Memorial reaviva a luta contra a Barragem de Itapiranga em Santa Catarina
Há quase 40 anos atingidos lutam para impedir construção de empreendimento que alagaria terras de sete municípios, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Publicado 04/09/2023 - Atualizado 21/08/2024
Pertencente ao município de Mondaí (SC), a comunidade Linha Ervas, ganhou, em julho de 2023, um novo símbolo no memorial construído em homenagem à resistência dos atingidos contra o projeto da Barragem de Itapiranga, que seria instalada no Rio Uruguai, entre, os municípios de São João do Oeste (SC), Mondaí (SC) e Pinheirinho do Vale (RS). Em 1984 e 2004, o local já havia ganhado cruzes, instaladas como símbolo da resistência histórica dos atingidos, que lutam há quase 40 anos contra a ameaça do empreendimento. No último mês de julho, as cruzes foram revitalizadas pelos atingidos.
O projeto de instalação da usina hidrelétrica de Itapiranga, que originalmente, alagaria uma área de 6,5 mil hectares em sete municípios, remonta à década de 1930, quando houve uma tentativa frustrada de instalação. Depois disso, houve uma nova tentativa na década de 1970, e, desde então, aproximadamente 1.500 famílias ribeirinhas vivem sob a ameaça de terem suas comunidades alagadas e serem expulsas de suas terras. Diante desta situação, os atingidos se articularam através do MAB, igrejas, sindicatos e parcerias com universidades para lutar contra a instalação.
Ainda assim, o projeto foi retomado em 2002 pela Aneel e, em 2007, entrou no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Um estudo de viabilidade chegou a ser feito pela CNEC Engenharia, do grupo Camargo Corrêa, mas, na época, cerca de 300 integrantes do MAB ocuparam a Prefeitura de Itapiranga, onde estava sendo realizada uma reunião sobre a retomada do empreendimento para impedir a continuidade dos estudos.
Desde então, mesmo diante de perseguições, ameaças e criminalização dos militantes, os atingidos seguem lutando contra a construção da barragem que causaria remoção forçada da população, assoreamento do rio, desmatamento e danos a unidades de conservação do entorno.
Segundo o coordenador do MAB, Roque Theobald, para além de lutar contra a instalação desta barragem, o Movimento questiona o modelo energético em vigor no país. “Hoje, poucas empresas privadas, tanto nacionais quanto multinacionais, lucram com a construção de barragens, transformando energia e água em mercadorias. Desta forma, privatizam os ganhos e socializam as perdas, ignorando as características sociais, econômicas, ambientais e culturais dos territórios atingidos”, ressalta.
“Seguimos vigilantes, defendendo o direito à informação e à participação das populações ameaçadas e atingidas por barragens. Esse é um direito do povo participar e construir o projeto de desenvolvimento de suas regiões e do país como um todo”, complementa Roque.