Centenas realizam atividades que marcam os três meses do crime da Vale em Brumadinho
A semana que marcou os três meses do crime da Vale em Brumadinho, afetando toda a Bacia do Paraopeba, foi repleta de atividades de denúncia e solidariedade. Trabalhadores em luta […]
Publicado 29/04/2019
A semana que marcou os três meses do crime da Vale em Brumadinho, afetando toda a Bacia do Paraopeba, foi repleta de atividades de denúncia e solidariedade.
Trabalhadores em luta e solidariedade
A quinta-feira (25), dia que completou três meses do crime da Vale, é marcado pelo Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes de Trabalho. Uma audiência pública da Comissão de Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa (ALMG), foi realizado em Brumadinho, no espaço Casa Nova, para debater as condições de segurança e saúde dos trabalhadores em Minas Gerais.
A atividade, promovida pelas centrais sindicais e movimentos sociais, exige das autoridades apoio imediato e integral as vítimas e familiares, reparação e indenizações justas, garantia dos empregos diretos e indiretos gerados pela Vale, compensação dos danos causados à população atingida.
No dia anterior, quarta-feira (24), foi realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais mais uma oitiva da CPI do Crime de Brumadinho. Foram ouvidos três funcionários da empresa Vale, sobreviventes do rompimento em Córrego do Feijão há três meses atrás.
Elias de Jesus Nunes, Sebastião Gomes e Waldison Gomes da Silva trabalhavam na Gerência de Meio Ambiente da empresa, na subdivisão de saneamento. Eles informaram que a Vale não fazia simulação de rompimento em situação real, somente “treinamentos” dentro de uma sala apenas apresentando aos trabalhadores os procedimentos a serem adotados em caso de rompimento. Eles afirmaram que, em mais de 10 anos trabalhando na empresa, um simulado de evacuação com sirenes aconteceu uma única vez, entre os meses de outubro e novembro de 2018. A mesma situação é relatada pelos moradores das comunidades atingidas pelo rompimento.
A região de Brumadinho recebeu a visita de uma caravana de sindicalistas de todo o país, que circularam entre as comunidades atingidas para conhecer a realidade após o crime e se solidarizar com os trabalhadores vitimados. Roger Moraes, do Sindicato Matebase, de Mariana, esteve na Caravana e denuncia que o enfrentamento em Mariana tem sido difícil ao longo desses três anos, e ensinou que sozinhos os sindicatos não tem tanta força, sendo preciso estar junto com a comunidade, com o Ministério Publico e os movimentos sociais.
Os trabalhadores e familiares estão passando por esse momento difícil e ainda ter que negociar, é muito angustiante. Se chegar negociação individual na Justiça vai estra mais enfraquecido diante do Capital, das empresas. É preciso estar sempre unido e organizado, com confiança de que vamos conseguir muito mais assim, e acabar com esses crimes na nossa Minas Gerais, afirma o trabalhador.
O rejeito da Barragem Mina Córrego do Feijão, que matou centenas de trabalhadores e trabalhadoras, é o segundo maior rompimento de barragens no mundo com óbitos. O horário do rompimento, às 12h28, atingiu uma grande massa de trabalhadores, que estavam dentro dos refeitórios da Vale e na unidade administrativa da Vale. É um crime contra os trabalhadores e ao meio ambiente, denuncia Joceli Andreoli, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Luto e resistência de moradores atingidos
O dia 25 também marca momento de luto de familiares das vítimas do rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão. Homenagem foi realizada em culto ecumênico às 12h28, horário do crime, contemplando a união e também a indignação de toda a população de Minas Gerais. O grupo fez um apelo aos Bombeiros de Minas Gerais para a continuidade das buscas e ao IML para garantir a agilidade no reconhecimento das vítimas.
Por mais árduo que seja todo esse processo, estamos juntos relembrando e nos manifestando. Nunca mais as vidas dessas famílias serão as mesmas, há os que perderam casas, terras e plantações, mas as vidas perdidas não se recuperam. Que essas vítimas nunca mais sejam esquecidas, estarão vivos em Deus e em nossos corações, declara, emocionada, uma familiar durante o ato.
Os atingidos pelo crime da Vale, organizados no MAB, participaram no mesmo dia da Reunião Pública com os Promotores de Justiça de Minas Gerais, Procuradores da República e Defensores Públicos da União, para apresentar para população o acordo firmado a portas fechadas entre a Vale e a Defensoria Pública de Minas Geais.
Durante a atividade, foram destaque os pontos do acordo que apontam as armadilhas da Vale aos atingidos. O Promotor do Ministério Público André Sperling aponta que o principal ponto negativo do acordo é a falta de participação dos atingidos em sua elaboração. Ele também aponta que há no documento uma série de situações que representam menos do que foi dado aos atingidos de Mariana, já abaixo dos direitos dos atingidos.
Em Mariana foi garantido que as pessoas que vão negociar casas e terrenos mantivessem a propriedade, por exemplo no caso de Bento Rodrigues. Em Brumadinho, eles querem fazer negociação e querem ficar donos dos terrenos. Isso é menos do que em Mariana. É um desrespeito, que a Vale comete um crime pela segunda vez e quer ficar com o terreno de vocês, indigna-se o promotor.
No entanto, a principal armadilha apontada por André no acordo firmado entre a Vale e a Defensoria Pública é a obrigatoriedade de assinatura do um Termo de Quitação. Ou seja, qualquer negociação que vá ser feita individualmente entre um atingido e a empresa criminosa deverá ser assinado um termo dizendo que toda a dívida está paga, que o atingidos não irá receber mais nenhum direito dali pra frente. Por exemplo, se um atingido entregou o terreno por R$10 mil, e o vizinho aguardou a negociação coletiva e recebeu R$50 mil, aquele que fez acordo individual não vai mais poder pedir nada.
Se negociarem os direitos de vocês, eles não vão poder mais ser discutidos. Isso é muito sério e é algo que ocorreu em Mariana, no detrito de Gesteira. A Vale quer fazer um acordo antes da chegada da Assessoria Técnica, que em Barra Longa garantiu mais direitos aos atingidos, de forma participativa e justa, informa.
Artistas demonstram solidariedade em ato cultural
No fim do dia 25, a programação de lutas dos três meses do crima da Vale em Brumadinho terminou com um Ato Cultural construído pela Frente Brasil Popular Minas em colaboração com o MST e o Movimento dos Atingidos por Barragens.
Em frente à Igreja Matriz de São Sebastião se apresentaram artistas como Flávio Renegado, Sérgio Pererê, Zé Pinto, Djambê, Fernanda Takai e outros. Eles se solidarizaram e deram visibilidade à luta dos atingidos.