No Chile, Arpilleras brasileiras são tema de debate sobre arte e resistência
O II° Encontro de artes têxtil e resistência foi realizado no Chile, entre os dias 22 e 24 de agosto Na mesa “Arte têxtil e direitos humanos: meio ambiente, […]
Publicado 27/08/2019
O II° Encontro de artes têxtil e resistência foi realizado no Chile, entre os dias 22 e 24 de agosto
Na mesa “Arte têxtil e direitos humanos: meio ambiente, comunidade e memória”, a doutoranda em Antropologia Social, Ralyanara Freire apresentou as arpilleras do Brasil, pautando a resistência e luta das mulheres atingidas pelas hidrelétricas na Amazônia.
Ralyanara ressalta que o MAB desenvolveu a técnica das arpilleras chilenas no Brasil a partir de 2013. Rapidamente encantou as mulheres atingidas pelas hidrelétricas, especialmente as atingidas por Belo Monte, hidrelétrica tratada pelas mulheres atingidas como Belo Monstro.
A pesquisadora realizou um trabalho de campo em Altamira, região atingida por Belo Monte, e reafirma que a convivência com as mulheres atingidas por barragens a ensinou que para se fazer uma arpillera, primeiramente é preciso ter algo a dizer, algo a ser transformado em bordado.
A experiência das arpilleras no Brasil também é contada pela ativista Esther Vital Garcia que trouxe até as mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens a técnica realizada pelas mulheres chilenas desde os anos da ditadura de Pinochet. No evento, a mesa denominada “Conflitos têxteis e a linguagem têxtil” que abordou os desafios das mulheres brasileiras no atual contexto politico e a criminalização das lideranças que lutam por direitos. “As mulheres atingidas por barragens conseguem expressar com linha e tecidos aquilo que, muitas vezes, as palavras não conseguem dizer, destaca Esther.
Para a ativista, as arpilleras representam um importante trabalho realizado pelo MAB, em diversas regiões do Brasil, é uma técnica têxtil que possibilita as mulheres contarem suas histórias, denunciarem as violações que as barragens causam em suas vidas e também reafirmar a importância das mulheres defenderem seus direitos, pontua.
O acervo da exposição reúne um maravilhoso trabalho artístico de registro e denúncia de narrativas negadas pela historiografia oficial. Por meio do fio, da juta e da linha, as mulheres tecem seus anseios de um outro mundo possível e necessário, a partir de um processo de educação popular feminista, que permite que se coloquem como sujeitas no processo de emancipação humana, que costurem sua identidade de lutadoras, e que se comuniquem por meio de uma linguagem artística atraente, delicada e universal.
As peças que estão no Chile contando a história das mulheres atingidas são: “Direitos Já”, “Prostituição nas barragens”, Água é um direito do Povo” e “Quanto Vale a Vida?”.