MAB articula brigadas em todo o país para apoiar candidaturas ligadas às pautas das populações atingidas

Brigadas de Agitação e Propaganda organizam mobilizações em diferentes estados do país para eleger prefeitos e vereadores com propostas para fortalecer direitos sociais e enfrentar crise climática

Brigada em Belo Horizonte (MG) em apoio ao candidato Rogério Correia (PT). Em diferentes cidades do país, brigadas articulam atos, caminhadas, panfletagem e plenárias para levar o debate político às ruas. Foto: Mariana Bastani

A campanha para as eleições municipais já passou da metade do caminho. A votação em primeiro turno para a escolha de prefeitos e vereadores dos 5.570 municípios brasileiros acontece no dia 6 de outubro. Desde o anúncio oficial dos candidatos às prefeituras e câmaras dos municípios, o Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) tem atuado na articulação de brigadas de agitação e propaganda junto a outros movimentos e organizações sociais em todo o país para fortalecer candidaturas do campo progressista.

A atuação nas campanhas municipais tem dois intuitos. Um deles é apresentar aos candidatos as principais demandas dos atingidos e da população mais vulnerável das cidades, para influenciar a criação das suas propostas. O outro é divulgar junto aos eleitores as plataformas políticas que mais se aproximam das necessidades coletivas do povo brasileiro, como segurança alimentar, soberania energética, direito à moradia digna, distribuição de renda, enfrentamento da crise climática e garantira da segurança e reparação das populações atingidas.

Atualmente, as brigadas são coordenadas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) junto à Central de Movimentos Populares (CMP) e à União Nacional de Moradia Popular (UNM), que organizam ações semanais, com o foco em promover o diálogo sobre as propostas dos candidatos.

“São espaços em que a população pode manifestar coletivamente os seus desejos e se articular com outros setores que também reivindicam direitos, como o direito à moradia, o direito à saúde, à educação, ao saneamento básico e à participação popular”, afirma um dos integrantes da coordenação do MAB, Luiz Dalla Costa.

Os atingidos no processo eleitoral

No estado de São Paulo, o foco das brigadas é a atuar na capital e no município de Guarulhos. “Estamos com 400 militantes nas ruas, na zona leste, na zona norte e no centro de São Paulo, organizando pelo menos três grandes ações por semana, como caminhadas, assembleias e atos para dar visibilidade aos candidatos Guilherme Boulos (São Paulo) e Alencar Santana (Guarulhos). A partir do dia 22, vamos colocar nas ruas o bloco do Boulos e da Marta na Avenida Paulista em grandes atos para divulgar as propostas da chapa que podem, de fato, melhorar a vida da população”, explica Liciane Andrioli, também integrante da coordenação do MAB.

As brigadas já tiveram papel fundamental no processo eleitoral que culminou na eleição do presidente Lula em 2022. Foto: Elieudo Meira (Chokito)

Toda sexta-feira acontece ainda o ato “sextou” em praças e grandes avenidas da capital, com entrega de panfletos, atividades culturais e diálogo com a população. “A expectativa é que a gente consiga levar nossa mensagem e criar um clima de animação, convidando a população para apoiar um projeto popular de cidade, elegendo o máximo de vereadores do nosso campo”, complementa Liciane.

Luiz Dalla Costa reforça que os atingidos têm uma série de reivindicações a partir da sua realidade e, por isso, participar do processo político é uma forma de exercer plenamente o seu direito de cidadão e ter sua voz ouvida.

“Historicamente, os atingidos tiveram seus direitos negligenciados: muitos não foram justamente indenizados no processo de deslocamento forçado durante a instalação de barragens em seus territórios, outros sofrem com enchentes, que sistematicamente provocam perdas e danos sociais e ambientais no país, e há ainda as populações afetadas por crimes socioambientais, que, muitas vezes, lutam por anos para garantir seus direitos mais básicos”, explica o dirigente. Por isso, Luiz ressalta que nada mais justo do que essa população se mobilizar no processo eleitoral para reivindicar os seus direitos.

