Gravação com Jucá indica que impeachment foi golpe para conter a Lava Jato
Em diálogos gravados em março, ministro interino do Planejamento, sugeriu a ex-presidente da Transpetro uma “mudança” no governo federal para “estancar a sangria” representada pelas operação da PF da Rede […]
Publicado 23/05/2016
Em diálogos gravados em março, ministro interino do Planejamento, sugeriu a ex-presidente da Transpetro uma “mudança” no governo federal para “estancar a sangria” representada pelas operação da PF
da Rede Brasil Atual
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Em diálogos gravados em março passado e revelados na edição de hoje (23) pelo jornal Folha de S.Paulo, o ministro interino do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR) sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato. À época, ambos se sentiam ameaçados pela eminente revelação de envolvimentos em casos de corrupção e propina.
Segundo a reportagem, as conversas, que estão em poder da Procuradoria-Geral da República, ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Leia a reportagem completa da Folha de S.Paulo
Machado se mostra preocupado com o envio do seu caso para a PF de Curitiba e chegou a fazer ameaças: “Aí f…. Aí f… para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu ‘descer’…”.
O atual ministro concorda que o envio do processo para o juiz Sérgio Moro não seria uma boa opção e o chamou de “uma ‘Torre de Londres'”, em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para lá “para o cara confessar”.
Por sua vez, Jucá afirma que seria necessária uma resposta política: “Tem que resolver essa p…. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz Jucá. Ele acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado concorda: “aí parava tudo”.
Na conversa, eles dizem que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porque odiaria Cunha. “Só Renan que está contra essa p… porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, p…”, afirma Jucá no diálogo gravado.
“O Renan reage à solução do Michel. P…, o Michel, é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. ‘Michel, vem cá, é isso, isso e isso, vai ser assim, as reformas são essas'”, diz Jucá a Machado.
O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que Romero Jucá “jamais pensaria em fazer qualquer interferência” na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.
Leia trechos dos diálogos gravados entre Romero Jucá e Sergio Machado. A data das conversas não foi especificada
SÉRGIO MACHADO Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ Eu ontem fui muito claro. [
] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ Sim.
MACHADO Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ Eu acho que
MACHADO Tem que ter um impeachment.
JUCÁ Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO E quem segurar, segura.
JUCÁ Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO Odebrecht vai fazer.
JUCÁ Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que
O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
[
]
JUCÁ Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [
] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra
Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[
]
MACHADO Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ Com o Supremo, com tudo.
MACHADO Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ É. Delimitava onde está, pronto.
[
]
MACHADO O Renan [Calheiros] é totalmente voador. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
***
MACHADO A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado
JUCÁ Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com
MACHADO Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[
]
MACHADO O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ Todos, porra. E vão pegando e vão
MACHADO [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.
JUCÁ Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO Porque se a gente não tiver saída
Porque não tem muito tempo.
JUCÁ Não, o tempo é emergencial.
MACHADO É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [
] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é
Depois a gente conversa os três sem você.
MACHADO Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
***
MACHADO É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma
JUCÁ Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO O Aécio, rapaz
O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB
JUCÁ É, a gente viveu tudo.
***
JUCÁ [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca. Entendeu? Então
Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
MACHADO Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava Jato].
JUCÁ Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento
MACHADO -
E burro [
] Tem que ter uma paz, um
JUCÁ Eu acho que tem que ter um pacto.
[
]
MACHADO Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara
Burocrata da
Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].