Mudança no modelo energético é uma questão global
É urgente a necessidade de mudança do modelo energético, e essa transição deve se dar de forma justa. Essa é a constatação debatida na mesa Garantir uma transição de energia […]
Publicado 15/03/2018
É urgente a necessidade de mudança do modelo energético, e essa transição deve se dar de forma justa. Essa é a constatação debatida na mesa Garantir uma transição de energia justa para todos, que foi realizada na 13° edição do Fórum Social Mundial 2018, em Salvador, na quinta-feira (15).
O atual modelo de energia atende apenas ao grande capital, às grandes empresas e transacionais, e ao povo sobra apenas o ônus desse modelo. No Brasil temos mais de um milhão de atingidos que não tiveram a reparação de seus direitos garantida, e ainda hoje o modelo segue violando direitos, afirma Rogério Hohn, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Ele aponta que o caminho para a transição justa de energia passa principalmente pela mudança no modelo de sociedade, que transforma água e energia em mercadoria, gerando altos lucros aos acionistas e mercado financeiro. Após a década de 90 com a onda de privatização no Brasil, passamos a ver a geração de energia sendo tratada como um negócio, e não mais um direito do povo, indigna-se Rogério. Ele conta que no país, metade da energia consumida está nas mãos de apenas 650 grandes empresas, mas o desenvolvimento não chega até a população e municípios atingidos por barragens. Esse é o caso de Casa Nova, na Bahia, que foi totalmente reconstruída após a construção da Barragem de Sobradinho na década de 70 e até hoje 70% de sua população está no escuro.
Lydia Mogano, da SAFCEI, na África do Sul, denuncia que em seu país o governo tem se colocado a serviço dessa mesa de negócios em que se transformou a água e energia em todo mundo, realizando diálogos a portas fechadas com grandes empresas privadas e transacionais. Toda a sociedade deve estar na mesa e a negociação deve ser justa, com participação pública e a decisão de todos, reforça.
Para Lydia, o mundo hoje tem capacidade tecnológica suficiente para que todos tenham acesso à energia solar, não ficando um cidadão no escuro. No Brasil, o MAB apresenta experiências de instalação de placas solares em domicílios de diversas regiões diferentes, totalizando 4 mil placas.
Rogerio conta que a placas apresentam mudanças reais na vida da população, desde a redução na conta de energia, melhoria na condição de vida e até mesmo possibilitando a produção de alimentos por meio da energia recebida. No entanto, o militante reforça que apenas a mudança na tecnologia da geração de energia não é suficiente para que essa transição de energia seja justa, para isso é preciso se atentar a serviço de quem ela está.
A crise energética vai ser resolvida no campo do para quem, se está a serviço do capital ou do povo, e tem que ser para o povo. O aceso à energia é também garantia de desenvolvimento humano como o uso de todos os bens comuns. Água e energia não são mercadoria, reafirma Ibis Fernández Honores, da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru.
Ela reforça que todo o movimento sindical de seu país está comprometido com essa luta, e o fortalecimento de parcerias estratégicas com organizações e movimentos de todo o mundo é fundamental. A disputa se dará pela água e os setores mais vulneráveis serão os mais atingidos. O campo sindical não vai conseguir fazer isso sozinho, garante.
Para o MAB, transição justa de energia passa por três principais pontos: a mudança no modelo de sociedade, que hoje transforma o que é direitos em mercadoria; a garantia da soberania dos povos; e a conquista de desenvolvimento e melhorias nas regiões diretamente atingidas. Para consolidar esta transição justa é preciso seguir na luta popular por conquistas, consolidar no Brasil a Plataforma Operária e Camponesa de Energia e principalmente fortalecer as parcerias e solidariedade internacional, garante.
Manuela Matthess, da Friedrich-Eberthtiftung (FES), conclui que é fundamental a transição justa de energia, mas devem ser pensados também outras formas sustentáveis de sociedade, como a urbanização, agricultura, transito e outros. Devemos pensar em todos ao mesmo tempo, pois estão inter-relacionados. Vamos fortalecer a nossa aliança para oferecer soluções e estes grandes desafios da nossa sociedade atual, convida.