Nacionalização do Programa Camponês volta a ser discutida com o MDA
Iniciativa gaúcha de produção de alimentos saudáveis pode se tornar uma política nacional no próximo ano por Coletivo de Comunicação da Via Campesina RS A nacionalização do Programa Camponês, implantado […]
Publicado 02/09/2015
Iniciativa gaúcha de produção de alimentos saudáveis pode se tornar uma política nacional no próximo ano
por Coletivo de Comunicação da Via Campesina RS
A nacionalização do Programa Camponês, implantado em 2013 no Estado do Rio Grande do Sul, voltou a ser discutida entre representantes de movimentos que integram a Via Campesina Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) , Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos (FTM), nesta terça-feira (1º), em Porto Alegre.
A proposta de nacionalizar o Programa Camponês foi inserida na pauta do MDA em março deste ano, quando representantes da Via Campesina levaram a demanda ao ministro Patrus Ananias. Na ocasião, foi criado um Grupo de Trabalho para avaliar as adaptações necessárias à implementação da inciativa em âmbito nacional. Desde então duas reuniões foram realizadas: a primeira em abril e a segunda, agora, no mês de setembro.
Além de afirmar o campesinato como sujeito político, o Programa Camponês abre caminhos para melhorar as condições de produção, transporte, processamento e industrialização de alimentos saudáveis, sendo critério obrigatório projetos que objetivem a transição para uma agricultura agroecológica. Ele também envolve a construção de biofábricas de insumos e de pequenas estruturas urbanas de distribuição que facilitem a chegada desses alimentos à mesa dos trabalhadores.
A nacionalização do Programa Camponês é uma plataforma campo e cidade para a conquista da soberania alimentar e o desenvolvimento do campesinato com educação, saúde, comunicação, cultura e lazer. Queremos que ele se torne para o próximo período uma nova política agrícola, já que há um crescente esgotamento em torno do Pronaf, e uma nova forma de pensar o campo, que inclui a reforma agrária, a agroecologia e a agroindustrialização, explica Marcelo Leal, do MPA.
Apoio urbano e incentivos às mulheres
Transformar o Programa Camponês em uma política nacional também tem o apoio de organizações da cidade, que se somam à luta dos movimentos do campo em defesa da produção e do consumo de alimentos saudáveis. Conforme o presidente da FTM, Jairo Carneiro, é preciso que a população urbana se conscientize da importância de incentivar a produção agroecológica e de valorizar o trabalho das famílias camponesas, além de apoiar a implantação do programa a nível nacional.
O alimento é um elo fortíssimo entre os que produzem e os que consomem, pois a produção da agricultura familiar e camponesa está presente todos os dias na nossa mesa. Então é fundamental que a população brasileira compreenda a importância de apoiar e fazer parte desse projeto de nacionalização do Programa Camponês, que dialoga com a produção de alimentos saudáveis e a valorização do trabalho do agricultor. É uma proposta capaz de criar uma verdadeira revolução em nossas vidas, fazendo com que todos tenham acesso à uma comida de qualidade. Ela deve ser a espinha dorsal de um programa do MDA, defende Carneiro.
Segundo Elisiane Jahn, do MMC, além de fomentar a produção e o consumo de alimentos saudáveis, o Programa Camponês também agrega valores ao trabalho das mulheres do campo, que têm papel fundamental na produção de alimentos.
As mulheres, historicamente, têm papel significativo na produção diversificada de alimentos e o Programa Camponês traz impactos práticos em nossas vidas, como a qualificação da produção através do acesso aos insumos orgânicos, e mudanças políticas e ideológicas que tensionam o diálogo com o companheiro sobre o planejamento e o conjunto da propriedade. Isso provoca mudanças na cultura da opressão e contribui para o fortalecimento da nossa organização de mulheres, destaca Elisiane.
Projetos nacionais em 2016
A proposta de nacionalização do Programa Camponês está em fase de elaboração. Conforme o diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria Nacional da Agricultura Familiar, do MDA, Marcelo Piccin, ela deve ser entregue para avaliação ao ministro Patrus Ananias em torno de 45 dias.
O Programa Camponês é uma iniciativa inovadora, que eleva para um patamar superior e necessita de uma reformulação de políticas públicas nacionais. É um desafio muito forte que o ministro Patrus Ananias acolheu e é por isso que viemos ao RS compreender melhor essa experiência, a partir dos elementos produtivos e dos eixos estratégicos que orientaram o projeto aqui no estado, para podermos nacionalizá-la. Agora estamos construindo a estratégia nacional, definindo de onde sairão os recursos e o formato operacional. Nós acreditamos que é possível a partir do ano que vem já termos alguns projetos, afirma Piccin.
Iniciativa gaúcha
A construção do Programa Camponês do RS foi fruto de reivindicação dos movimentos sociais que compõem a Via Campesina do estado e de várias organizações da cidade, como a FTM, Levante Popular da Juventude e Movimento dos Trabalhadores Por Direitos (MTD).
Ele foi implantado no ano de 2013, pelo então governador Tarso Genro (PT), que destinou R$ 100 milhões para a efetivação do programa, beneficiando cerca de 8 mil famílias com recuperação de solos, estufas para transição agroecológica e controle biológico. Entre outras medidas, o programa desburocratiza o crédito, fortalece o sistema cooperativo e permite ao agricultor diversificar a produção.