A Curiosa Preocupação da Direita de que o Plebiscito Popular desvie as Manifestações
Antigos tratados militares sempre ensinam que não é fácil identificar o inimigo, pois parte do seu esforço será sempre de se esconder. É uma lição válida para a luta política. […]
Publicado 07/02/2014
Antigos tratados militares sempre ensinam que não é fácil identificar o inimigo, pois parte do seu esforço será sempre de se esconder. É uma lição válida para a luta política.
por Ricardo Gebrim, dirigente da Consulta Popular
No Brasil, as forças populares possuem um precioso mecanismo de saber qual é a posição do inimigo. Basta ler a Revista VEJA. Se ela te atacar, saiba que está no caminho certo, mas, caso te elogie, comece a se preocupar…
A Revista VEJA lança o artigo: “Plebiscito – O Golpe da Consulta Popular”, no qual ataca a iniciativa de mais de 160 dos principais movimentos sociais e organizações de esquerda em construir um Plebiscito Popular em setembro, com uma única pergunta: “você é a favor da convocação de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político?”. Até aí, nada demais. Apenas a comprovação de que essa proposta incomoda demais as forças de direita.
O curioso é um dos argumentos utilizados. O objetivo do Plebiscito é o de “desviar o foco das manifestações e servir ao projeto de poder do PT.”
Estranho. O que seria o “foco” das manifestações? Por que o principal porta voz do pensamento da direita está tão preocupado que “não se desvie o foco” das manifestações?
Não é preciso muito para perceber que o pavor da direita é que a juventude que saiu às ruas em junho de 2013, com uma clara insatisfação com o atual sistema político brasileiro, assuma uma bandeira clara como a da Constituinte do Sistema Político.
Se isso ocorrer, a grande mídia não conseguirá promover a mesma disputa política e ideológica de junho de 2013, cujo exemplo maior foi a “luta contra a PEC 37”.
A direita sabe que o descontentamento com a falência do atual sistema político esteve presente nos milhares de pequenos cartazes, palavras de ordem e pichações. Sabe que uma palavra de ordem como a Constituinte Soberana do Sistema Política pode ganhar força e tornar-se uma ameaça real ao seu poder.
Para tanto, utiliza a tese de que a bandeira da Constituinte é um mero jogo do PT para manter-se no governo. Ou, nas suas palavras: “servir ao projeto do PT”. Ignoram, propositalmente que a campanha é muito mais ampla e que congrega a maior parte das forças de esquerda. Querem, claramente, impedir que a juventude disposta a lutar não se aproprie de uma bandeira política.
Este será um grande debate político ideológico para as forças de esquerda. A Revista VEJA já mostrou a linha política que utilizarão.
Aprendemos nas jornadas de junho de 2013 que a direita aprendeu a disputar com as forças de esquerda os mesmos metros quadrados nas manifestações. Este ensinamento deve ser incorporado na tática das forças populares. Provavelmente se repetirá nas novas manifestações que o ano promete.
O temor de que a insatisfação ainda difusa da juventude com o sistema político se traduza numa palavra de ordem que ameaça seus interesses deixa claro que combaterão ao máximo essa campanha, tentando sempre mostrá-la como algo que serve eleitoralmente somente ao PT e não ao conjunto das forças interessadas em aprofundar a democracia.
Não se pode vacilar neste debate. Nunca, em nenhuma situação histórica, a lógica política da esquerda pode coincidir com a do inimigo. E, afinal como diziam os velhos sábios chineses, quem não sabe contra quem luta, jamais poderá vencer.