Festa de São Pedro é marcada por denúncias ao crime da Vale no ES

Na manhã desse domingo a tradicional festa de São Pedro em Vitória, no Espírito Santo, em sua 91º edição foi marcada por uma procissão de barcos faixas e cartazes em […]

Na manhã desse domingo a tradicional festa de São Pedro em Vitória, no Espírito Santo, em sua 91º edição foi marcada por uma procissão de barcos faixas e cartazes em denúncia a uma das patrocinadoras do evento, a mineradora Vale.

João Carlos, pescador e morador da comunidade de Jesus Nazareth, reflete sobre mudanças na festa. “A festa de São Pedro é tradicional na região, tem um grande prestigio por representar uma benção da religião às embarcações. No dia 30 saem os barcos em passeio todos enfeitados, mas as coisas têm mudado muito”, afirma.

Nesse ano, algumas das embarcações traziam as bandeiras do Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB e diversas faixas denunciando a impunidade da empresa Vale no caso do Rio Doce. Isso porque muitas das embarcações são dos pescadores camaroeiros que aguardam há mais de um ano e meio suas indenizações e reparação das consequências do crime. Eles foram reconhecidos como atingidos pelo local de pesca, já que a área dos camarões próximos a foz do Rio Doce a pesca está proibida. Para garantir a sobrevivência eles precisam pescar mais longe, tendo mais gastos e menos disponibilidade de pescado.

As empresas têm buscado tardar a reparação alegando ausência de documentos que provem o trabalho de pesca, mas os pescadores não tem como comprovar já que a informalidade marca o setor, bem como pela desestruturação do Estado na organização da pesca. Segundo o militante do MAB, Heider Boza, a Fundação Renova apresentou uma devolutiva onde afirma que não abre mão da apresentação de um documento. “Eles querem o mapa de bordo, mas por irresponsabilidade do órgão federal que fica em com o documento, a secretaria da pesca não possui. São documentos sigilosos, que nem para os órgãos fiscalizadores, como IBAMA, ICMBIO, a secretaria fornece”, preocupa-se.

É importante destacar que para a renovação de todas as licenças pela secretaria, os pescadores fazem obrigatoriamente a entrega dos mapas de bordo, sendo que todas as licenças foram diagnosticadas como regulares pela Fundação se supõe a regularidade dos mapas de bordo. Heider explica que, em 2016, com o governo Temer e as inúmeras alterações do controle da pesca que sai de ministério para secretaria, outros ministérios, e órgão gestor, todo o setor foi desestruturado, incluindo os documentos. “A própria secretaria reconhece isso. A Renova exigir os documentos que estão em posse da secretaria, mas que não existem é clara má fé, para não indenizar os atingidos”, denuncia.

Nos quase 100 anos de procissão, a festa busca refletir em seus enfeites os anseios dos pescadores, pedindo a benção para continuar reproduzindo as tradições entre as gerações, e por isso contou com grande envolvimento da comunidade da Praia do Suá. As faixas que pediam: Assessoria Técnica já; Vale assassina; Do Rio Ao Mar não vão nos Calar, traduzem o sentimento de impunidade que paira no coração dos pescadores. “O protesto na procissão, além de buscar a visibilidade, afirmar a tradicionalidade da atividade, nos últimos anos é uma festa patrocinada pela Vale. Então o objetivo era questionar que se usa dinheiro da empresa para patrocínio, mas não se paga os direitos dos atingidos, demarcando a irresponsabilidade e omissão da empresa em não reconhecer os direitos dos pescadores camaroeiros”, explica o militante.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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