Movimentos sociais exigem justiça e criação de assentamento após assassinato de Ednaldo Palheta
Liderança assassinada era símbolo da luta por terra na região do Xingu
Publicado 18/03/2025

Na última terça-feira (11), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a população local realizaram um ato em Vitória do Xingu, no Pará, para marcar um mês do assassinato de Ednaldo Palheta e cobrar justiça. A mobilização reuniu moradores dos acampamentos Farrara I, II e Xingu, que denunciaram o crime como resultado dos conflitos agrários na região. A manifestação percorreu pontos estratégicos da cidade, incluindo a Câmara Municipal e o Fórum, exigindo providências das autoridades.
Ednaldo Palheta da Cunha, conhecido como Naldo Bucheiro, tinha 45 anos e presidia a Associação dos Pequenos Agricultores do Km 40, entidade que representa 228 famílias em uma área de disputa fundiária. Ele foi assassinado na noite de 10 de fevereiro, quando voltava do trabalho. Segundo testemunhas, dois homens em uma motocicleta o abordaram na estrada do Ramal Água Boa e atiraram contra Naldo O crime gerou indignação entre os trabalhadores rurais, que há anos denunciam ameaças por parte de fazendeiros locais.



Histórico de conflitos agrários
A área onde Ednaldo vivia com outras famílias é considerada pública pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e está pendente de titulação definitiva. Em janeiro de 2025, o órgão cancelou títulos de posse que haviam sido concedidos anteriormente a fazendeiros. No entanto, as ameaças contra os pequenos agricultores continuaram intensificando os conflitos na região.
Além de cobrar justiça, as organizações sociais exigem que a ocupação das famílias na área em disputa seja convertida no primeiro assentamento oficial de Vitória do Xingu. A medida garantiria segurança jurídica e direitos básicos às famílias que vivem e trabalham na terra há anos.
Para Iury Paulino, da coordenação nacional do MAB, o assassinato de Ednaldo faz parte de um contexto mais amplo de criminalização de lideranças populares. “O assassinato de Naldo está ligado à luta histórica do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em defesa das comunidades impactadas na região. O movimento denuncia a criminalização de suas lideranças e cobra dos governos federal e estadual uma investigação rápida para identificar os responsáveis. Além disso, exige o reassentamento das famílias atingidas por Belo Monte, já que a falta de garantias nesse processo gerou conflitos na região do Xingu”, afirmou.
Autoridades prometem investigação
Durante o ato, Diego Diel, representante do Departamento de Mediação de Conflitos Agrários, reafirmou que o caso de Ednaldo é um reflexo da tensão fundiária na região e garantiu que as investigações seguem em andamento. Ele destacou que a posse da terra já foi reconhecida como pública pelo INCRA e que as famílias têm o direito de permanecer na área sem sofrer ameaças.
Organizações de direitos humanos também acompanham o caso e cobram respostas do governo federal e estadual. Segundo especialistas, o Pará é um dos estados com maior índice de violência no campo, impulsionado por disputas territoriais e a demora na regularização fundiária.

”Em resposta a essa tragédia, o MAB mobilizou diversas instituições de defesa dos direitos humanos, como a Câmara de Conflitos Fundiários do INCRA e a Assembleia Legislativa do Estado do Pará, onde a deputada Lívia Duarte (PSOL) solicitou ao Ministério Público Federal que acompanhe as investigações, na esperança de garantir maior profundidade e transparência ao caso. Estamos otimistas de que, com a intervenção do Ministério Público e o empenho da Polícia Civil do Pará, conseguiremos identificar os responsáveis por esse crime, que está diretamente relacionado ao conflito fundiário enfrentado por muitas famílias atingidas pela construção da usina de Belo Monte”, afirmou Iury Paulino.
Repercussão e mobilização nacional
O assassinato de Ednaldo gerou forte comoção entre movimentos sociais e reforçou a luta pela proteção de trabalhadores rurais ameaçados. Entidades como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) se manifestaram contra a violência no campo e pediram mais segurança para as comunidades.
Tainá Vicência, da coordenação municipal do MAB no Xingu, destacou a importância da mobilização e reafirmou o compromisso do movimento com a luta por justiça. “Seguiremos mobilizados para cobrar uma investigação rigorosa e a garantia do reassentamento das famílias atingidas, pois a terra é pública e pertence a quem nela trabalha e dela vive. A criação do primeiro assentamento oficial de Vitória do Xingu é um passo fundamental para garantir segurança e dignidade a essas famílias”, declarou.
O MAB e outras organizações prometem manter a pressão sobre as autoridades para que o caso de Ednaldo Palheta não fique impune e para que medidas concretas sejam tomadas na defesa das comunidades atingidas por conflitos agrários.