Em barqueata pelo rio Tocantins, no Pará, atingidas anunciam defesa da Amazônia

Durante “Encontro de Mulheres do Baixo Tocantins”, que aconteceu no último dia 22, em Cametá (PA), militantes protestaram contra projeto de Hidrovia Araguaia-Tocantins e em defesa da Amazônia

“As águas de março trazem consigo os ventos da resistência, que anunciam os banzeiros de lutas das mulheres ribeirinhas, camponesas, quilombolas e indígenas, atingidas pelo capital e seu projeto de morte. São guardiãs da vida e da Amazônia”.

BEATRIZ SÁ

A declamação da poesia de autoria de Beatriz Sá, militante do Levante Popular da Juventude, marcou a abertura dos debates do Encontro das Mulheres do Baixo Tocantins, em Cametá (PA), no último dia 22, Dia Mundial da Água.

A partir do lema “Banzeiro das atingidas em Defesa da Amazônia, das Águas e da Vida”, as mulheres reforçaram a luta por direitos e a denúncia contra a construção da Hidrovia Tocantins-Araguaia, que pode gerar grandes impactos para a biodiversidade, a economia e a cultura da região.

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O ato político foi organizado pelo Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), contando com a presença de representantes de diferentes coletivos e movimentos parceiros.

Antes do encontro, dezenas de atingidas de vários municípios e comunidades se concentraram na Vila de Carapajó para iniciar uma “barqueata” com destino à comunidade da Praticaia. Euci Ana Gonçalves, trabalhadora rural quilombola e presidente da CUT Pará, reforçou a importância da união das mulheres em uma data tão simbólica, que marca a luta pela água. “Nos somamos em defesa desse bem comum tão necessário para a toda população, mas de modo muito especial para as mulheres, pois as mulheres são as guardiãs da água. Nos juntar ao MAB nesse banzeiro de mulheres ribeirinhas, pescadoras, quilombolas e da periferia é muito importante para nos fortalecermos. E esse fortalecimento é como as águas. A gente se junta pra crescer na luta, crescer na resistência, principalmente, nesse momento que ainda estamos vivendo o resquício do retrocesso desses últimos quatro anos”.

Jaqueline Kelly, da comunidade Guajará de Baixo, nunca tinha presenciado um ato formado e organizado por mulheres e afirmou que irá continuar participando de ações contra projetos de morte na região.

“Esse momento aqui mostra que nós, ribeirinhos, estamos de pé, estamos em luta. As mulheres nesse banzeiro reuniram todo o povo cametaense, pois não estão de acordo com esse projeto de hidrovia pra nossa região. Eles não respeitam nossos direitos, nossa cultura. Mas nós, mulheres, estamos organizadas e vamos defender o rio que é nossa vida”, declarou.

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Para Jaqueline Damasceno, integrante da coordenação nacional do MAB, o encontro foi importante para fortalecer o caráter coletivo da luta e o processo de organização na região, “esse momento aqui é de união e de energia coletiva para continuamos fazendo resistência, mas é também um momento de denúncia.

“Não deixaremos grandes empreendimentos tomarem conta dos nossos rios sem nosso consentimento. Esse é o momento para as mulheres lembrarem de toda a sua luta e toda a sua a trajetória para lutar em prol da vida”

Durante o encontro também houve homenagens à memória da militante do MAB e atingida, Dilma Ferreira, assassinada há quatro anos na “chacina de Baião” por conta da sua luta em defesa da Amazônia.

O banzeiro das mulheres reuniu atingidos e atingidas de mais de 20 comunidades, dos municípios de Belém, Cametá, Baião, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba e Igarapé Miri. “Enquanto eu cantar, enquanto eu dançar e o meu tambor tocar, não ficarei calada’’, cantavam as mulheres atingidas ao entrar no barco no encerramento do banzeiro das mulheres, que encerrou no final da tarde, mas continuará embalando os rios da Amazônia.

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