Água e a vida das mulheres
No próximo dia 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, atingidas por barragens se mobilizam em defesa ao acesso e controle público da água A água é um […]
Publicado 27/02/2018
No próximo dia 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, atingidas por barragens se mobilizam em defesa ao acesso e controle público da água
A água é um direito humano fundamental e imprescindível a todos os seres humanos, que devem dispor de quantidade e qualidade suficiente para a reprodução da vida. Salubre, acessível e de baixo custo para o uso pessoal e doméstico. No entanto, no mundo, 3 a 4 bilhões de pessoas não têm acesso à água ou se utilizam de uma água sem condições saudáveis ao consumo.
No Brasil, apesar de comportar 12% da água potável superficial do planeta, a distribuição dos recursos hídricos ocorre de maneira bastante desigual, o que cria um cenário de incertezas e conflitos sociais. Com a falta de vontade política e investimentos em programas de abastecimento de água, centenas de pessoas foram forçadas a migrar de suas regiões, em busca de sobrevivência, e outras a resistir e lutar pela água.
Essa realidade assola diversas regiões de todo o país. Nesta sociedade, na qual o capitalismo e o patriarcado prevalecem, as mulheres aparecem como as mais prejudicadas neste cenário de falta de água. Apesar de sofrerem, a força e a resistência das mulheres se evidenciam na busca por estratégias para driblar e superar o problema da falta de água.
Dentro do contexto e estrutura familiar nesta sociedade, são designadas às mulheres tarefas domésticas e a referência da logística do funcionamento dos lares. Quando há falta de água, o trabalho das mulheres aumenta.
Por exemplo, nos locais de regiões semiáridas, onde existe grande presença de monoculturas de eucalipto e café que sugam toda a água do território, são as mulheres que saem de suas casas e territórios em busca de água nos mananciais que ficam a quilômetros de distância, com latas e baldes pesados na cabeça.
Historicamente na sociedade patriarcal e capitalista, o papel dado à mulher é de cuidar da casa. No caso da falta de água, são as mulheres do meio rural que saem de suas residências para buscar água para a família em baldes e latas, geralmente em grandes distâncias. Essa condição precária prejudica a saúde da mulher, que com o tempo apresenta vários adoecimentos, como dores na coluna, comenta Aline Ruas, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Embora o semiárido protagonize os maiores conflitos pela água, o crime em Mariana trouxe à tona o avanço e descaso do capital com a fonte de vida humana. Em 2015, o rompimento da Barragem de Fundão, que pertence às mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton, destruiu diversos municípios, matou 19 pessoas e contaminou um dos principais flúmen de Minas Gerais e Espirito Santo, o rio Doce.
A contaminação da bacia do rio Doce trouxe insegurança para as cidades urbanas abastecidas por ele. Após milhares de pessoas ficarem dias sem água, o reabastecimento voltou a ser feito pelo rio, no entanto o consumo humano da água não é feito desde que a lama prejudicou o manancial. A incerteza sobre a presença de metais na água inibiu a população a consumi-la.
Na cidade de Cachoeira Escura, no Vale do Aço, o único local para buscar água é uma bica, onde as mulheres, a grande maioria idosas, enfrentam filas durante horas para pegar água, levar aos lares e realizarem trabalhos domésticos, cozinhar e dar aos animais, comenta Aline. Outra situação é dos moradores que tiveram de colocar no orçamento a compra de água mineral para beber. Esses são outros prejuízos não contabilizados pelas mineradoras, ressalta.
Portanto, a água e o saneamento são direitos importantes para a vida das mulheres, pois quando a água não é tratada, escassa ou contaminada, as crianças e idosos sofrem com adoecimentos, como doenças contagiosas e verminoses. Às mulheres cabe um adicional na jornada de trabalho doméstico com os cuidados extras aos membros da família.
A luta pela água sempre teve atuação das mulheres, pois existe uma forte relação com a água. Seja no campo ou na cidade, a mulher sofre com a falta de água e a má qualidade, o que interfere diretamente no aumento de sobrecarga de trabalho das mulheres. Dessa forma, a defesa pela soberania da água é uma luta que estamos dispostas e vamos fazer, conclui a coordenadora.
8 de março
O trabalho da mulher está nas matrizes da sociedade. Este trabalho se mostra em duplas e triplas jornadas. Essa construção social reafirma a naturalidade de serviços que sobrecarregam a vida das mulheres.
Mas a desconstrução desse sistema estará no grito de cada mulher no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, quando se mostrará a resistência das mulheres no enfrentamento do patriarcado, na luta por igualdade de gênero.
Neste 8 de março mulheres do campo e da cidade saem as ruas para dizer não aos retrocessos contra a classe trabalhadora e mostrar que estão unidas na construção da democracia.
FAMA
As mulheres atingidas por barragens se mobilizam para o Fórum Alternativo Mundial da Água. O FAMA é um evento internacional e democrático que pretende reunir organizações e movimentos sociais de diversos países que lutam em defesa da água.
Este Fórum se contrapõe ao autodenominado Fórum Mundial da Água, que é um encontro promovido pelos grandes grupos econômicos que defendem a privatização das fontes naturais e dos serviços públicos de água.
O Fórum Alternativo Mundial da Água – FAMA 2018 – acontecerá entre os dias 17 e 22 de março de 2018, em Brasília – DF. Nos dias 17, 18 as atividades acontecerão na UnB Universidade de Brasília e entre os dias 19 a 22 será realizada as plenárias unitárias no Parque da Cidade em Brasília.