Em MG, atingidos cobram avanço na negociação com a Brookfield

Famílias organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizam na manhã desta quarta-feira (26) uma passeata pelas ruas de Raul Soares, cidade da Zona da Mata de Minas Gerais. […]

Famílias organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizam na manhã desta quarta-feira (26) uma passeata pelas ruas de Raul Soares, cidade da Zona da Mata de Minas Gerais. Elas cobram o avanço no processo de negociação com a Brookfield Energia Renovável, dona das barragens Túlio Cordeiro (Granada) e João Camilo Pena (Emboque) construídas no rio Matipó, na bacia do Rio Doce.

Os dois empreendimentos foram visitados pela Comissão Especial que elaborou o Relatório “Atingidos por Barragens”, aprovado em 2010 pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão ligado a Secretária Especial de Diretos humanos da Presidência da República, e que apontou que existe “um padrão de violação de direitos humanos na construção de barragens no Brasil”.

Em setembro de 2011, 13 anos depois do fechamento do primeiro lago, os atingidos organizaram um acampamento às margens do lago de Emboque para denunciar o histórico de violação de direitos. Madalena Reis, atingida na comunidade Córrego do Moinho, lembra que “a maioria das famílias ficaram sem a indenização justa, sem as melhores terras da região que foram alagadas, com suas referências históricas e culturais destruídas e com um imenso rastro de destruição da natureza e desrespeito a vida. Inclusive, houve o suicídio do Silvio Ziquinha, que deu nome ao nosso acampamento”, afirma.

Pressionada pelo resultado do relatório e pela mobilização dos atingidos, a Brookfield Energia Renovável, atual dona das barragens, abriu um processo de negociação que contemplou um amplo diagnóstico participativo que averiguou todas as pendências que os empreendimentos causaram bem como quantos são, onde estão e quais os direitos de cada família. “Os trabalhos vêm sendo feitos desde 2012 e resultaram em um novo relatório feito por uma equipe técnica indicada pelo movimento e contratada pela empresa e que confirmou todos os problemas que já conhecíamos,” conta Madalena.

Agora, os atingidos querem que a empresa cumpra o compromisso assumido de pagar a dívida com as famílias. “Estamos nas ruas porque há quase um ano várias reuniões são feitas, mas as famílias não ouvem uma resposta clara sobre quais serão os próximos passos, quais as ações concretas que a empresa pretende fazer para resolver os problemas que as barragens causaram”, afirma Pablo Dias, membro da coordenação do MAB.

Carmelita do Carmo, outra atingida na região, também cobra urgência nas ações prometidas. “Estamos há muitos anos sofrendo com os prejuízos destas barragens. E depois de muito lutar, vários dos nossos amigos foram a reuniões, ouviram as promessas da empresa e morreram sem ver os resultados. Chega de perda de tempo. Queremos que receber nosso direitos enquanto todos estão vivos e com condições de viver bem com esta conquista”, conclui emocionada.

Os manifestantes percorrem as principais ruas da cidade com falas de denúncia, músicas e gritos de ordem reafirmando que o movimento continuará mobilizado para garantir os direitos das famílias. Esperam, agora, que a Brookfield Energia Renovável agilize o processo e apresente uma proposta sobre como vai pagar a dívida com os atingidos.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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