Salto da Divisa, a cidade sobre as águas
Buracos enormes abrindo no asfalto, casas desabando, paredes rachadas e ruas desniveladas. Os moradores da cidade de Salto da Divisa- MG, situada no Vale do Jequitinhonha, lidam com esta realidade […]
Publicado 17/01/2019
Buracos enormes abrindo no asfalto, casas desabando, paredes rachadas e ruas desniveladas. Os moradores da cidade de Salto da Divisa- MG, situada no Vale do Jequitinhonha, lidam com esta realidade no seu dia a dia, durante anos.
O município é atingido pela Barragem de Itapebi construída há 20 anos na cidade de mesmo nome. A barragem é propriedade da empresa espanhola Iberdrola e do grupo Neoenergia. Para sua construção foi inundado um bairro, diversas casas e várias famílias foram expulsas de suas residências, indenizadas injustamente, desrespeitadas e desconsideradas.
Além de diversos problemas que precisam lidar cotidianamente devido a construção da barragem, a população de Salto da Divisa vive atualmente uma consequência assustadora, a inundação das terras abaixo da cidade, ou seja a formação de um lençol freático por baixo do município.
Weslley de Morais, professor universitário e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB, explica que quando a barragem foi construída e o lago da barragem encheu, seu volume chegou a 120 metros, 80 metros acima da previsão inicial, que era apenas 40 metros. Quando fecharam as comportas da barragem, há 20 anos, a população da cidade ficou olhando de longe e chorando bastante, alguns inclusive passaram muito mal, relata.
Com uma grande quantidade de água retida em um lago que não aguenta o volume muito alto, as águas começaram a invadir o solo, criando lençóis freáticos embaixo da cidade. Em alguns pontos do município, é possível encontrar água a apenas 6 metros da superfície quando é feita a perfuração para a abertura de poços artesianos.
Como consequência, as casas e ruas da cidade têm sido abaladas, criando buracos em paredes, desabamento de muros, e praças com verdadeiras crateras. A casa da moradora Edileia Aparecida Vilela já teve seis de suas paredes desmoronadas e não tem para onde ir. Hoje vive no último cômodo que restou de sua residência, correndo sérios riscos. Outro exemplo é o de D. Lina, com mais de 70 anos, que se feriu recentemente quando uma telha de sua casa caiu em sua cabeça.
Desde 2015, com a presença do MAB, os moradores lutam com a empresa para reconhecer o problema e tomar providências. Segundo Weslley, é comum a empresa não receber os atingidos ou atender as ligações, agindo propositadamente com descaso.
A justificativa da empresa é sempre a mesma, usa como respaldo a Lei do Lava-pés, assinada na Câmara Municipal quando a barragem foi construída. Segundo a lei, o grupo Neoenergia tem responsabilidade apenas por aqueles que vivem em até 100 metros de proximidade do lago, desconsiderando quase todo o município atingido.
A população segue em luta e vigilante, cobrando do poder público e do grupo Neoenergia a sua responsabilidade com os moradores de Salto da Divisa.