sobre o conceito de revolução a partir das próprias experiências de luta. O estudo da obra de Florestan é considerado estratégico no contexto da organização popular, porque ajuda a compreender os mecanismos de exploração e opressão, ao mesmo tempo em que aponta caminhos para a transformação social por meio da luta coletiva. Para os atingidos, esse debate fortalece a consciência crítica e a disposição de se organizar para conquistar direitos negados pelas empresas e pelo Estado.
Mulheres na luta por direitos
Outra atividade de destaque foi a palestra “Mulheres atingidas e a luta por conquistas de direitos”, que debateu as violações sofridas pelas mulheres atingidas e a necessidade de enfrentar o patriarcado e o machismo presentes também no processo de reparação.
Camilla Brito, da coordenação nacional do MAB, apresentou os resultados de sua pesquisa realizada no curso de pós-graduação Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre a situação das mulheres atingidas na Bacia do Rio Doce.

Ao final, Camilla presenteou algumas participantes com o livro Mulheres em defesa do território – Corpo Terra Águas, que reúne pesquisas e reflexões sobre a luta das mulheres pela preservação de seus territórios e da natureza. A obra busca fortalecer a caminhada das atingidas e ampliar o debate sobre a relação entre gênero, território e justiça social.

A formação foi finalizada com uma noite cultural, em que os participantes puderam compartilhar suas histórias de vida e sua relação com o MAB, além de celebrar a luta coletiva com música e confraternização.
Esta foi a terceira etapa da Formação de Coordenadores Regionais do Médio Rio Doce. O processo faz parte de um ciclo de formação política mais amplo, que terá continuidade em 2026, com novos encontros programados.
