Atingidos por barragens pedem ação de governadores para defender a Amazônia
Centenas de manifestantes organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) fizeram uma marcha na cidade de Belém (PA) na manhã desta quinta-feira (12), como parte da Jornada Nacional de […]
Publicado 12/03/2020
Centenas de manifestantes organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) fizeram uma marcha na cidade de Belém (PA) na manhã desta quinta-feira (12), como parte da Jornada Nacional de Lutas do Movimento.
A ação terminou no Hangar do Centro de Convenções, onde os governadores dos nove estados da Amazônia Legal estão reunidos com empresários para discutir “investimentos para a região”.
Os atingidos entregaram uma carta denunciando os interesses que estão por trás da destruição da floresta e da vida e propondo um outro modelo de desenvolvimento, que privilegie a vida ao invés do lucro.
Leia a carta a seguir:Carta dos Atingidos por Barragens para os Governadores da Amazônia Legal
Senhores Governadores,
Enquanto vossas excelências estão reunidas no XX Fórum de Governadores da Amazônia Legal, nós, famílias organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Estado do Pará, estamos realizando uma Jornada de Lutas por nossos direitos, em defesa dos rios, da água e da vida, também na cidade de Belém.
Somos ribeirinhos, agricultores, quilombolas, indígenas e moradores das periferias urbanas. Historicamente, temos sido vítimas de políticas que têm privilegiado apenas a concentração de renda e o saque da riqueza que pertence por direito ao povo brasileiro e ao povo da Amazônia. Assim, gostaríamos de questionar: qual o modelo de desenvolvimento pretendem construir para nossa região?
Existe um modelo que reforça a posição da Amazônia como semicolônia de recursos minerais e energéticos e reafirma sua condição de fronteira agrícola e corredor para a exportação de commodities. Este modelo provou ser bom para alguns empresários, geralmente de fora da região, e até mesmo estrangeiros. Mas para o povo, praticamente não trouxe benefícios. Pelo contrário: aumentou a miséria e a violência.
Por outra lado, é possível construir um modelo de desenvolvimento que coloque a vida em primeiro lugar, privilegiando a distribuição de riqueza, o desenvolvimento tecnológico sem predação da natureza e a utilização de recursos estratégicos para a melhoria geral das condições de vida da população seja nas cidades, nos travessões ou nas beiras dos rios. Este é o modelo que sonhamos construir para o presente e para o futuro.
E justamente porque pensamos no futuro é que alertamos para a necessidade de proteger nossa Casa Comum. Nos preocupamos profundamente com essa conjuntura de aumento acelerado da destruição do meio ambiente e ameaças à vida humana, em especial contra defensores de direitos humanos e da floresta. Assim, gostaríamos de expressar nosso posicionamento:
· Contra queimadas e desmatamentos criminosos, em defesa da Amazônia, de sua floresta, rios e biodiversidade;
· Contra a construção de grandes hidrelétricas, sobretudo aquelas com grandes reservatórios para acúmulo de água, que já se mostraram catástrofes ambientais e sociais. É hora de ousar investir em outras tecnologias de geração energética;
· Contra a liberação da mineração em territórios indígenas, por respeito à autodeterminação desses povos;
· Pelo cumprimento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que determina a consulta prévia, livre e informada aos povos tradicionais;
· Por uma política de direitos para as populações atingidas por barragens e por uma política de segurança transparente para quem vive próximo de barragens, sejam de hidrelétrica, acumulação de água ou rejeitos de mineração.
Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular!
Coordenação Estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens
Belém. 12 de março de 2020