Nota de Solidariedade à comunidade de Tanquã
Nós do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) do estado de São Paulo somos solidários à colônia de Pescadores de Tanquã e denunciamos o ato arbitrário e autoritário da empresa […]
Publicado 01/11/2017
Nós do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) do estado de São Paulo somos solidários à colônia de Pescadores de Tanquã e denunciamos o ato arbitrário e autoritário da empresa transnacional estadunidense do setor de energia, a AES Tietê.
A comunidade de Tanquã vive na beira do remanso da barragem de Barra Bonita construída nos anos 60 há mais de quatro décadas no município de Piracicaba, no estado de São Paulo. A comunidade historicamente vem tendo apoio de ambientalistas, estudantes, movimentos sociais e sindicais, professores e diversas pessoas da sociedade em geral, foram firmes no posicionamento contra a construção da barragem de Santa Maria da Serra, que afetaria toda a população da comunidade, o mini pantanal, do estado de São Paulo, em que habita espécies de animais como o tuiuiú, jacaré, entre outras centenas de variedades de animais.
No inicio deste ano na jornada de luta do 14 de Março, Dia Internacional de Luta contra as Barragens em defesa dos rios e da vida, o MAB entregou na secretaria estadual de saneamento de Recursos Hídricos, a pauta estadual dos atingidos, entre as pautas também afirmava o cancelamento da construção da barragem de Santa Maria da Serra.
Houve cinco audiências públicas, e o projeto foi cancelado por tempo indeterminado em março deste ano.
Logo após o cancelamento, a AES veio a comunidade mapear as casas das famílias e que receberam após algumas semanas, sem nenhuma explicação clara, cartas de aviso para remoção de suas benfeitorias, e para outras famílias, a remoção de toda a casa.
Essas famílias que construíram suas casas, benfeitorias que vivem ali em harmonia com a natureza com o suor de seu trabalho como pescadores, receberam essa ordem da AES para demolir seu espaço de abrigo e suporte de trabalho. Vão receber alguma indenização pela benfeitoria construída? Vão receber alguma casa em troca da sua? Vão morar onde? Se ali viveram toda sua vida, são pescadores, vão viver do que? Serão extirpados do seu local de morada, onde tem seus costumes, trabalho, seus vizinhos, sua forma de viver? Essas questões perturbam a todos os atingidos.
E porquê somente agora a AES quer reflorestar essa área especifica? Justamente nessa comunidade, que resistiu a construção da barragem, que afetaria toda fauna e flora, que vive da pesca, em harmonia com aquele ambiente. Não somos contra reflorestamento, defendemos e lutamos pela natureza, dependemos da natureza para viver e para comunidades como a de Tanquã, é intrínseco na sua forma de viver. Questionamos também o procedimento e com que base a AES tem tomado essa ação;
Na beira do lago há condomínios de casa de férias, fazendas entre outras atividades no rio e na beira do rio e lago, a AES também está verificando estes casos? Ou apenas vai penalizar mais uma comunidade tradicional de vida mais simples, causando o empobrecimento dessas famílias?
Cabe destacar que a AES Tietê foi privatizada pelo PSDB em 1999 e nestes 18 anos que se passaram teve zero de investimento para aumentar a capacidade de geração. Nos últimos 11 anos (2006/2016) esta empresa teve R$ 7,5 bilhões de lucro líquido. E mandou todo dinheiro como remessa de lucro (110%), ou seja, neste mesmo período pagou R$ 8,17 bilhões em dividendos para seus acionistas fora do Brasil. Todo este lucro é as custas do povo através da construção de barragens, do alto preço da energia cobrado na conta do povo todo mês e na exploração dos recursos naturais.
Reafirmamos todo apoio as famílias da colônia de pescadores de Tanquã e denunciamos a forma arbitrária e sem diálogo como a AES Tietê vem atuando contra a essa comunidade. Reiteramos a importância da luta e organização das famílias de Tanquã e de todas as populações atingidas por barragens em defesa de seus direitos e por soberania.