Atingidos por Belo Monte já sentem impactos do lago

“Enquanto o Brasil todo se mobiliza contra o mosquito aedes aegypti a Norte Energia pretende deixar a centenas de famílias, incluindo dezenas de grávidas e crianças, em uma área de risco a […]

“Enquanto o Brasil todo se mobiliza contra o mosquito aedes aegypti a Norte Energia pretende deixar a centenas de famílias, incluindo dezenas de grávidas e crianças, em uma área de risco a saúde coletiva”

Moradores das áreas de palafitas dos bairros Independente I e Independente II, em Altamira (PA), denunciam que desde o início do enchimento do lago de Belo Monte houve aumento de mosquitos e sujeira na água dos poços. Os dois bairros estão em áreas de lagoas, sujeitas à elevação do lençol freático com a construção da barragem.

A moradora Francinete, do bairro Independente II, desabafa dizendo que “nem o ventilador consegue mais expulsar esses mosquitos”. Elaine lamenta que “não dá mais pra sentar na porta de casa, senão os mosquitos me atacam”.

As moradoras Elza e Francinete, moradoras da comunidade e militantes do MAB, apresentam sintomas de dengue (febre e dor no corpo) e estão preocupadas pois acreditam que pode ter havido o aumento dos mosquitos aedes aegypti, proliferador do vírus da dengue, chicungunya e principalmente zika, doença suspeita de relação com casos de microcefalia.

Após um processo intenso de lutas do MAB, a comunidade do bairro Jardim Independente II foi reconhecida pelo IBAMA e pala Norte Energia como atingidas por Belo Monte. Apesar da conquista importante, o período se deu no mesmo instante que o órgão ambiental autorizou a operação da hidrelétrica no rio Xingu.

Segundo a condicionante imposta pelo IBAMA, a Norte Energia tem até o mês de outubro para retirar as 445 famílias atingidas dessa área para transformá-la em uma praça. “Agora a preocupação é que o lago de Belo Monte já é uma realidade, e essas famílias que deveriam ter sido reassentadas até o ano de 2014 agora tem que pagar com a própria saúde pela pressa que a Norte Energia teve de fazer a obra e não reconhecê-las no início do processo de construção da maior barragem no território nacional”, afirma Jackson Dias, militante do MAB.

Água parada

O MAB calculaque mais de de 50 mil pessoas removidas de suas casas em Altamira por causa do lago de Belo Monte. Segundo a Norte Energia, a região impactada será a que estiver abaixo de 100 m do nível do mar (a chamada cota 100), sendo que até a cota 97m seria a altura permanente do lago e entre as cotas 97,01m a 100m seria a margem de segurança para uma eventual chuva centenária.

No entanto, segundo o monitoramento da própria Norte Energia durante a última semana a cota já superou a 97m, no último dia 13 a altura do rio atingiu 97,24m, ou seja, a água está acima do que a Norte Energia falava aos quatro ventos.

Essa incerteza em relação à cota de alagamento preocupa as cerca de 500 famílias da lagoa do bairro Jardim Independente I, que vivem nas mesmas condições dos atingidos no bairro jardim independente II, mas que a Norte Energia não os reconhece como atingidos, pois segundo a dona de Belo Monte a parte mais baixa do bairro está na cota 102m. No entanto, os moradores denunciam que desde que o lago da hidrelétrica começou a encher, a água passou a ficar parada de forma permanente abaixo das casas (de palafita), criando inúmeros focos de larvas de mosquito.

A promessa de Belo Monte era que a vida das famílias iria melhorar, no entanto, a comunidade não recebeu os serviços de abastecimento de água potável, coleta de esgoto, coleta de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais, fato esse que segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) favorece a proliferação de doenças infecciosas, sendo que no atual quadro nacional se destacam as relacionadas com o mosquito aedes aegypti.

Os moradores da comunidade do Independente I estão se organizando no MAB para garantir o reconhecimento por parte do órgão ambiental e Norte Energia, para que elas não fiquem mais nesse estado de vulnerabilidade social ampliado pela construção de Belo Monte.

“Enquanto o Brasil todo se mobiliza contra o mosquito aedes aegypti a Norte Energia pretende deixar a centenas de famílias, incluindo dezenas de grávidas e crianças, em uma área de risco à saúde coletiva”, denuncia Jackson.

Água contaminada

A moradora Elaine Cristina, do Independente I, desabafa: “eu moro aqui há quatro anos e eu sempre usei a água daqui do poço para lavar roupas e cozinhar, mas de uns três meses para cá a água ficou muito suja”.

A moradora Francinete denuncia que a água ficou suja de uma hora para outra “a água está saindo azul, nesse momento eu estou doente, penso até que foi por causa dessa água”.

Elza, da rua primeiro de Maio, está muito preocupada pois “a água está minando para dentro do meu quarto, eu nunca vi isso. Já até denunciei para a Norte Energia, e até uma das pessoas que fez o cadastro aqui no bairro falou que pode ser por causa da subida do lençol freático”.

A moradora Elaine Cristina também denuncia que o lençol freático está aflorando dentro de sua casa: “estou preocupada pois a água tirou o vermelho do meu piso e deixou ele branco com mofo e ainda por cima molhou alguns livros antigos da minha filha”.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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