Os esquecidos por Belo Monte

A Norte Energia conta os dias para dar início ao enchimento do lago da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). Falta apenas que o Ibama libere a licença […]

A Norte Energia conta os dias para dar início ao enchimento do lago da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). Falta apenas que o Ibama libere a licença de operação.

Enquanto isso, mais de 400 famílias ainda vivem em área alagadiça na cidade de Altamira e o que é pior: sem previsão de serem removidas pela empresa. São os moradores do bairro Independente 2, que vivem numa área de lagoa, abaixo da cota 100 (altura utilizada como referência para a empresa para remoção das famílias).

Até o momento, a Norte Energia já removeu mais de 8 mil famílias das margens do Xingu e dos três igarapés que cortam a cidade, onde predominam casas de palafitas. Aproximadamente metade foi reassentada e os demais receberam indenizações, embora, em muitos casos, insuficientes para adquirir uma nova moradia na cidade. Com muita luta do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mais de 400 famílias que haviam sido deixadas para trás foram finalmente cadastradas e garantiram ao menos indenização.

Para o Independente 2, no entanto, a Norte Energia prevê apenas um projeto de drenagem, com a instalação de duas bombas para retirar a água. A empresa alega que o bairro não será diretamente atingido. No entanto, há um parecer técnico da empresa, datado de fevereiro deste ano, que reconhece a provável elevação do lençol freático.

“Mas isso aqui não tem condição, de ficar uma bomba aqui dentro… porque coloca essa bomba, uma hora essa bomba dá o prego. O que é de nós?” questiona a moradora Natalina Ribeiro da Silva, moradora da rua Belizeu de Castro.

Enquanto isso, a qualidade da água piora a cada dia. E o projeto de saneamento feito pela Norte Energia para Altamira (uma das condicionantes de Belo Monte) não passará pelo local, apesar de sua localização central na cidade. “Não está tendo saneamento básico pela Norte Energia, a Norte Energia joga para a prefeitura e a prefeitura joga para a Norte Energia, e só que sai prejudicado somos nós, os moradores”, queixa-se o morador Adelino Andrade da Silva, da rua Salim Mauad.

Devido a estes problemas, já faz quase um ano que as famílias do bairro passaram a se organizar no MAB. Até agora, já fizeram inúmeros protestos para chamar a atenção da Norte Energia para o problema. A empresa, no entanto, continua irredutível com seu projeto de drenagem. Esta semana, a Agência Nacional de Águas recusou o projeto apresentado pela empresa.

Os atingidos continuam lutando para serem reconhecidas como atingidas pela Norte Energia e terem direito ao mesmo tratamento que os outros atingidos na cidade de Altamira: reassentamento ou indenização.

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