Defensores da Amazônia celebram a memória de Irmã Dorothy em romaria
A Romaria da Floresta é uma manifestação realizada anualmente no município de Anapu (PA), desde o assassinato da missionária Dorothy Stang, para denunciar a violência contra defensores da Amazônia e celebrar sua trajetória
Publicado 24/07/2023 - Atualizado 25/07/2023
Entre os dias 20 e 23 de julho, a 16° Romaria da Floresta reuniu cerca de 250 pessoas em quatro dias de caminhada no município de Anapu (PA), em homenagem à memória de Dorothy Stang, missionária assassinada a mando de latifundiários no local, em 2005. Desde então, a cada ano, a romaria celebra a vida e a história de mártires que morreram durante suas lutas em defesa da Amazônia em um itinerário que passa por lugares simbólicos e memoriais. Confira, abaixo, o relato de Dionata Souza, militante do MAB, que participou da caminhada.
“Logo no primeiro dia, percebemos os rostos novos de jovens que estavam participando pela primeira vez da caminhada. Essa foi a primeira romaria que necessitou de escolta policial em todo o seu trajeto, porque os conflitos de terra aumentaram muito nos últimos anos em Anapu, como uma herança do governo Bolsonaro.
Em meio à caminhada, encontramos troncos de árvores jogados na estrada. Esse foi o resultado de uma operação para combater o desmatamento dentro do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança, que ocorreu na semana anterior. No local também, percebemos a queima de veículos usados para transportar a madeira roubada da Reserva.
Após uma longa caminhada de 50 km em 3 dias, chegamos ao local onde irmã Dorothy foi assassinada para fazermos um momento de lembranças e resistência na luta pela Floresta. O costume era que os romeiros fossem recebidos pela comunidade com muitas palmas, cantorias e alegria, mas dessa vez, fomos recebidos com uma enorme tristeza pois no local, onde, em geral acontece a missa final, as árvores foram derrubadas.
Nos disseram que que o corte foi feito pela empresa Equatorial, a distribuidora de energia da região, por motivo de precaução, devido à presença da fiação elétrica, mas essa explicação não nos convenceu, porque a rede elétrica passa do lado esquerdo da estrada e a missa acontece ao lado direito.
Por ocasião da derrubada de árvores, acabaram derrubando também uma placa que já sofreu outros atentados, incluindo uma série de tiros sobre ela. Nela se lê: “em memória aos mártires que tombaram na luta pela preservação da floresta e pela reforma agrária na Amazônia.”
Então, em um ato simbólico, deixamos nossas digitais nas árvores cortadas e recolocamos esta placa em uma castanheira que se manteve de pé nos deu sombra.
Uma moradora local lembrou das histórias e palavras de Dorothy. Ela dizia: ‘enquanto essa terra não for do meu povo, essa grama que vocês tanto capinam não vai parar de crescer. Antes, os homens só cortavam os capins, agora destruíram nossas árvores, mas vamos reconstruir esse espaço’.
A força da memória viva de Dorothy e de tantos outros que tiveram a vida ceifada na defesa da Amazônia nos inspira a seguir na luta justa em defesa da Amazônia.”