As eleições e o clima

É importante lembrar que cidades brasileiras estão no centro de desastres ligados a inundações, secas e ondas de calor, mas questões como as mudanças do clima, em geral, não estão entre as prioridades das propostas dos candidatos. Por isso, é importante fortalecer candidaturas que apresentem projetos concretos para problemas urbanos que têm uma ligação estreita com os desastres registrados nos últimos anos, causando mortes e os mais diversos prejuízos para a população das periferias.

Em São Paulo (SP), por exemplo, uma forte chuva em 2023 deixou a população sem serviços básicos como energia elétrica e água, além de comprometer a mobilidade urbana. Em bairros mais periféricos, porém, essa situação é cíclica, com enchentes que afetam as moradias a cada estação chuvosa No Rio Grande do Sul, os alertas sobre as enchentes foram ignorados. Por isso, é preciso eleger candidatos que conhecem a realidade das periferias brasileiras e têm compromisso com a moradia digna, com segurança e proteção da vida das pessoas, com a prevenção de enchentes e planos de emergência para secas extras e outros desastres naturais.

Por isso, o candidato à vereador Raimundo Bonfim, afirma que os gestores públicos precisam incluir todos os bairros e todas os moradores em suas propostas. “São Paulo tem bairros que inundam todos os anos, deixando a população em constante alerta. A gente precisa construir, junto às pessoas, projetos que garantam a moradia digna a todos”, afirma.

A articulação entre os movimentos sociais

Em São Paulo (SP), Miriam Hermógenes, coordenadora da Central de Movimentos Populares (CMP), afirma que a tarefa de levar a chapa de Guilherme Boulos e Marta Suplicy para o segundo turno é uma missão que precisa unir todos as frentes populares. Segundo ela, “é preciso que os movimentos sociais se aproximem da política para dar visibilidade às suas lutas e “ajudar a construir políticas públicas que transformem, de fato, a realidade de quem tem sido esquecido por partidos ligados à elite do país. Todos precisam se unir para fazer valer uma política que valorize a a cultura, a educação, a saúde, a moradia popular”, afirma.

Agora é hora de eleger candidatos que podem transformar a realidade das cidades brasileiras

São Paulo (SP)
Guilherme Boulos / PSOL (vice Marta Suplicy / PT) tem um histórico de luta pela moradia digna para todos e a proteção dos direitos sociais da população, especialmente na periferia. Entre as suas principais propostas está ampliar o atendimento em saúde nos bairros mais pobres.

Belo Horizonte (MG)
O candidato Rogério Correia / PT (vice Bella Gonçalves / PSOL-Rede) foi um dos principais articuladores dos projetos de lei em nível estadual e federal para a proteção dos direitos dos atingidos. Seu projeto de governo tem educação, agricultura familiar e movimentos sociais como prioridade.

Belém (PA)
A chapa Edmilson Rodrigues / PSOL e de Edilson Moura / PT promete zerar o analfabetismo em Belém (PA) e garantir renda mínima para todos, além de enfrentar os efeitos das mudanças climáticas que atingem a Amazônia.

Fortaleza (CE)
Evandro Leitão / PT (vice é Gabriella Aguiar / PT) apresentou suas propostas alinhado com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, que, entre outros pontos, envolve erradicação da pobreza, redução das desigualdades, fome zero, agricultura sustentável e energia acessível e limpa.

Porto Alegre (RS)
O programa divulgado por Maria do Rosário / PT (vice Tamyres Filgueira / PSOL), prevê a criação do Conselho da Reconstrução de Porto Alegre, que seria formado pelos mais diversos segmentos, com especialistas, setores econômicos, comunidades, e, em especial, por aqueles setores diretamente afetados pela tragédia das enchentes.

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