Crime da Samarco: 22 meses de impunidade do rompimento da barragem em Mariana (MG)

Processos judiciais contra as mineradoras estão suspensos e iniciativas para reparar as famílias ainda continuam no papel Quando o relógio apontava quatro horas da tarde do dia 5 de novembro […]

Processos judiciais contra as mineradoras estão suspensos e iniciativas para reparar as famílias ainda continuam no papel

Quando o relógio apontava quatro horas da tarde do dia 5 de novembro de 2015, um estrondo chegou aos ouvidos dos moradores de Bento Rodrigues, município de Mariana (MG). A Barragem de Fundão havia se rompido. Começava ali o maior crime ambiental da história do Brasil.

Em números totais foram 19 mortos, um aborto forçado pela lama e 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minérios que se espalharam pelos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce até a sua foz, em Regência (ES). Mas, a complexidade dos impactos na vida de cada atingido ainda é incalculável. Contaminação das águas, problemas de saúde (física e mental), moradias destruídas, perda de fontes de trabalho e renda e dispersão dos laços comunitários são alguns dos muitos problemas encontrados ao longo desses 22 meses de crime continuado.

Mas, alguns desses traumas não foram causados apenas em decorrência do fatídico dia do rompimento da barragem das mineradoras BHP Billiton, Samarco e Vale. Eles foram agravados ou surgiram no decorrer do processo de negação de direitos em conluio com a Justiça. Essa é a opinião de Thiago Alves, integrante da coordenação estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em Minas Gerais.

“A nossa experiência acompanhando a bacia do rio Doce mostra que a Justiça brasileira atua para beneficiar as empresas criminosas. Hoje, todos os principais processos contra as mineradoras estão parados”, denuncia Thiago.

Foto: Isis Medeiros

Ainda não há data para início das obras

Além destas paralisações na Justiça, os acordos alcançados até agora beneficiam as empresas. Um deles foi o que criou a Fundação Renova, braço publicitário das empresas responsável oficialmente pelo processo de reparação.

É a Fundação Renova a responsável pelas novas comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, destruídas em Mariana, e também Gesteira, pertencente ao município de Barra Longa. Os projetos dos reassentamentos em Mariana estão atrasados, com estudos questionados pelos órgãos públicos e pelos atingidos e não há data para o início das obras. Em Gesteira, 22 meses depois, a empresa não iniciou a construção de 9 casas, uma igreja e um campo de futebol.

Assim é ao longo da bacia do rio Doce. “A Samarco, a Vale e BHP Billiton, com todo o seu poderio político e tecnológico, impuseram um acordo autoritário e conduzem na bacia a transformação do direito em mercadoria. Nenhuma ação definitiva avançou: moradia, reativação econômica, indenização justa, água limpa”, comenta Thiago.

Dúvidas sobre qualidade da água

Em Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, em Governador Valadares, Colatina, Linhares e outras cidades que tratam a água do Rio Doce ainda existem muitas dúvidas sobre a segurança do seu uso. Muitos problemas de saúde são registrados, incluindo reações estomacais e de pele por causa da água e a população pesca e come peixes potencialmente contaminados por metais pesados, conforme indicam vários estudos de universidades.

“Nossa certeza, vinda da experiência de luta, é de que não será a Justiça a garantir o direito. Somente a organização popular de longo prazo será capaz de assegurar a dignidade e o respeito em toda a bacia do rio Doce”, opina Thiago.

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