Atingidos por Belo Monte já sentem impactos do lago
Enquanto o Brasil todo se mobiliza contra o mosquito aedes aegypti a Norte Energia pretende deixar a centenas de famílias, incluindo dezenas de grávidas e crianças, em uma área de risco a […]
Publicado 17/02/2016
Enquanto o Brasil todo se mobiliza contra o mosquito aedes aegypti a Norte Energia pretende deixar a centenas de famílias, incluindo dezenas de grávidas e crianças, em uma área de risco a saúde coletiva
Moradores das áreas de palafitas dos bairros Independente I e Independente II, em Altamira (PA), denunciam que desde o início do enchimento do lago de Belo Monte houve aumento de mosquitos e sujeira na água dos poços. Os dois bairros estão em áreas de lagoas, sujeitas à elevação do lençol freático com a construção da barragem.
A moradora Francinete, do bairro Independente II, desabafa dizendo que nem o ventilador consegue mais expulsar esses mosquitos. Elaine lamenta que não dá mais pra sentar na porta de casa, senão os mosquitos me atacam.
As moradoras Elza e Francinete, moradoras da comunidade e militantes do MAB, apresentam sintomas de dengue (febre e dor no corpo) e estão preocupadas pois acreditam que pode ter havido o aumento dos mosquitos aedes aegypti, proliferador do vírus da dengue, chicungunya e principalmente zika, doença suspeita de relação com casos de microcefalia.
Após um processo intenso de lutas do MAB, a comunidade do bairro Jardim Independente II foi reconhecida pelo IBAMA e pala Norte Energia como atingidas por Belo Monte. Apesar da conquista importante, o período se deu no mesmo instante que o órgão ambiental autorizou a operação da hidrelétrica no rio Xingu.
Segundo a condicionante imposta pelo IBAMA, a Norte Energia tem até o mês de outubro para retirar as 445 famílias atingidas dessa área para transformá-la em uma praça. Agora a preocupação é que o lago de Belo Monte já é uma realidade, e essas famílias que deveriam ter sido reassentadas até o ano de 2014 agora tem que pagar com a própria saúde pela pressa que a Norte Energia teve de fazer a obra e não reconhecê-las no início do processo de construção da maior barragem no território nacional, afirma Jackson Dias, militante do MAB.
Água parada
O MAB calculaque mais de de 50 mil pessoas removidas de suas casas em Altamira por causa do lago de Belo Monte. Segundo a Norte Energia, a região impactada será a que estiver abaixo de 100 m do nível do mar (a chamada cota 100), sendo que até a cota 97m seria a altura permanente do lago e entre as cotas 97,01m a 100m seria a margem de segurança para uma eventual chuva centenária.
No entanto, segundo o monitoramento da própria Norte Energia durante a última semana a cota já superou a 97m, no último dia 13 a altura do rio atingiu 97,24m, ou seja, a água está acima do que a Norte Energia falava aos quatro ventos.
Essa incerteza em relação à cota de alagamento preocupa as cerca de 500 famílias da lagoa do bairro Jardim Independente I, que vivem nas mesmas condições dos atingidos no bairro jardim independente II, mas que a Norte Energia não os reconhece como atingidos, pois segundo a dona de Belo Monte a parte mais baixa do bairro está na cota 102m. No entanto, os moradores denunciam que desde que o lago da hidrelétrica começou a encher, a água passou a ficar parada de forma permanente abaixo das casas (de palafita), criando inúmeros focos de larvas de mosquito.
A promessa de Belo Monte era que a vida das famílias iria melhorar, no entanto, a comunidade não recebeu os serviços de abastecimento de água potável, coleta de esgoto, coleta de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais, fato esse que segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) favorece a proliferação de doenças infecciosas, sendo que no atual quadro nacional se destacam as relacionadas com o mosquito aedes aegypti.
Os moradores da comunidade do Independente I estão se organizando no MAB para garantir o reconhecimento por parte do órgão ambiental e Norte Energia, para que elas não fiquem mais nesse estado de vulnerabilidade social ampliado pela construção de Belo Monte.
Enquanto o Brasil todo se mobiliza contra o mosquito aedes aegypti a Norte Energia pretende deixar a centenas de famílias, incluindo dezenas de grávidas e crianças, em uma área de risco à saúde coletiva, denuncia Jackson.
Água contaminada
A moradora Elaine Cristina, do Independente I, desabafa: eu moro aqui há quatro anos e eu sempre usei a água daqui do poço para lavar roupas e cozinhar, mas de uns três meses para cá a água ficou muito suja.
A moradora Francinete denuncia que a água ficou suja de uma hora para outra a água está saindo azul, nesse momento eu estou doente, penso até que foi por causa dessa água.
Elza, da rua primeiro de Maio, está muito preocupada pois a água está minando para dentro do meu quarto, eu nunca vi isso. Já até denunciei para a Norte Energia, e até uma das pessoas que fez o cadastro aqui no bairro falou que pode ser por causa da subida do lençol freático.
A moradora Elaine Cristina também denuncia que o lençol freático está aflorando dentro de sua casa: estou preocupada pois a água tirou o vermelho do meu piso e deixou ele branco com mofo e ainda por cima molhou alguns livros antigos da minha filha.