Ministério Público Federal recomenda que governo de SP implemente racionamento de água imediatamente
O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que apresentem projetos para a imediata implementação […]
Publicado 30/07/2014
O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que apresentem projetos para a imediata implementação do racionamento de água nas regiões atendidas pelo Sistema Cantareira.
Em nota, a SABESP respondeu:
Embora reconheça a importância institucional do MPF, com o qual sempre colabora, a Sabesp discorda frontalmente da imposição de um racionamento. A medida penalizaria a população e poderia produzir efeitos inversos daqueles pretendidos pelos procuradores. São Paulo preferiu enfrentar de forma organizada a maior estiagem de sua história. Os esforços feitos pela população e pela Sabesp até o momento equivalem à economia que se obteria com um rodízio de 36 horas com água por 72 horas sem água, diz a nota da companhia.
Foto: Brasil de Fato/SP
Confira os reais interesses que permeiam esse embate no artigo de Altamiro Borges, do Brasil de Fato.
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“Cantareira pode afogar Alckmin”
O Ministério Público Federal (MPF) divulgou nesta terça-feira (29) uma recomendação para que o governo de São Paulo adote imediatamente medidas de racionamento de água nas regiões atendidas pelo Sistema Cantareira. A proposta visa evitar o colapso no conjunto de reservatórios, que abastece de 8,8 milhões de paulistas. O governador Geraldo Alckmin e a Sabesp têm dez dias para informar as providências a serem tomadas em relação à recomendação. O MPF não descarta a adoção de medidas judiciais caso o governo não atenda à medida, informou o órgão em nota divulgada à imprensa descreve o jornalista Bruno Bocchini, da Agência Brasil.
Irritado, o governador tucano já anunciou que não acatará a recomendação do Ministério Público Federal. Ele tem feito de tudo para empurrar o racionamento para depois das eleições de outubro. Teme que o Sistema Cantareira suba a seu palanque e atrapalhe o sonho da reeleição. O problema é que esta posição eleitoreira que procura camuflar a falta de planejamento e de investimentos no setor nas quase duas décadas de choque de indigestão do PSDB no Estado pode prejudicar ainda mais a população paulista. Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indica que o volume do Sistema Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias.
Para evitar o desgaste eleitoral do racionamento, a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) já concedeu descontos para quem reduzisse o consumo e, desde 15 de maio, passou a captar água do chamado volume morto a reserva estratégica que fica na camada mais profunda dos reservatórios. Estas medidas, segundo o MPF, não resolveram o problema e ainda podem gerar mais transtornos. Neste estrato [do volume morto], estudos apontam maior concentração de poluentes, que incluem metais pesados, compostos orgânicos prejudiciais à saúde, bactérias, fungos e vírus, afirma o órgão. O outro risco é que o uso da reserva afete definitivamente o Sistema Cantareira.
Para piorar, a Sabesp propõe agora retirar uma segunda cota do volume morto para captar mais 116 bilhões de litros de água além dos 182,5 bilhões que já estão sendo sugados. Segundo reportagem do Estadão, esta proposta pode deixar negativo o nível dos reservatórios em 30%. Para Antonio Carlos Zuffo, diretor do departamento de hidrologia da Unicamp, esta ideia lembra o empréstimo bancário no cheque especial. A fatura ficará mais cara em 2015, porque vamos começar o ano no negativo. A crise será ainda pior, explicou ao jornal. O engenheiro ainda confirmou que a medida aumenta o risco de contaminação. A dragagem revolve muito lodo do fundo, onde ficam os poluentes, os metais pesados.
Diante deste cenário dramático, a própria mídia tucana que evitou ao máximo tratar do assunto, prestando um desserviço à sociedade agora dá sinais de preocupação. Em editorial na quinta-feira passada (24), a Folha confirmou que o perigo do racionamento de água já virou conversa de elevador dos moradores da região metropolitana de São Paulo. O jornal até insiste em culpar São Pedro pela estiagem incomum, evitando criticar a falta de planejamento e investimentos dos governos do PSDB e a postura eleitoreira de Geraldo Alckmin. Mesmo assim, a Folha conclui que se não chover até outubro, o tucano corre o risco de ver os paulistas debatendo o voto no elevador.
Por Altamiro Borges