Atingidos pela explosão em fábrica da Imerys em Barcarena (PA) cobram medidas de reparação
Moradores do bairro Vila do Conde inalaram fumaça tóxica e relataram dificuldade para respirar após incêndio e explosão em depósito da mineradora
Publicado 08/12/2021 - Atualizado 09/12/2021
Os moradores de Vila do Conde, em Barcarena (PA), estão mobilizados para exigir da mineradora francesa Imerys Rio Capim Caulim que adote medidas de reparação que possam minimizar os danos provocados pela explosão seguida de incêndio em um dos galpões da planta de beneficiamento da empresa, em Barcarena (PA), na noite de segunda-feira (6).
Aproximadamente 200 moradores se reuniram no salão paroquial da comunidade no dia seguinte ao ocorrido. A assembleia contou com a presença do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), do Ministério Público Federal (MPF), além das associações de moradores.
Os moradores reclamaram da falta de apoio da empresa diante do ocorrido. “A gente não tem uma sirene, a gente não tem alarme, não tem ninguém para sair avisando, nem ao menos um carro som. Não tem ninguém. Não tem esse plano emergencial. Então a gente tem que se unir na verdade e fazer essa cobrança para que a gente tenha, porque Vila do Conde só tem uma entrada e uma saída. Se acontecer alguma coisa pior aqui dentro com outras químicas que tem lá dentro (da Imerys), a Vila do Conde deixa de existir”, afirma Kezia Caetano, liderança da Associação de Desenvolvimento Comunitário e Cultural de Vila do Conde (Adecovac).
Sem um plano emergencial, foram os próprios moradores que tiveram de contar com o apoio uns dos outros para lidar com o ocorrido. Luis Carlos, morador da Vila Industrial, conta que na noite do dia 6, a comunicação se deu entre moradores via WhatsApp. “Foi uma noite difícil. Nós até pensamos em ir ao posto de saúde, mas todo mundo dizia que a situação lá estava complicada. Só não foi pior a situação porque temos um morador da comunidade que é socorrista e ele ajudou as pessoas. Muita gente tossindo, desmaiando, foi horrível. Eu acho que nós aqui do bairro Industrial temos que cobrar mais dessa empresa Imerys. Não é de hoje que ela vem causando impacto ambiental aqui na comunidade”, afirma.
O produto queimado foi o hidrossulfito de sódio, um pó de cor esbranquiçada, com odor de enxofre usado na exploração mineral do caulim. Imagens registradas pelos moradores mostram a coloração esbranquiçada da água dos igarapés e das próprias torneiras das casas após a explosão.
“Esse é mais um episódio em que essas grandes empresas mineradoras cometem um crime muito grande colocando a vida das famílias e dessas localidades em risco. Em Mariana e em Brumadinho a situação era a mesma. No momento do ocorrido existe uma movimentação para dizer que vai tomar alguma providência, mas acaba que no final a população continua em abandono, sofrendo com as consequências da poluição, tanto da lama lá, quanto da fumaça aqui”, afirma Jaqueline Damasceno, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Água potável e atendimento médico
Após a assembleia dos atingidos, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Pará (MPPA) e a Defensoria Pública do Estado (DPE-PA) reuniram-se para cobrar conjuntamente que a mineradora adote medidas emergências.
Em reunião com representantes da mineradora nesta quarta-feira (8), as instituições demandaram que a empresa forneça água potável, transporte, alojamento e tratamento médico – incluindo medicação – para comunidades do município.
A empresa ficou de responder sobre essas demandas no início da noite desta quarta-feira, 08, quando a reunião com o MPF, MPPA e DPE será retomada. O MAB acompanha o caso para que a população tenha esse apoio, que até o momento não foi fornecido aos moradores pelos responsáveis.
“Outra demanda que vamos cobrar de perto é a questão da ausência de um plano de evacuação. Nem a Imerys, nem a Hydro, nem nenhuma outra empresa do município possui um plano. Não vamos deixar que a tragédia de Brumadinho e Mariana se repita aqui no Pará”, afirma Jaqueline, do MAB.
Desde 2002, Barcarena foi palco de ao menos 17 desastres relacionados à mineração, envolvendo a norueguesa Norsk Hydro, a francesa Imerys, além da própria Vale. O município também foi atingido pelo vazamento de 700 toneladas do Navio Haidar, onde naufragaram 5 mil bois vivos contaminando não só Barcarena, mas também Abaetetuba, no nordeste do Pará.