Quase uma década após o crime em Mariana, rejeitos do rompimento da Samarco causam danos a pescadores baianos
Atingidos do Extremo Sul da Bahia participam do ato de nove anos do crime na Bacia do Rio Doce, que acontece nesta terça (5) em Mariana (MG)
Publicado 05/11/2024 - Atualizado 05/11/2024
A realidade de municípios baianos como Nova Viçosa, Mucuri, Alcobaça e Caravelas já não é mais a mesma desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Estima-se que, em algumas dessas cidades, a atividade pesqueira diminuiu em 50% devido aos danos causados pelos rejeitos do crime da Samarco, Vale e BHP na Bacia do Rio Doce. Maria do Carmo de Jesus Coelho, pescadora há mais de 30 anos, relata a realidade dos trabalhadores “Eu nunca vi acontecer o que eu estou vendo agora, ir para o mar para pescar e pegar os peixes tudo doente”, conta.
Desde 2016, estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovaram a presença de metais pesados como Zinco, Cobre, Fósforo, Arsênio e Bário na biodiversidade do Parque Nacional de Abrolhos. Apesar do Rio Doce desaguar no litoral capixaba, um ciclone extratropical, ocorrido quatro meses após o rompimento, empurrou os rejeitos do crime para o extremo sul baiano. “Não tem como vender o peixe e como fica a situação dos pais e mães de família? Porque a nossa sobrevivência vem do mar. Às vezes o filho pede o pão de cada dia e não tem. Porque como que vai dar sem a pesca. Estamos exigindo nosso direito!” completa Coelho, moradora de Nova Viçosa.
A cadeia produtiva da pesca é uma das principais fontes de renda para a população local. Aproximadamente 18.000 trabalhadores dependem diretamente da pesca na região do extremo sul da Bahia. Dentre eles, um número significativo é composto por mulheres – aproximadamente seis mil trabalhadoras – que participam ativamente das atividades pesqueiras, seja na captura, processamento ou comercialização do pescado. O litoral baiano não foi reconhecido em nenhum programa de reparação pelos danos socioambientais decorrentes do rompimento em Fundão. O território também não está contemplado no Acordo de Repactuação, assinado no último dia 25 de outubro entre governos, mineradoras e instituições de Justiça.
“Até agora ainda não foi reconhecido que a Bahia foi atingida. Os peixes, mariscos, ostras, tartarugas tudo contaminado! Os turistas não vem mais. Está uma escassez no verão, tá muito difícil a sobrevivência aqui”, desabafa a também pescadora Rosália Santos.
Atingidos de diversas regiões do extremo-sul da Bahia e do Espírito Santo – que também teve alguns municípios excluídos do Acordo de Repactuação – estarão presentes na jornada de luta que acontecerá nesta terça (5), em Mariana (MG). O encontro, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), conta com atividades em Mariana e também no Bento Rodrigues de origem. Além de marcar os nove anos do crime, os atos também reafirmam a continuidade da luta por justiça e reparação integral a todos os atingidos pelo crime na Bacia do Rio Doce.
Programação
9h – Ato em Bento Rodrigues de origem
9h – Plenária para debater a Repactuação e os direitos dos atingidos – Arena Mariana
14h30 – Marcha pelos direitos dos atingidos – Concentração no Centro de Convenções – Avenida Getúlio Vargas, 110 – Centro de Mariana.
16:30h – Encerramento – Praça Minas Gerais, Centro de Mariana.