Um (in)feliz ano de novo

Dona Nenê e Seu Deco dependiam basicamente do Rio Doce para sobreviver. Ele pescava, ela plantava. Com a contaminação do rio pela lama tóxica da Samarco, as comemorações do final […]

Dona Nenê e Seu Deco dependiam basicamente do Rio Doce para sobreviver. Ele pescava, ela plantava. Com a contaminação do rio pela lama tóxica da Samarco, as comemorações do final de ano se tornaram trágicas para a família. 

Por Neudicléia de Oliveira, de Ipaba (MG)

Fotos: Leandro Taques

O que era para ser um final de ano de festejos e comemorações, infelizmente tomou rumos trágicos na vida da família de Dona Nenê e Seu Deco. Maria Aparecida de Oliveira Barros, agricultora, e José Perpetuo de Barros, pescador, moram há mais de 20 anos em uma pequena propriedade rural às margens do Rio Doce, em Ipaba, Minas Gerais.

Desde que o lamaçal invadiu as águas do rio, com o rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton), o casal vive angustiado. Toda a renda familiar dependia do Rio Doce: ela plantava e ele pescava. Desde o fatídico 5 de novembro, os dois foram obrigados a paralisar suas atividades devido à contaminação da água.

A região de Ipaba é conhecida pelo clima quente e fortes estiagens. Por isso, os agricultores do município sempre utilizaram do Rio Doce como forma de captação da água para irrigar as lavouras. Com a inutilização dessa água após o desastre de Mariana (MG), muitas famílias já registraram perdas significativas na produção, como no caso de Dona Nenê. “Depois que veio essa lama no Rio Doce prejudicou demais a nossa plantação. Agora que estamos sem água para usar na lavoura, o que mais dói é saber que não vamos colher o que plantamos”.

A agricultora relata que investiu um bom recurso na produção de alimentos neste fim de ano. “Financiamos uma camionete para transportar nossa produção e o carro nos ajudaria na entrega dos produtos, mas agora o desespero começou a bater porque o dinheiro da lavoura e da pesca que pagaria esse financiamento foi prejudicado com o rompimento das barragens da Samarco. Enquanto muitos vão celebrar o Natal, nós vamos estar aqui quebrando a cabeça em busca de uma solução”, lamenta Dona Nenê.

Indignados com a falta de diálogo com a Samarco, seu Deco se apega em orações para que a situação se reverta. “Com fé em Deus essa empresa vai ter que pagar pelo crime que cometeu e nos indenizar por todas as nossas perdas, sem o peixe eu perco minha identidade de pescador”.

Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Samarco Mineração é responsável por fazer o levantamento das perdas e indenizar as famílias. Carine Guedes, da coordenação estadual do MAB, enfatiza que desde o rompimento da barragem, os municípios vivem situação de calamidade. Para ela, além da falta de comunicação dos governos, as ações da empresa não estão atendendo aos atingidos.

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