MAB vai à Bolívia participar da 11ª edição do Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA)
Comitiva com atingidos do MAB de Rondônia e Mato Grosso participaram do evento, que reuniu delegações de nove países do território amazônico
Publicado 19/06/2024 - Atualizado 19/06/2024
Entre os dias 12 e 15 de junho, integrantes do Movimento dos Atingidos Barragens (MAB) participaram do Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), que aconteceu em Rurrenabaque, na Bolívia, reunindo cerca de 1.600 participantes. A abertura oficial foi realizada com a Grande Marcha dos Povos da Terra Pela vida e pela Amazônia, com delegações de nove países. A programação incluiu debates sobre a proteção e preservação do meio ambiente na região, desafios da crise climática, direito dos povos indígenas e originários da Amazônia e transição energética. Nesses momentos, houve análises, protestos e propostas de organizações da sociedade civil, redes e alianças do bloco sul-americano. A agenda também contou com atividades como visitas in loco às comunidades indígenas bolivianas da região, além da marcha na ponte sobre o Rio Beni, que liga os municípios de Rurrenabaque e San Buenaventura.
Para Silvio Roberto, integrante da coordenação do MAB Mato Grosso, é de suma importância a participação do movimento em eventos desta dimensão. “É nesses espaços que a gente consegue reunir os vários povos e organizações que atuam nesse território, para a gente discutir os problemas e as possíveis soluções coletivas a partir da perspectiva de quem vive aqui”, destaca Silvio.
Os debates promovidos no Fórum foram divididos em quatro grandes eixos: Povos Indígenas e Populações Amazônicas; Mãe Terra; Extrativismo e Alternativas e Resistência das Mulheres Amazônicas. Ao final do evento, uma carta foi apresentada na Assembleia dos Povos e assinada pelas delegações da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além de organizações e movimentos sociais que abrangem toda a diversidade dos povos da Amazônia.
O texto intitulado “Mandato do XI Fórum Social Pan-Amazônico” é uma síntese das conclusões aprovadas nas assembleias de cada Eixo Temático. Em suma, o documento reafirmou a importância da riqueza cultural e da ancestralidade dos povos da Pan-Amazônia, exigiu o reconhecimento da diversidade cultural e o respeito pelas tradições, pela visão de mundo e pelas práticas ancestrais dos povos afrodescendentes e indígenas da Guiana. O texto exigiu ainda o apoio da comunidade internacional e das Organizações das Nações Unidas (ONU) para que estes territórios sejam protegidos.
Os atingidos de Rondônia e Mato Grosso que participaram do Fórum também defenderam uma transição energética justa e popular na região amazônica. No dia 14 de junho, eles estiveram presentes na atividade autogestionada pela Rede de Fundos Comunitários da Amazônia. O espaço permitiu a troca de experiências e apresentações dos diversos processos e gestões na atuação do território amazônico. Para o integrante da coordenação do MAB, Orcélio Muniz, o FOSPA promoveu encontros importantes entre diferentes movimentos. “O Fórum nos possibilitou reencontrar outros lutadores pela Amazônia, que também atuam contra a construção de hidrelétricas que só visam o lucro. Nós estivemos, por exemplo, com o Bloco de Organizações Campesina, Indígenas do Norte Amazônia Bolívia (BOCINAB), que é um movimento parceiro do MAB e que tem feito a luta contra a Barragem de Binacional que atingirá o Rio Bene, na Bolívia, e o Rio Madeira, em Rondônia. Também nos reencontramos com os companheiros que vêm ajudando a construir o MAR na Bolívia”, explica Muniz.
Em diferentes línguas, vestidos com roupas ancestralmente preservadas, com rostos multicoloridos e com expressões emocionadas para o encontro, os delegados e delegadas do FOSPA apontam que as conclusões desse processo devem se tornar mandatos aos governantes de cada país, para avançar em direção a políticas públicas para proteger a bacia e a floresta com maior biodiversidade do planeta.