O coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens, Gilberto Cervinski, analisa impacto do aumento da tarifa de energia na vida dos brasileiros. Segundo ele, tarifaço é causado pelo esvaziamento de reservatórios das hidrelétricas e vai piorar com a privatização da Eletrobras
Publicado 01/07/2021 - Atualizado 01/07/2021
O efeito Bolsonaro no preço da energia elétrica será pesado. A população e as pequenas empresas que já sentiram o baque de reajustes neste ano em todo o Brasil serão submetidos a novos aumentos de preços nos próximos meses, quando chegar a conta da privatização da Eletrobras e do esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas. Essa nova alta de preços vai causar uma onda de falências de pequenos negócios, como padarias, aumentando ainda mais o desemprego, que já bate na casa dos 15%. Os alertas foram feitos por Gilberto Cervinski na noite desta quarta-feira (30) na live do Terra Sem Males, que estreou a série TSM Documento. Apresentado pela jornalista Thea Tavares, o programa teve o tema Energia Eletrica: Por que Pagamos Tão Caro?
O momento é grave e só a mobilização popular poderá reverter os danos que estão sendo causados ao setor elétrico. “Mais que um debate, esse programa é um chamamento à luta”, observou Cervinski. “A água e a energia não podem ser propriedade da burguesia”, afirma, propondo um projeto de País que beneficie o povo e não apenas os grandes negócios. Ele propõe que o roubo no setor elétrico seja incorporado aos protestos Fora Bolsonaro de 3 de julho. “É um escândalo o que estão fazendo com o sistema elétrico brasileiro”, opina.
Cervinski desenha um quadro distópico em que o acúmulo de erros e más-intenções inflou o preço da conta de luz a um ponto que ameaça os interesses nacionais e pessoais de cada brasileiro. Ele aponta a contradição embutida no mercado brasileiro de energia elétrica. Nossa matriz energética predominantemente hidrelétrica possibilita a produção com baixos custos, mas temos tarifas caras. “Custa barato produzir e caro pagar”, resume. “O preço da energia é um roubo de tão caro”, afirma.
O preço alto da conta de luz é consequência de políticas neoliberais que começaram a ser implantadas nos anos 90 e foram retomadas radicalmente pelo governo Bolsonaro. A pretexto de resolver problemas, o que se tem feito é garantir lucros astronômicos às poucas empresas que controlam o setor. Respondendo à telespectadora Cliceia Alves sobre quem controla a energia elétrica no Brasil, Cervinski estimou que não mais que 15 grandes corporações dominam o setor elétrico brasileiro, controlando 8 mil empresas, boa parte estrangeiras. No fim das contas, tudo fica na mão de bancos e fundos de investimentos que dividem as participações nas grandes empresas.
Cervinski desqualifica a ofensiva publicitária do governo Bolsonaro para justificar o aumento da conta da luz com problemas climáticos. Segundo ele, não se pode atribuir à crise hídrica a ameaça de apagão e alta de preços da energia elétrica. “Temos uma crise energética, devido à política energética nacional”, explica. “Falar em crise hídrica sugere que não há responsáveis, quando na verdade o que temos é uma política energética que entrega o que é público a grandes empresas”, detalha. Ele avalia que o governo federal está fazendo é preparar a justificativa para um tarifaço na energia, culpando a natureza por não chover e o povo por não economizar.
O programa foi transmitido na página do Terra Sem Males no Facebook, com transmissões cruzadas nas páginas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) nacional e do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará e Rondônia; da CUT Paraná; Deputada Luciana Rafagnin; portal Fotojornalismo Sindical e jornal Brasil de Fato Paraná. O formato inclui a participação de trabalhadores(as) fazendo perguntas ao entrevistado em vídeos pré-gravados. A primeira a perguntar foi Alice Ramos Machado, diarista que mora no bairro Cajuru, em Curitiba. Ela quis saber porque a luz ficou mais cara.
Cervinski disse à Alice que este tema interessa a toda a classe trabalhadora, pois o Brasil tem 75 milhões de consumidores residenciais de energia elétrica, mais 4,5 milhões clientes pequenos agricultores. Esses são denominados tecnicamente consumidores cativos, o que ironicamente explica bem a relação deles com as empresas de energia, pois devem pagar sem discutir os valores que lhes forem impostos, sob pena de corte imediato do fornecimento. Segundo ele, a conta de luz inclui compensações às empresas de energia, juros de empréstimos tomados por elas e opção por geração termelétrica, entre outros penduricalhos, por isso é tão cara.
Outra participante a perguntar para Cervinski foi Maria Ondina Leal, moradora do Gama (DF), que quis saber se a privatização da Eletrobras vai chegar no bolso dela. “Teremos um aumento médio de 25% nas contas mensais, pelos próximos 30 anos”, estimou Cervinski. Como sempre, o preço de decisões ruins cai na conta do povo. “Com tudo o que estão fazendo, o Brasil terá uma das tarifas de energia mais caras, quando poderia ter uma das menores”, afirma Cervinski.
Gilberto Cervinski é graduado em Agronomia, mestre em Energia, especialista em Economia Política e em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo. O programa teve a participação também de Jadir Bonacina, do grupo musical Mistura Popular, que se apresentou na abertura. Jair é filho de agricultores familiares do Assentamento Eduardo Raduam, em Marmeleiro (PR) .