Atingidos por Belo Monte sofrem com falta dágua
Passar mais de cinco dias sem água para beber ou para tomar banho e realizar os afazeres domésticos é uma realidade que se imagina nos sertões do nordeste brasileiro. Mas […]
Publicado 13/09/2016
Passar mais de cinco dias sem água para beber ou para tomar banho e realizar os afazeres domésticos é uma realidade que se imagina nos sertões do nordeste brasileiro. Mas pasme: essa situação está acontecendo em plena Amazônia, em uma cidade banhada por um de seus grandes rios, o Xingu.
Moradores do Jatobá, um dos loteamentos construídos pela Norte Energia para realocar os atingidos por Belo Monte em Altamira, trancaram na manhã desta terça-feira (13) o acesso ao bairro para protestar. A falta de água é constante no local e dessa vez já estão há cinco dias de torneiras secas.
“Eu tenho nove crianças dentro de casa e não tenho condições de fazer um almoço para essas crianças, conta Sônia Fonseca. Você acha que dá para ficar num bairro desse? Vamos acabar voltando para o baixão (área alagada pelo lago da hidrelétrica). O reassentamento urbano coletivo Jatobá é o maior dos cinco construídos pela Norte Energia em Altamira, com mais de 1.100 casas.
Com a mobilização, o secretário de obras da prefeitura e o diretor da Cosalt (companhia de saneamento do município de Altamira) foram até o local. Eles afirmaram que não estavam sabendo do problema, pois o abastecimento do bairro ainda é responsabilidade da Norte Energia. Afirmaram também que a falta dágua ocorre na cidade inteira, pois Altamira cresceu muito com a construção de Belo Monte, mas o sistema de abastecimento de água construído pela Norte Energia como condicionante não funciona direito.
Há atualmente apenas uma estação de captação e tratamento de água na cidade de Altamira, construída há 35 anos. Altamira viu sua população crescer de 99 mil para mais de 150 mil habitantes em menos de três anos com a construção da hidrelétrica.
Como solução provisória, foi estabelecido o compromisso por parte da Cosalt de alternar o fornecimento de água entre os dois bairros que dependem da caixa dágua do Mutirão, Santa Ana e Mutirão/Jatobá. Ou seja, a previsão é faltar água dia sim dia não. Uma comissão de moradores acompanhou o secretário até a estação de tratamento com o objetivo de verificar a situação relatada por ele: dos oito reservatórios da cidade, quase todos estão com capacidade muito baixa. A Cosalt foi criada no ano passado pela prefeitura, ação vista pelos movimentos sociais como tentativa de iniciar um processo de privatização do serviço, que antes ficava a cargo da companhia estadual Cosampa.
Condicionante não atendida
O problema no abastecimento de água e tratamento de esgoto da cidade de Altamira foi o que motivou a recente suspensão da licença de operação da hidrelétrica estabelecida pela Justiça Federal. Pelo prazo original, a empresa deveria ter entregue os sistemas no dia 25 de julho de 2014. Mesmo assim, o Ibama liberou a operação e o barramento do rio Xingu no final do ano passado. Na licença de operação, emitida em novembro de 2015, o Ibama deu prazo até setembro de 2016 para que o saneamento de Altamira fosse concluído, o que não aconteceu.
A situação é preocupante e vai exigir de nós, atingidos por Belo Monte, muita organização e luta para exigir que a Norte Energia amplie esse sistema e pressionar a prefeitura para cobrar da empresa, afirma Edizângela Barros, militante do MAB no Xingu.