Em SC, atingidos realizam encontro para discutir produção de alimentos e energia solar

De 16 a 20 de maio aconteceu no município de Palmitos-SC o Curso de Multiplicadores do Projeto PAIS e Aquecedores Solares, um convênio entre ADAI – Associação de Desenvolvimento Agrícola Interestadual e […]

De 16 a 20 de maio aconteceu no município de Palmitos-SC o Curso de Multiplicadores do Projeto PAIS e Aquecedores Solares, um convênio entre ADAI – Associação de Desenvolvimento Agrícola Interestadual e Fundação Banco do Brasil, contando com a presença de 30 agricultores atingidos por barragens dos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para além de instrutores e técnicos responsáveis pelo projeto. O curso tem como objetivo capacitar os agricultores e técnicos para atuar junto com as famílias na implantação de Sistemas PAIS e Aquecedores Solares.

O curso de multiplicadores está dentro do cronograma de atividades do Projeto intitulado “Promoção da Soberania Alimentar em regiões atingidas por barragens através da tecnologia social PAIS e placa solar de aquecedores de água” e foi apenas o primeiro encontro realizado com agricultores de toda a região sul do Brasil. 

O projeto é fruto das lutas dos agricultores atingidos por barragens e organizados no MAB em 2015 para a implantação de programas de incentivo e valorização do camponês para a sua permanência no campo e para a diversificação da produção de alimentos como fator de agregação de renda e melhoria da qualidade de vida.

O público alvo do projeto são agricultoras e agricultores atingidos por barragens que receberão materiais para a implantação da tecnologia social PAIS (Sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável) que consiste na construção de hortas circulares integrado com um aviário, área de pastagens para aves e um quintal agroecológico com espécies frutíferas. Para além do sistema PAIS as famílias receberão materiais para a instalação de um sistema de aquecedor solar de baixo custo que traz mais vantagens para a família, utilizando a energia solar se tem disponível água quente para banho, cozinha, serviços de ordenha ou outros na propriedade com uma economia que pode chegar a 30% na conta de luz.

O curso

O curso consiste em uma formação teórica e prática sobre as temáticas que envolvem o Sistema PAIS e o Sistema de Aquecedores de Água através da energia solar, sendo utilizadas metodologias participativas onde os agricultores e agricultoras trocavam experiências entre si e com os técnicos do projeto. Temas como Agroecologia e reflexões sobre novas formas de geração de energia também foram tratadas no curso, reafirmando as experiências de que um novo modelo agrícola, sem a utilização de venenos é possível e necessário. Para além de também concluirmos que podemos produzir energia sem a construção de barragens, como o exemplo estudado da energia solar que garante autonomia e não gera impactos sociais e ambientais negativos, como é o caso das barragens.

Nos últimos dias do curso foi realizado sua parte prática, onde em mutirão os agricultores multiplicadores colocarem em prática todo o conhecimento compartilhado nos dias anteriores do curso e instalaram o Sistema PAIS e o Sistema de Aquecedor Solar na área da família de Sidnei Ferrarini, em Caxambu do Sul-SC, que é beneficiada do projeto e atingida pela barragem de Foz do Chapecó.

Para Sidnei o mutirão na área de sua família proporcionou momentos de muito aprendizado e o seu desejo é que várias outras famílias possam ser beneficiadas: “ O Sistema PAIS é algo incrível, levanta o ânimo e estimula produzir alimentos sadios e sem veneno para a família consumir e ainda puder vender, contribuindo na renda. Os aquecedores de água também são muito bom, porque a gente economiza e aumenta nosso conforto. Esse é um projeto que tinha que chegar para todas as famílias de agricultores no Brasil”, ressalta Sidnei.

Para Elisabete Drabecki, agricultora de Rio Bonito do Iguaçu-PR e atingida pela barragem de Salto Santiago o curso pode ser marcado com duas palavras: amizade e aprendizagem: “Foi bem interessante ver como se constrói o PAIS, sair daqui sabendo das medidas, vendo que se pode aproveitar terrenos pequenos para isso e uma das melhoras coisas é a maneira de mutirão para construir, porque sai mais rápido e é mais animado” disse Elisabete.

Um dos instrutores do curso e parceiro do projeto, o agrônomo e professor da Universidade Federal da Fronteira Sul, Ulisses Mello, as iniciativas em Agroecologia devem ser fortalecidas e cada vez mais propagandeadas: “A humanidade passou mais de 10 mil anos produzindo alimentos sem a utilização de venenos, só recentemente nos últimos 70 anos que se introduziu na agricultura um pacotão químico, e até hoje existe uma propaganda intensa de que não se pode produzir alimentos sem ele, mas isso é uma grande mentira repetida diversas vezes e que precisamos desconstruir. Com Agroecologia podemos produzir alimentos em quantidade e qualidade. Infelizmente há pouco estimulo na sociedade para isso, mas mesmo assim existe inúmeras experiências no mundo que precisam ser fortalecidas e propagandeadas para que o mundo todo veja uma alternativa, e a Agroecologia é essa alternativa.”

Para além da formação técnica também tivemos um momento de debate sobre o atual cenário politico e social no nosso país. Para a participante Tereza Pessoa, agricultora de Alecrim-RS, ameaçada pela construção da barragem binacional de Garabi-Panambi esse espaço foi tão importante quanto o debate técnico e o sentimento é que a organização para os trabalhadores é tudo: “O nosso encontro foi muito proveitoso e a participação de todos foi bem positiva, acho que todos saímos fortalecidos para as lutas que vem pela frente e sabendo dos desafios que nós trabalhadores teremos, e está em movimento e organizados é a saída para nós”.

Cada estado receberá 70 Kits do projeto, totalizando 210 famílias beneficiadas em toda a região sul. No estado do Rio Grande do Sul o projeto irá beneficiar agricultores atingidos pela barragem de Itá e ameaçados pela construção da barragem de Garabi-Panambi. Em Santa Catarina agricultores atingidos pela barragem de Foz do Chapecó e no Paraná pela barragem de Salto Santiago.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 25/05/2016

Os golpes de Temer