Câmara dos Deputados realiza sessão solene em homenagem a luta dos atingidos

No plenário, deputados alertaram para a perversidade do crime da Vale em Brumadinho e destacaram a demora da casa em instalar CPI, aberta nesta quinta (25) Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados. […]

No plenário, deputados alertaram para a perversidade do crime da Vale em Brumadinho e destacaram a demora da casa em instalar CPI, aberta nesta quinta (25)

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados.

 

Com foco no debate da questão de Brumadinho e na complexidade do tema da mineração no país, foi realizada nesta quarta-feira (24) uma sessão solene na Câmara dos Deputados, organizada pelos deputados Zé Silva (Solidariedade/MG) e Rogério Correia (PT/MG).

As falas dos parlamentares na sessão esbarraram na análise de que a própria Câmara demorou a exercer o devido papel no caso de Brumadinho, já que passados três meses do crime, no dia da sessão, ainda não havia data de início dos trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as responsabilidades da Vale. Nesta quinta-feira (25), foi instalada a CPI com relatoria do deputado Rogério Correia (PT/MG) e Júlio Delgado (PSB/MG) como presidente da comissão.  

A atividade contou com a presença do prefeito de Brumadinho Avimar de Mello Barcelos, conhecido como Nenen da Asa, Darcy Santana Vitobello, subprocuradora geral da República, Deputado Estadual Prof° Wendel Mesquita, representando a Assembleia Legislativa de Minas Gerais e Pablo Dias, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens – além de outros deputados e representantes de órgãos ligados ao assunto, como a Defesa Civil.

Pablo Dias, da coordenação do MAB, informa que na comparação do processo de Mariana com Brumadinho, algumas distorções foram corrigidas: o cadastro dos atingidos, desta vez, não foi feito pela empresa, que também não ficou responsável pela contratação dos profissionais de saúde; além disso, não houve, em Brumadinho, a criação de uma fundação de gerenciamento da reparação, como existe a Fundação Renova em Mariana. “Tudo isso foi graças a luta, mobilização e organização”, afirma o coordenador do MAB.

 

Pablo Dias, da Cordenação Nacional do MAB, no plenário da Câmara. Foto: Luis Macedo/ Câmara dos Deputados.

 

“Nós somos os pais que perderam seus filhos e somos os filhos que perderam seus pais, estamos em sofrimento eterno com mais de 40 parentes nossos ainda não encontrados na lama, nós somos milhares de moradores desabrigados em Mariana, Bento Rodrigues, Brumadinho e outros tantos locais do Brasil.” ilustra Pablo Dias.

Após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, outras regiões próximas também permanecem em estado de alerta. É o caso de Congonhas, onde os atingidos sofrem com a incerteza sobre a segurança de outras barragens.

Uarlei, que é morador de Congonhas, relatou, na sessão solene, situações preocupantes, muitos idosos e crianças com dificuldade para dormir, e o aumento de pedidos de remédios de uso psiquiátrico nos postos de saúde.

“Conhecemos idosos que não dormem e passam a noite em claro, na janela, olhando fixamente para a barragem; tem um caso que me chamou muito a atenção de uma família em que há o revezamento: o pai dorme um pouco e mãe dorme o outro pouco da madrugada”, contou Uarlei. De acordo com o atingido, faz 10 anos que os moradores do município cobram da empresa CSN um informe sobre a situação da barragem de Casa de Pedra e até agora não houve nenhuma resposta, mesmo após a tragédia de Brumadinho.

Deputados eleitos pelo estado de Minas Gerais representaram a maior parte das falas do evento. Áurea Carolina (PSOL/MG) fez sua exposição lembrando da luta histórica dos movimentos relacionados ao tema e deu informes sobre o andamento da Comissão Externa para a construção de um marco regulatório sobre a mineração. “É preciso urgência na mudança da política de mineração do país, que é baseado na predação e violação dos direitos humanos”, disse a deputada.

O deputado Padre João (PT/MG) citou o poder econômico e, inclusive, político das grandes empresas ligadas à atividade e explicitou a contradição das empresas imporem a forma de tratamento dos atingidos por barragens após as violações.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro