Samarco (Vale/BHP Billiton) matou Uatu
No segundo dia da Marcha 1 Ano de Lama e Luta, o grupo de atingidos chega a Governador Valadares (MG), maior cidade atingida pela lama com rejeitos da Samarco (Vale/BHP) […]
Publicado 02/11/2016
No segundo dia da Marcha 1 Ano de Lama e Luta, o grupo de atingidos chega a Governador Valadares (MG), maior cidade atingida pela lama com rejeitos da Samarco (Vale/BHP) , e região onde também foram impactadas tribos indígenas, como a Krenak. O representante da aldeia, Geovani Krenak, fala sobre a influência que o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), teve sobre o cotidiano da aldeia e sobre a morte do Uatu, nome utilizado pela tribo para o Rio Doce.
LEIA ESTA E OUTRAS NOTÍCIAS SOBRE O CRIME DA SAMARCO NO SITE ESPECIAL “TRAGÉDIA ANUNCIADA”
Nosso povo não sabia o que tava acontecendo, a gente via noticiários e a gente não sabia que a lama chegaria muito longe, do local do rompimento até nossa aldeia. Os peixes foram ficando tontos, muito peixe, e eles começaram a morrer. Nós elaboramos um documento exigindo da empresa uma providência, e também água, narrou Giovane. Estas medidas não foram tomadas pela empresa, deixando a tribo, já criminalizada na sua luta pela manutenção do meio ambiente, desamparada. Geovani comenta também sobre a não aceitação da luta dos Krenak, e como a falta do recurso hídrico para diversos municípios mudaram esta visão.
A tribo Krenak não foi a única afetada, os indígenas Tupiniquins também tiveram seu cotidiano alterado, e a Samarco (Vale/BHP) não tomou providências para qualquer tipo de reparação em relação a esta população, que já é marginalizada em nosso país, desconsiderando a importância histórica e cultural desta parcela de brasileiros e brasileiras. O cacique Antônio Carlos, da tribo Tupiniquim, também destaca a falta de assistência das empresas e o descaso com seu povo, contando que também foram atingidos, e que merecem reparação pelo que foi feito, desestabilizando a aldeia, que dependia exclusivamente do rio para sua sobrevivência.
A própria instalação da linha férrea, na década de 80, levou a tribo Krenak a conflitos com a Vale. Nós não somos contra o progresso. Somos contra o progresso que mata, fala o representante dos Krenak a respeito do trabalho da Vale na região. Geovani também destaca que a morte do Rio é a morte de algo vivo, e quando um parente morre, ele não ressuscita, e com o Rio é a mesma coisa, quando questionado se acredita no renascimento do fluvial. Os Krenak não podem mais fazer seu ritual espiritual no Uatu, o que tem causado problemas psicossociais nos indígenas da aldeia.
A população indígena é afetada de várias formas no Brasil, seja pela disputa de terras e pelo preconceito com as etnias, como também pela falta de suporte do governo. Somado a isso, o crime que motivou esta Marcha, que matou Uatu, um ente espiritual dos Krenak e de outras populações indígenas, e a falta de diálogo entre a histórica população autenticamente brasileira e as empresas de mineração.
O porta-voz dos Krenak fala da importância da Marcha e do MAB para a aldeia, relembrando quando a tribo foi protestar na linha férrea, e o Movimento levou mantimentos, e se tornou parceira da aldeia, exatamente por estarem passando pela mesma situação de reconstrução da vida após o crime que afetou mais de 800 quilômetros e dezenas de milhares de pessoas.