União e resistência: caravana em defesa do Rio Tocantins se encerra em Itupiranga (PA)
Ao todo, a caravana fluvial percorreu 11 municípios e comunidades ao longo do Rio Tocantins numa atividade de mobilização em defesa do rio diante dos riscos relacionados ao projeto da hidrovia Araguaia-Tocantins
Publicado 10/02/2022 - Atualizado 10/02/2022
A comunidade de Tauiry, localizada em Itupiranga (PA), sediou, entre os dias 4 e 5 de fevereiro, o Encontro dos Povos realizado pela Caravana em defesa do Rio Tocantins. Durante o evento, houve debates entre ribeirinhos, quilombolas, pescadores, lideranças comunitárias e de movimentos sociais sobre os impactos do projeto de ampliação da Hidrovia Araguaia-Tocantins para comunidades ribeirinhas do município, que fica no sudeste paraense.
Segundo Iury Paulino, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é importante ouvir representantes de Tauiry para se discutir as questões socioeconômicas que envolvem o projeto na região. “Essa comunidade é bastante emblemática porque aqui é onde se situa o Pedral do Lourenço. Se o projeto (de ampliação da hidrovia) for levado adiante, serão três anos seguidos de obras implodindo o Pedral para viabilizar a navegabilidade de barcaças”, afirmou o coordenador.
De acordo com Iury, o MAB está em diálogo com as lideranças de toda a jusante e montante da barragem de Tucuruí para propor um plano de desenvolvimento e restruturação dessa comunidade sem a locação de mais um grande projeto na região. “Para além disso, buscamos fortalecer a luta contra a chamada Hidrovia Araguai-Tocantins”, complementou.
No momento, o projeto da obra da hidrovia está suspenso no município de Itupiranga por falta de consulta prévia aos povos tradicionais. Essa consulta prévia, livre e informada é um mecanismo previsto em lei no Brasil desde 2004. Ela deve ser assegurada aos ribeirinhos, quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais toda vez que medidas legislativas ou administrativas afetarem seus territórios.
Para Lindalva do Lago Silva, 50 anos, pescadora e dona do balneário Cupu, muitas pessoas de Tauiry desconhecem os impactos desse grande empreendimento. A moradora, que vive na comunidade há aproximadamente 30 anos, explica que as grandes empresas informam apenas as vantagens da obra e que não se sabe qual o destino da população caso ocorra o derrocamento do pedral.
Pesca será afetada
“Eles só falam de coisas boas, não falam sobre as inúmeras desvantagens da obra. Para nós, ribeirinhos, essa hidrovia não vai trazer benefícios. Aqui nós vivemos à base do pescado, que é extraído na área que eles querem fazer a derrocagem. Como as barcaças vão passar, nós não vamos ter chance alguma de pegar o pescado. Como vamos pescar? Como vamos manter as nossas famílias que dependem do rio? E os nossos peixes? Se tirar o Pedral do Lourenço, os peixes não vão mais se reproduzir. Como nós vamos sobreviver? Era isso que eu queria que eles falassem. Eu tenho medo de perder o que demorei 30 anos para construir ‘’, desabafa a moradora.
Segundo Iury Paulino, a caravana em defesa do rio criou momentos de muito aprendizado, mas, para além disso, foi uma forma de semear a resistência. “Estamos finalizando essa expedição hoje em um belíssimo debate com a presença de militantes de várias organizações e comunidades, na perspectiva de formamos um plano comum de resistência a mais esse projeto da região. A caravana se encerra aqui, em Itupiranga, mas a luta não irá parar”, finalizou o coordenador.
A Caravana em Defesa do Rio Tocantins foi organizada pela CUT Brasil, CUT Pará, Fetagri /PA, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, Diocese de Cametá, Conselho Pastoral dos Pescadores, Universidade Federal do Pará/campus Tocantins Cametá, Levante Popular da Juventude, Sintepp – Cametá e organizações de pescadores e de quilombolas da região, com o apoio do Solidarity Center/AFL-Cio, entidade sindical internacional.