Atingidos pela Samarco (Vale/BHP-Billiton) viverão em hotéis até o carnaval
Parte das famílias desabrigadas devido ao rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP-Billiton) vai passar o natal, o ano novo e até o carnaval ainda morando em hotéis na cidade de […]
Publicado 25/11/2015
Parte das famílias desabrigadas devido ao rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP-Billiton) vai passar o natal, o ano novo e até o carnaval ainda morando em hotéis na cidade de Mariana (MG), segundo cronograma apresentado pela própria empresa.
Atualmente, a empresa calcula cerca de 300 famílias aguardando para serem transferidas de hotéis e pousadas para casas alugadas pela empresa, conforme informou José Luiz Santiago, gerente geral de projetos da Samarco, na tarde desta quarta-feira (25). As famílias devem viver nessas moradias provisórias até que sejam reconstruídas as comunidades devastadas pela lama da Samarco e da Vale.
De acordo com o representante da Samarco, a meta da empresa é fazer a mudança de 25 famílias por semana, ou seja, vai levar 12 semanas para transferir todas as famílias caso a empresa consiga seguir seu próprio cronograma. É uma logística muito grande, disse.
Os hotéis e pousadas não são considerados moradias adequadas para as famílias atingidas. Eliane Aparecida, ex-moradora de Bento Rodrigues, tem um filho com necessidades especiais e relata as dificuldades sofridas, pois a pousada em que se encontra não é adaptada. Eu quero ir para uma casa, porque aqui não tem nem um lugar para ele sentar, a casa é até boa, mas não é adaptada, tenho que carregar ele o tempo todo nos braços, contou.
Eliane mostra banheiro da pousada onde está alojada, casa não tem estrutura para pessoas com necessidades especiais
Outros relatos dos atingidos incluem crianças que já se machucaram nas escadas, falta de assistência médica para idosos e gestantes e problemas com a alimentação. Parte das famílias tem recebido marmitas da Samarco no almoço e jantar, ou seja, não tem autonomia para se alimentarem. Patrícia Costa, do Conselho Municipal de Saúde, denuncia que já houve entrega de marmitas vencidas para os atingidos.
Em reunião realizada com o MAB na tarde de ontem, uma atingida também relatou que não há atendimento para a saúde. Quando alguém passa mal, liga para a Samarco e não tem carro, liga para a prefeitura e não tem ambulância, afirmou.
Além disso, as famílias não têm mobilidade, elas podem sair dos hotéis, mas têm hora para voltar. Isso para aquelas que estão no centro da cidade, as que estão nos bairros afastados não conseguem sair, não recebem nenhum vale-transporte, afirma Patrícia.
Os atingidos também acusam a empresa de não estar respeitando as prioridades para realizar as mudanças para as casas alugadas, que deveria ser idosos, gestantes e pessoas com deficiência. Hoje faz 20 dias do rompimento da barragem, que deixou 12 mortos e 11 desaparecidos. Entre os desabrigados, a Samarco já transferiu aproximadamente 20 famílias dos hotéis para as casas.
De acordo com os dados da prefeitura de Mariana e Defesa Civil, foram resgistradas 944 pessoas desabrigadas em Mariana, mas o número pode ser maior, pois muitos foram direto para a casa de parentes, sem passar pelo controle do poder público.
A fala do representante da Samarco foi feita nessa quarta-feira (25 de novembro) à tarde, durante a mesa de negociação semanal intermediada pelo Governo do Estado, da qual participam os atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a empresa e entidades do poder público e sociedade civil. Na mesma reunião, o integrante do MAB, Joceli Andrioli, reforçou a urgência de mudar as famílias. É uma questão de dignidade humana, a empresa tem condições de acelerar essas mudanças, afirmou.
O MAB também defende, como medidas imediatas, um salário mínimo mensal por pessoa até a reconstrução das comunidades e um bônus inicial, independente de indenização, para questões emergenciais das famílias, como dívidas e perdas. Além disso, o Movimento atenta para o conceito de atingido: atingidos não são só os desabrigados, mas todos aqueles que perdem seus meios de vida.