“Lutamos em defesa da vida”: carta das atingidas por barragens e defensoras dos direitos humanos
Brasília, 25 de junho de 2019. Nós mulheres atingidas por barragens, conjuntamente com movimentos sociais, sindicais, organizações religiosas, e entidades da sociedade civil, estivemos reunidas no dia 25 de […]
Publicado 01/07/2019
Brasília, 25 de junho de 2019.
Nós mulheres atingidas por barragens, conjuntamente com movimentos sociais, sindicais, organizações religiosas, e entidades da sociedade civil, estivemos reunidas no dia 25 de junho de 2019, no seminário Em defesa da vida: mulheres atingidas na luta por direitos, com a tarefa de fazer o debate sobre a conjuntura nacional e internacional que estamos vivendo, e apontar os desafios na luta em defesa da vida.
Afirmamos que é momento de crise e reestruturação do capitalismo e, como consequência disso, a superexploração das bases naturais e retrocesso dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Num cenário de aumento da ideologia conservadora e fascista a nível mundial.
Essa crise implica em maior exploração das mulheres, posto que elas sustentam a carga social na ausência de direitos. Nesse sentido, observamos: o aumento da violência contra a mulher, feminicídio; a sobrecarga do trabalho de cuidado; retirada de direitos sexuais e reprodutivos; maior informalidade no mundo do trabalho. E, portanto, aumento da violação dos direitos humanos sobre a vida e os corpos das mulheres. Frente a isso denunciamos:
? Que o atual modelo energético está a serviço do capital, privilegia o lucro em detrimento do desenvolvimento humano.
? Que as barragens violam diversos direitos humanos, e exercem violações especificas na vida das mulheres atingidas;
? Que a impunidade dos crimes da Vale em Mariana e Brumadinho, permite a continuidade de violações de direitos humanos, sobretudo com a negligência na segurança de barragens e na segurança dos atingidos e atingidas;
? As inúmeras ameaças as lideranças de movimentos sociais, a perseguição política e os assassinatos das defensoras: Dilma Ferreira em 22 de março de 2019; Marielle Franco em 14 de março de 2018; Nicinha em 7 de janeiro de 2016; e Berta Cáceres em 3 de março de 2016.
? A ofensiva contra os direitos e a vida das mulheres que se materializa em inúmeras iniciativas do Estado.
? O avanço das privatizações de setores estratégicos para a soberania popular como: petróleo, energia, florestas, água, saúde e educação.
Nós mulheres atingidas e companheiras, optamos pela luta e pela vida, transcendemos a dimensão de vítimas e nos colocamos como defensoras de direitos humanos.
Diante disso, saímos desse seminário convictas afirmando os seguintes desafios:
* Promover cada vez mais a auto-organização das mulheres;
* A construção de uma agenda de luta unificada;
* A centralidade da luta contra a reforma da previdência e o retrocesso de direitos;
* A defesa da educação e saúde públicas e de qualidade ao povo;
* A defesa da nossa soberania, e a luta pelo controle e distribuição das riquezas do modelo energético;
* A importância de avançarmos no debate da segurança nas barragens e das populações atingidas, e apropriação popular dele;
* A construção de um Projeto Popular para o Brasil, que incorpore o feminismo popular.
Assim, nos propomos a seguir em luta até que todas sejam livres.
MULHERES, ÁGUA E ENERGIA NÃO SÃO MERCADORIAS!
Assinam essa carta as organizações presentes no Seminário:
Anamaria DAndrea Corbo Professora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Fiocruz
Caritas Brasileira
Centro de Assessoria e Apoio à Iniciativas Sociais CAIS
Coletivo de Mulheres Defensoras Publicas do Brasil Conselho Nacional das Igrejas Cristãs – CONIC
Consulta Popular
Ela Wiecko Volkmer de Castilho Subprocuradora do Ministério Público
Federal Federação do Sindicato dos Engenheiros do estado do Rio de Janeiro FISENGE/RJ
Federação Única dos Petroleiros FUP
Frente Brasil Popular
Fundação Heinrich Boll Stiftung
Gabinete da Deputada Natália Bonavides
Greenpeace
Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC
Levante Popular da Juventude
Maria Berenice Alho da Costa Tourinho Professora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
Mariana Andrade Sobral Defensora Pública do Espírito Santo.
Movimento de Mulheres Camponesas
Movimento dos Atingidos e das Atingidas por Barragens – MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores por Direitos – MTD
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
Movimiento de Afectados por Represas en Latinoamérica – MAR
Plataforma Operaria e Camponesa da Água e Energia
Sindicato dos Professores do Distrito Federal – SIMPRO
Terra de Direitos
Uma Gota no Oceano
Via Campesina