Atingidos pela Samarco celebram missa em Igreja no distrito de Paracatu
Comunidade celebrou a primeira missa dentro da Igreja depois da chegada da lama Usar a igreja de Santo Antônio novamente sempre foi uma reivindicação da comunidade de Paracatu de Baixo, […]
Publicado 20/09/2017
Comunidade celebrou a primeira missa dentro da Igreja depois da chegada da lama
Usar a igreja de Santo Antônio novamente sempre foi uma reivindicação da comunidade de Paracatu de Baixo, já que apesar de ser atingida, ela permaneceu erguida. Muitas atividades que antes eram feitas dentro da igreja passaram para o lado de fora, em cima da lama, em alguma casa que restou em pé ou embaixo de tendas, como festas e velórios.
Uma decisão muito importante tomada pela comunidade foi deixar as marcas da lama na Igreja e não pintá-la, como propôs a empresa. Depois de muita burocracia e promessas não cumpridas, a comunidade de Paracatu de Baixo celebrou nesse domingo, dia 17 de setembro, a primeira missa dentro de sua igreja depois da chegada da lama, há quase dois anos do crime do rompimento da barragem de Fundão.
A missa fez parte das celebrações da festa do Menino Jesus, celebração tradicional em Paracatu de Baixo, que contou também com hasteamento de bandeira, folia de reis, procissão e leilão. A comunidade se fez presente nas celebrações, com cerca de 120 pessoas que deixaram a igreja cheia. Muitas das comunidades ao redor, que também foram atingidas pela lama da Samarco, compareceram.
No dia anterior, sábado (16), apenas 50 moradores participaram do hasteamento da bandeira de Menino Jesus, porque o ônibus combinado com a Samarco para levar os atingidos que hoje moram na cidade de Mariana até o distrito destruído pela lama não se efetivou.
Celebrar dentro da Igreja que, apesar de ter as marcas da lama, resiste em pé mostra a possibilidade de resistência e esperança frente a toda essa tragédia, disse Padre Alex durante a celebração.
Durante a procissão, enquanto caminhavam olhando as ruínas de suas casas, cantavam: E ainda se vier noites traiçoeiras, se a cruz pesada for, Cristo estará contigo. O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo. Ouvindo a música era impossível não relembrar o dia do crime e toda luta por direitos advinda daí, incluindo o direito a usar aquele território e a igreja, o direito a ter uma nova comunidade e o direito a terem suas vidas de volta.
Após a procissão ainda teve apresentação da folia de reis dentro da Igreja, leilão de um bezerro na quadra, almoço na casa do festeiro e música. Foi muito importante celebrar aqui dentro, foi aqui que vivi todos os meus sacramentos”, comentou a atingida Pilar, durante a folia de reis.
A comunidade de Paracatu de Baixo mostra a coragem de lutar por seu direito de acesso a igreja, por sua ousadia de celebrar em um local tomado pela lama e ocupar seu território. A participação e união de todos pela fé demonstrada em outras festas já realizadas no distrito depois do rompimento da barragem. Está prevista para próxima celebração na comunidade a festa Nossa Senhora Aparecida, comemorada no dia 12 de outubro.