18 dias depois do crime, a rotina de Parque das Cachoeiras mudou completamente

A comunidade era considerada um paraíso para seus moradores, hoje eles tentam recuperar as perdas por conta própria   O dia amanheceu nublado com chuvas finas e constantes no ultimo […]

A comunidade era considerada um paraíso para seus moradores, hoje eles tentam recuperar as perdas por conta própria

 

O dia amanheceu nublado com chuvas finas e constantes no ultimo dia 06 de fevereiro, 13º dia após o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão. Em Parque das Cachoeiras, uma das comunidades atingidas, as buscas pelos 182 desaparecidos estavam suspensas pelo corpo de bombeiros durante a manhã e, por isso, não ouvimos mais os barulhos dos helicópteros. O Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB está no local há 18 dias e acompanha as movimentações que acontecem no local e mudam as rotinas dos moradores.

A Vale, empresa responsável pelo rompimento da barragem, foi transformando a paisagem do bairro ao longo dos dias. Foram instalados 09 contêineres, 08 banheiros químicos e 07 tendas em cima do único campo de futebol e área de lazer. Os contêineres são de uso da empresa, que cede alguns para órgãos públicos, por exemplo a Policia Civil e a Defensoria Pública. As tendas são usadas pela comunidade para as Assembleias.

Miguel, de 07 anos, e Tailer, de 08, reclamam das pedras de brita que colocaram no campo para facilitar a entrada de carros e caminhões. Ao ser perguntando o que achava da movimentação no campo de futebol, Tailer disse: “Tô achando ruim. Se uma bola cair aqui pode furar, tem pedras muito pontudas”. Lucas Martins, do MAB, está organizando a ciranda para as crianças brincarem e opinou sobre as mudanças: “As crianças sentem um pouco de transtorno por já terem perdido um pouco da fauna e flora da região e agora o seu lugar de lazer”.

 

VOLUNTÁRIOS

ONGs e associações religiosas prestam sua solidariedade aos atingidos. O grupo Sussuarana está a uma semana em Brumadinho e trouxe voluntários de São José dos Campos e Sorocaba, São Paulo, e de Manaus, no Amazonas, para contribuir com as demandas da comunidade, do órgãos militares ou “de quem tiver precisando” como disse Paulo César, líder da equipe. Já os voluntários Sidney da Cruz, Pastor Sandro e seu filho, Pastor Sandro Lemos, da Igreja do Nazareno, vieram de Brasília trazer doações: “Chegamos ontem e deixamos doações em Brumadinho, aqui em Parque das Cachoeiras. Estamos disponíveis para ajudar as famílias, mas voltamos hoje para casa”.

Valdir Gonçalves mora há 23 anos em Parque das Cachoeiras, ele levou seus dois cachorros e o cachorro da sua filha para tirar sangue, ele tem medo que a lama contamine os animais da região. A veterinária voluntária, Erika Kolandim, disse que conseguiu como doação 30 exames de leishmaniose de um laboratório. “Vamos fazer o diagnóstico de leishmaniose dos cachorros e aqueles que forem aptos serão castrados na semana que vem”.

 

VIDAS ALTERADAS

As famílias que ainda não preencheram os formulários de necessidades emergenciais estão sendo atendidos pela Secretaria de Estado de Impacto Social. As assistentes sociais do INSS, Erika Silva e Angelita Rangel, também estão no local para auxiliar as famílias e informá-las sobre como dar entrada em procedimentos como pensão por morte e auxílio doença. Elas afirmam que a superintendência regional do INSS na qual Brumadinho é vinculada aumentou o seu efetivo para atender aos pedidos. “Os cadastros estão sendo feitos no SERAC – Serviço de Atendimento ao Cidadão, na câmara municipal de Brumadinho, ou na agência do INSS aqui na cidade. Estamos apenas orientando como dar entrada no pedido, informando quais documentos levar, coisas do tipo”, afirma Erika.

Depois de 18 dias, os moradores estão tentando resolver os problemas criados pelo crime da Vale aos poucos, por conta própria. Dona Conceição Cosme Dias, de 84 anos, morava há 31 anos em Parque das Cachoeiras e se mudou para o bairro Barreiro, em Belo Horizonte, na última sexta-feira.  Ela vai morar com os filhos após o pedido insistente deles. “Aqui (em Parque das Cachoeiras) é uma família. Mas meus filhos estão muito preocupados e então vou morar com eles”. Ao ser perguntada se a Vale tinha organizado a mudança dela e do marido, ela respondeu: “Não tem nada a ver com a Vale não, vamos conta própria”.

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