Documentário sobre usinas do rio Madeira é exibido em Pernambuco
Atividade conta com a presença de Tata Nilce, filha de Nicinha, militante que foi assassinada após as gravações do filme “Instigante e revoltante, foi como me senti vendo o filme. […]
Publicado 02/08/2016
Atividade conta com a presença de Tata Nilce, filha de Nicinha, militante que foi assassinada após as gravações do filme
“Instigante e revoltante, foi como me senti vendo o filme. Vemos quantas pessoas têm que sofrer, quantas famílias sem casa, sem nada, para dar lucro pras essas empresas que só pensam nisso, não pensam na vida. É muita injustiça”. É como a estudante Herica Janaína, 24 anos, define o documentário Jirau e Santo Antônio: relatos de uma guerra amazônica, produzido e realizado pelo Movimento dos atingidos por Barragens, MAB.
O filme foi exibido na última quinta-feira, 28 de julho, na cidade do Recife para cerca de 40 jovens de todo o estado de Pernambuco. O filme fez parte da programação do quarto módulo da Residência Agrária, curso de formação para jovens camponeses, realizado pela Universidade Rural de Pernambuco em parceria com a Pastoral da Juventude Rural, PJR.
Gravado no final do ano passado, o documentário conta com depoimentos fortes sobre as violações de direitos humanos sofridas nas construções das hidrelétricas ao longo do Rio Madeira. Os relatos, feitos majoritariamente por mulheres, incluem denúncias sobre prostituição infantil, violência contra a mulher, contaminação da água, desmatamento, desemprego e desalojamento forçado e sem indenização das famílias.
A estudante Camila, do município de Formoso, emocionou-se com o filme e diz que se sente fortalecida. “Estão construindo uma barragem na minha cidade e eu nunca imaginei que a chegada de uma usina pudesse trazer tantos males. Com certeza fico mais atenta para o que acontece na minha cidade e em outros lugares”, afirma.
Alguns jovens relembraram o caso da Barragem de Sobradinho, instalada no Vale do São Francisco, sertão de Pernambuco, na década de 70. “O filme me lembrou muito Sobradinho, onde as famílias atingidas sofreram e ainda sofrem muito com a chegada da Barragem. É uma coisa que marca a história de um povo”, reflete Márcia Caxias.
Companheira Nicinha, presente!
Nilce de Souza Magalhães, a Nicinha, é uma das lideranças da região entrevistadas no filme que denunciava as violações sofridas pelas usinas, e foi assassinada poucos meses após a gravação do filme. A exibição em recife contou com a presença de Tata Nilce, filha de Nicinha. “Temos mesmo que fazer a divulgação do que acontece lá em Jirau pra que outras pessoas vejam que a luta não é fácil”, reflete.
Ela conta um pouco de como era a mãe, pescadora e lutadora que combatia as violações com bom humor, “Se ela estivesse aqui estaria falando pelos cotovelos, já enturmada com todos e muito firme”. Ela e as irmãs aguardam a liberação pelo IML do corpo de Nicinha, que foi encontrado no dia 21 de junho, cinco meses após seu desaparecimento. “Estou grata pelo convite em estar aqui, grata pelo que todos estão fazendo, pela divulgação do filme e do caso. É um conforto pra gente, muito grande e muito bom”, desabafa. E concliu: “A luta continua! Nicinha, presente sempre!”.
Lançamento em Pernambuco
O documentário teve seu lançamento no estado de Pernambuco no dia 23 de julho, no Assentamento Normandia, do Movimento dos Sem-Terra, MST. A atividade, que também contou com a participação de Tata, ocorreu durante a realização do curso de formação política Curso de Realidade Brasileira, CRB. Após a exibição do filme e o depoimento de Tata, a turma do CRB foi batizada como “Primavera nos dentes, Nicinha presente”.