Documentário Arpilleras: bordando a resistência entra na fase de montagem
Focado na luta das mulheres atingidas por barragens no Brasil, o projeto encerrou as captações de imagens no mês de setembro e entra na fase de montagem. Neste mês de […]
Publicado 29/09/2016
Focado na luta das mulheres atingidas por barragens no Brasil, o projeto encerrou as captações de imagens no mês de setembro e entra na fase de montagem.
Neste mês de outubro de 2016, o documentário Arpilleras: bordando a resistência chega ao seu momento de montagem, após dois anos de elaboração coletiva do roteiro, arrecadação de recursos, produção e captação. Esta última etapa foi concluída em setembro, depois de dois meses de gravações ininterruptas por diversas geografias.
Viabilizado por 308 apoiadores, por meio da plataforma de financiamento coletivo Catarse, o documentário foi construído com o objetivo de dar voz a mulheres atingidas por barragens das cinco regiões do país.
Dentre as centenas de milhares de pessoas que já foram atingidas por barragens no Brasil, as mulheres são as que têm seus direitos mais violados. Negação ao direito de participação nas negociações, aumento da violência sexual e infantil, além da prostituição endêmica nos locais que recebem as obras são alguns exemplos de como a vida das mulheres são afetadas por esses empreendimentos.
Essas barragens não são exclusividades das Usinas Hidrelétricas, mas também são parte do processo de canalização da água e da mineração, que necessitam de barreiras para conter os rejeitos de minérios.
Como fio condutor dessa narrativa ampla e complexa, entra em cena uma técnica de bordado que se tornou mundialmente conhecida pelo seu papel de empoderamento feminino e denúncia à ditadura chilena: a arpillera.
Utilizadas como ferramenta de auto-organização das atingidas desde 2014, através de centenas de oficinas realizadas nas áreas organizadas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), as arpilleras colorem com linhas de dor, resistência e luta as imagens do documentário.
O lançamento do longa-metragem será realizado em março de 2017, mês que marca o Dia Internacional de Luta da Mulher, com locais ainda indefinidos.
De norte a sul: mulheres de luta!
As gravações começaram justamente pelos primórdios da organização dos atingidos por barragens no Brasil. Entre os meses de outubro e novembro de 2015, a equipe se deslocou ao Sul do país para acompanhar a história de Claides Helga Kowahld, que era a única mulher entre os 119 homens que compunham a coordenação da Coordenação Regional de Atingidos por Barragens (CRAB), posteriormente transformada em Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Atingida pela Usina Hidrelétrica de Itá, Claides iniciou sua luta contra os projetos de barragens no Rio Uruguai ainda durante a ditadura militar, no final da década de 1980.
Após uma pausa devido ao rompimento da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco (Vale/BHP Billiton), no dia 5 de novembro de 2015, que demandou o esforço conjunto de todo o Coletivo de Comunicação do MAB, a produção do documentário retornou no meio deste ano.
Depois desse hiato, o projeto seguiu, já em julho de 2016, para a região Sudeste, em Minas Gerais. Desta vez, quem guiou as filmagens foram as atingidas pela barragem de rejeitos do Fundão, nas localidades de Barra Longa e Bento Rodrigues, respectivamente Simone Maria da Silva e Marly de Fátima Felício Felipe, além da militante histórica do MAB, Marta Castana do Espírito Santo, atingida pela PCH da Fumaça. Um encontro e um reconhecimento da força das mulheres de luta nas duas situações de opressão: rejeitos da mineração, historicamente exploradora das riquezas naturais e dos trabalhadores na região, e as hidrelétricas.
No Norte, atingidas pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte relataram o processo de luta contra a Norte Energia, apelidada por elas como Morte Energia. Em Altamira, onde os impactos da construção da barragem são brutais, as mulheres, representadas por Elaine Melo, Maria Alacídia da Silva Mota, Maria de Fátima da Conceição Alvarez, e Maria Lúcia da Silva Mota mostraram força e união na luta: Nossa revolução das mulheres é forte, não desistiremos de lutar por nossos direitos. Aprendemos na luta que não podemos nos calar.
Na região Centro Oeste, os exemplos de mulheres na resistência vêm das situações em torno das Usinas de Cana Brava e Serra da Mesa, em Goiás. Ali também a força das mulheres, como Sebastiana Castilho Patrícia José de Souza foi e continua sendo fundamental.
O Vale do Jaguaribe, no Ceará, representou o Nordeste. As atingidas Margarida Calisto e Marina Calisto, mãe e filha, mostraram os problemas gerados pelo Açude Castanhão, um projeto de barragem de acumulação que tirou a água do sertão para levar para um complexo industrial na região metropolitana de Fortaleza.